Entre Silêncios e Confissões
Leonor abriu a porta do pequeno apartamento com o coração apertado. Cada passo que Adam dava atrás dela era como uma avalanche de lembranças, promessas quebradas e sentimentos não resolvidos.
Matteo, alheio à tensão, balbuciava palavras desconexas, enquanto segurava firme um brinquedo de pelúcia. Adam não conseguia tirar os olhos dele — era como olhar para um espelho do passado.
— Pode sentar — disse Leonor, tentando manter a voz firme enquanto o colocava no cercadinho da sala. — Quer água? Café?
— Só quero ouvir você.
Ela respirou fundo, cruzou os braços e se encostou no batente da porta. — Eu estava com medo, Adam. Não só por mim, mas por ele. Eu te amava tanto que quando descobri quem você realmente era, eu entrei em pânico. Parecia que tudo tinha sido uma mentira.
— E não foi. Eu te amei com cada parte que ainda era humana em mim. Mas eu não soube como te contar… Eu nunca soube como seria olhar nos seus olhos e admitir o tipo de homem que eu era — ele pausou, a voz embargada. — E perdi você por isso.
— Você perdeu porque mentiu. Escondeu uma vida inteira debaixo de máscaras. E eu não podia aceitar isso, não com um filho crescendo dentro de mim.
Adam passou a mão pelos cabelos, se aproximou devagar de Matteo, ajoelhando-se ao lado do cercadinho. O bebê o observava com curiosidade, e quando Adam estendeu a mão, Matteo agarrou seu dedo com força.
— Ele é a coisa mais linda que eu já vi. O melhor de mim e de você juntos.
Leonor olhava aquela cena com o peito apertado. Era tudo o que ela quis por meses: que o pai de seu filho estivesse ali. Mas o medo ainda falava mais alto.
— Eu não sei se consigo confiar em você de novo, Adam.
— E eu não vim aqui exigir nada. Só quero merecer uma chance de estar presente na vida dele. Nem que eu precise ficar do lado de fora dessa porta todos os dias pra ver ele sorrir.
Ela sentou-se no sofá, derrotada pelas emoções. — Você parece outro homem.
— Porque perder você me quebrou. Eu deixei de ser quem eu era. Pela dor… e por amor.
O silêncio caiu entre eles, pesado, intenso. Até Matteo soltar uma gargalhada e bater palminhas, como se quisesse costurar o que estava despedaçado.
Adam sorriu. Leonor chorou.
— Você quer ficar uns dias aqui? — ela perguntou de repente, surpresa até por si mesma.
— Não quero invadir seu espaço…
— Só… fique. Pelo Matteo.
Ele assentiu. Mas dentro do peito, a esperança reacendia: talvez aquele convite fosse também pelo amor que ainda vivia ali, mesmo ferido.
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Os dias que seguiram foram estranhos… e doces. Leonor ainda acordava com o coração apertado, às vezes se lembrando do sangue nas mãos de Adam, da arma, da sala secreta. Mas, ao sair do quarto e vê-lo no chão da sala brincando com Matteo, uma parte dela amolecia.
Adam não forçava nada. Dormia no sofá, ajudava com o bebê, fazia o café da manhã. Nunca passava dos limites. Mas estava presente. Completamente. Diferente do magnata seguro de si, ele era só um homem tentando consertar o que um dia quebrou.
Naquela manhã, enquanto Matteo tirava uma soneca no berço, Leonor o encontrou lavando a mamadeira na cozinha. A imagem, simples e cotidiana, parecia absurda vinda de um homem como ele.
— Você... tá ficando bom nisso — ela disse, quebrando o silêncio.
Adam sorriu, mas não olhou para ela. — Tenho assistido vídeos na internet. Sobre bebês. Fraldas, sono, papinhas… Tô tentando aprender.
Ela encostou na bancada, o olhar pousando nele como se o visse pela primeira vez de novo.
— Eu achei que você fosse tentar me convencer a voltar. Mas... você só ficou.
— Porque dessa vez, Leonor, eu não quero te pressionar. Só quero te mostrar quem eu sou agora. Mesmo que eu nunca mais tenha seu amor, eu quero que nosso filho tenha meu melhor.
A sinceridade nos olhos dele era como um soco no estômago. Ela desviou o olhar.
Naquela tarde, foram ao parque. Adam carregava Matteo no colo com uma desenvoltura quase natural. As outras mães olhavam curiosas. Leonor observava de longe, sentada no banco. O sol caía atrás das árvores e o riso de Matteo preenchia o ar.
Ela fechou os olhos por um segundo. A cena parecia um sonho. Um que ela não sabia se podia permitir-se viver de novo.
De noite, já de pijama, ela viu Adam dormir no sofá — exausto, o corpo grande espremido. Cobriu-o com uma manta, e ele abriu os olhos devagar.
— Eu... — ela hesitou — Obrigada por hoje.
— Eu faria isso todos os dias, Leonor. Por vocês.
Ela se afastou em silêncio, mas antes de entrar no quarto, virou-se e disse:
— Boa noite, Adam.
E pela primeira vez desde que se separaram, ele sorriu com o coração leve.
— Boa noite, meu amor.
Ela não o corrigiu.
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O Preço da Paz
Adam estava em silêncio há horas. O semblante tenso, o maxilar travado. Leonor, que preparava uma mamadeira para Matteo, percebeu a mudança no ar antes mesmo dele dizer qualquer coisa. Quando ele finalmente falou, a voz era baixa, mas carregada de urgência.
— Eles sabem, Leonor… do nosso filho.
Ela deixou a mamadeira cair. — Quem...?
— Ele descobriu. Ainda não sei como, mas recebi o alerta de um dos meus informantes. Isso não é mais sobre mim. É sobre vocês.
O medo voltou como uma tempestade, sufocante. — O que a gente faz?
— A gente volta pra casa. Pra minha casa. Onde tenho controle, segurança, proteção. Aqui, vocês estão expostos. E eu não vou permitir que toquem em um fio de cabelo seu ou do Matteo.
Leonor hesitou. Ela tinha fugido daquela mansão, daquele mundo. E agora voltaria? Por um momento olhou o bebê no berço, tão pequeno e inocente. Ela já não tinha o luxo do medo. Tinha um filho. Tinha algo — alguém — a proteger acima de tudo.
— Tá... tá bem. A gente vai com você.
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O carro que os buscaria era preto, blindado, vidros escuros. seguranças à paisana os acompanhavam. Enquanto saíam do aeroporto onde Leonor segurava Matteo com força contra o peito, usando óculos escuros e capuz. Adam carregava uma mochila com os itens do bebê e olhava para todos os lados.
Mas nada passa despercebido para fãs atentos.
Um casal que caminhava do outro lado da rua congelou ao ver a silhueta inconfundível de Leonor. E ao perceberem Adam — o magnata misterioso, sempre nos tabloides — segurando o bebê enquanto entravam no carro, a conexão foi feita na hora.
Fotos foram tiradas. Vídeos gravados.
Em menos de uma hora, as redes sociais estavam em polvorosa.
> “Leonor está de volta?” “Ela sumiu por quase dois anos e reaparece com um bebê?” “Adam, o magnata enigmático, é o pai da criança eles tem um bebê?” “Rosto do bebê ainda não foi revelado, mas fontes dizem que ele se parece com Adam.”
A mídia estourava como fogos. Sites de fofoca, páginas de moda, perfis de fãs. Todos queriam saber onde ela esteve, de quem era o bebê, se o romance secreto tinha voltado.
Na mansão, Leonor observava tudo pela televisão, os olhos arregalados. — Isso vai chamar atenção demais, Adam!
— Eu sei — ele respondeu, tenso. — E é exatamente isso que me preocupa. Eles não vão parar até saber onde você está… e nem meus inimigos.
Ela sentou no sofá, o bebê no colo, e respirou fundo.
— Então o que a gente faz agora?
Adam a olhou com a intensidade de quem carregava o mundo nas costas.
— Agora... a gente luta juntos.
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Comments
Alexsandra Sousa
autora ,não fala como ele a encontrou,
2025-04-25
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