C.05

A Primeira Ameaça

A carta chegou pela manhã, deixada discretamente em uma bandeja de prata por um dos funcionários da mansão. Sem remetente, sem marca de postagem. Só o envelope preto, com o nome de Adam em letras vermelhas. Quando ele abriu, o papel exalava perfume amadeirado e um tom de deboche que acendeu sua fúria.

> “Então a namoradinha modelo está de volta...

Você a escondeu por quase dois anos, e para meu triunfo: um herdeiro.

Meu amigo, você cavou a cova da sua namoradinha e do seu nenê.

Obrigada. Você caiu na minha isca.

Assim começa o seu pesadelo.”

Adam amassou o papel com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos. Seus olhos azuis estavam vermelhos de raiva. Ele saiu do escritório com passos firmes, ligando para seu chefe de segurança.

— Quero rastrear tudo. A câmera da frente, o interfone, entregas… descubram como essa carta entrou aqui e por quem. Agora! — rugiu.

Leonor o viu no corredor, visivelmente transtornado. — O que aconteceu?

Ele hesitou, mas entregou a carta nas mãos dela. Ao ler, o rosto de Leonor empalideceu.

— Ele sabe da gente… sabe do Matteo…

— E ele quer nos atingir. Mas agora, Leonor, ele mexeu com a única coisa que eu jamais vou permitir perder.

---

Enquanto isso, a mídia enlouquecia.

> “Leonor retorna com mistério e bebê nos braços.” “Modelo some por quase dois anos e aparece com magnata e filho: segredo revelado?” “Ela vai voltar às passarelas? Quem é o pai?”

Na mansão, Leonor sabia que precisava assumir o controle da própria imagem. Por mais que quisesse proteção, ela não podia mais viver escondida. Então, com Matteo dormindo, ela se sentou no quarto iluminado pelo pôr do sol, ligou o celular e abriu o Instagram.

Gravou alguns stories com calma, usando sua voz firme, mas suave, como sempre. Seu rosto estava sereno, e havia um brilho materno em seus olhos.

— Oi, meus amores. Eu sei que estive ausente por muito tempo, e agradeço o carinho de vocês. Sim, estou de volta. Tirei um tempo pra mim, pra descansar, cuidar da minha vida pessoal. Estou bem. Estou em paz. E, sim, pretendo voltar — disse, deixando no ar se era à passarela ou à vida pública. — Por enquanto, só posso dizer… obrigada por não terem me esquecido.

Os stories viralizaram em minutos.

Leonor está de volta. Mas por quanto tempo antes que o inimigo de Adam tente atacar novamente?

---

Na manhã seguinte aos stories de Leonor, a mansão virou alvo de câmeras, drones e perguntas gritadas além dos muros.

Jornalistas se amontoavam nos portões da frente, flashes estourando como relâmpagos constantes. Alguns até se infiltraram em veículos de entrega, tentando capturar qualquer imagem de Leonor ou do bebê. A mídia havia cheirado sangue — ou melhor, uma boa história.

— Senhor Adam, eles tentaram escalar o muro dos fundos — informou um dos seguranças. — Precisamos agir.

Adam observava tudo da sacada, os olhos estreitos, o maxilar travado. Matteo estava em seus braços, tranquilo, alheio ao caos do mundo lá fora. Mas Adam sabia: essa calma era uma ilusão passageira.

— Chegou a hora. Vamos sair daqui. — Sua voz era baixa, mas firme como aço.

Leonor, que observava de dentro, assentiu em silêncio. Ela sabia que isso era necessário. Por mais medo que tivesse daquele mundo obscuro que rondava Adam, agora ela entendia que sua prioridade era Matteo — e mantê-lo seguro significava confiar naquele homem, mesmo em meio aos próprios traumas.

---

Ainda naquela tarde, com o plano de fuga armado em minutos, eles deixaram a mansão pelos túneis subterrâneos que Adam mantinha para situações de risco.

Carros blindados os esperavam. O motorista não sabia o destino. Só Adam.

Horas depois, chegaram ao refúgio: uma casa de campo em um terreno enorme e isolado, protegida por tecnologia de ponta, seguranças armados e monitoramento 24h. Ali, longe da cidade, da mídia e dos inimigos, Leonor respirou fundo pela primeira vez em dias.

— Isso aqui... parece outro mundo — ela murmurou, com Matteo no colo, sentindo o cheiro do mato e o silêncio absoluto, quebrado apenas pelos passarinhos e o som de vento entre as árvores.

Adam se aproximou por trás, envolveu-a em um abraço e sussurrou:

— Eu falhei contigo uma vez. Mas agora, nem o inferno me impede de proteger você e nosso filho.

Ela não respondeu, apenas fechou os olhos. Uma parte de si ainda lutava contra tudo aquilo, contra o medo, a mágoa, o passado. Mas outra parte... aquela que sempre acreditou naquele amor, desejava baixar a guarda.

---

Enquanto isso, na cidade, a mídia seguia em surto. Os stories de Leonor haviam batido recorde de visualizações. Sites de fofoca, programas de TV e colunistas tentavam descobrir onde ela estava. Um helicóptero sobrevoou a mansão deserta. Nada.

Mas o inimigo de Adam não estava de olhos vendados. sorria diante da tela.

— Eles fugiram, mas não desapareceram. Eu vou encontrá-los. E quando eu encontrar... será minha vez de entrar em cena

---

O refúgio era silencioso, seguro e cercado por natureza. À noite, o céu era tão limpo que dava para ver cada estrela. Ali, Leonor começava, aos poucos, a respirar com menos medo — embora o coração ainda guardasse feridas.

Na varanda de madeira, ela embalava Matteo no colo enquanto Adam a observava de longe, encostado na porta, com uma xícara de café esquecida nas mãos. O bebê dormia com o mesmo jeitinho dele: testa franzida e os lábios levemente entreabertos.

— Ele parece comigo, não é? — Adam perguntou, se aproximando devagar.

Leonor assentiu, sem desviar os olhos do filho.

— É. Tem os teus olhos... e o teu silêncio também.

Adam sorriu de leve. Sentou ao lado dela, respeitando o espaço. Por alguns segundos, o som dos grilos e do vento entre as árvores preencheu o ar.

— Por que nunca me contou? — ele perguntou, baixinho. — Sobre o bebê...

Ela respirou fundo, os olhos marejando.

— Porque eu estava apavorada, Adam. — A voz saiu trêmula. — Descobri que estava grávida dois dias depois que fugi. Eu... eu olhava pro teste e tremia. Tinha medo de que esse bebê herdasse não só o teu rosto, mas também os teus segredos.

Adam fechou os olhos por um segundo, como se fosse atingido no peito.

— Eu não queria fugir. Mas como eu ia confiar num homem que chegou em casa coberto de sangue? Que escondeu um mundo inteiro atrás de paredes falsas?

— Eu sei... — ele murmurou. — E você tinha razão. Eu devia ter te contado tudo antes. Mas eu tinha medo... medo de te perder. E mesmo assim, perdi.

Leonor o encarou. Pela primeira vez em muito tempo, os olhos deles se cruzaram sem barreiras. Sem máscaras.

— Eu chorei todas as noites, sozinha, grávida... com medo de cada batida na porta. Tive que aprender a ser mãe enquanto fugia de você. E mesmo assim... mesmo assim, eu nunca consegui parar de te amar.

O silêncio que se seguiu foi cheio de emoção.

Adam tomou coragem, pegou a mão dela com delicadeza.

— Leonor... me deixa cuidar de vocês agora? Eu posso não ser perfeito, mas sou teu. E sou do Matteo também. Tudo o que eu tenho é de vocês.

Ela deixou as lágrimas caírem sem resistência.

— Eu ainda estou ferida, Adam. Ainda tenho medo... Mas talvez seja hora de parar de fugir.

---

Naquela noite, Leonor dormiu nos braços dele, com Matteo no berço ao lado. Era um começo. Uma tentativa de reconstrução.

Mas do lado de fora, longe dali, alguém observava uma tela, onde fotos antigas de Leonor desfilavam uma a uma.

— Ah, minha querida... o palco está montado. E quando as luzes se acenderem, vocês vão desejar nunca ter voltado.

---

Leonor passou os dedos pelo tecido macio do vestido de seda clara. Aquela era a primeira vez, em quase dois anos, que estava num estúdio de fotografia. Não como modelo oficialmente contratada – ainda não. Mas como convidada especial, para um ensaio intimista, organizado por Martina, que queria ajudar a melhor amiga a redescobrir sua força.

— Não se preocupa com o mundo, Leonor. Só com você e esse pacotinho que mudou tudo — disse Martina, ajeitando delicadamente o pequeno Matteo no colo da mãe.

O bebê estava com quase sete meses, e seus olhinhos azuis – herdados do pai – brilhavam curiosos enquanto Leonor sorria para ele, sentada num banco branco sob a luz suave do estúdio.

O clique da câmera soou.

Depois outro.

E mais um.

Era como mágica. A mulher que fugiu grávida e assustada, que passou meses se escondendo, agora estava ali... com os cabelos soltos, vestida com elegância, e com um filho nos braços.

— Você ainda é uma estrela, sabia? — disse a fotógrafa, emocionada. — E esse brilho... ele agora vem de dentro.

Leonor sorriu, mas os olhos marejavam.

— Eu só quero que meu filho saiba quem eu sou de verdade. Que veja que sua mãe foi forte. E que, mesmo com medo, enfrentou tudo por amor.

Martina, atrás do cenário, apertou a mão contra o peito. Ela sabia: Leonor ainda amava Adam. Mas também sabia que não era fácil amar um homem como ele, entre luz e escuridão.

---

Naquela noite, enquanto folheava as fotos no tablet, Leonor sentiu um calor no peito. Matteo dormia, respirando calmo, agarrado ao dedo dela. Um pequeno ser que não sabia da luta que se armava no mundo adulto. E Adam, do outro lado da mansão, ainda lidava com as sombras que voltavam a cercar sua família

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Comments

Maria Silva

Maria Silva

interessante

2025-04-24

1

marlene morais

marlene morais

Impressionante.

2025-04-23

1

Ver todos

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