— O que você tá fazendo aqui? Era pra estar lá dentro com a Erika! — Exclamo, meio surpresa, meio indignada, com os braços cruzados e a sobrancelha arqueada do jeito que ele sabe que significa "não me irrita, Arthur".
Ele, encostado no capô do carro como se estivesse numa cena de comercial de perfume, apenas ergue o olhar pra mim com aquele ar despreocupado e insolente.
— Eu prometi que ia te levar pra casa. E eu sou um homem de palavra. — Responde com aquele sorrisinho safado que dá vontade de bater e beijar ao mesmo tempo.
— Arthur...
— Sem mais! — corta ele, já pegando a minha mão com firmeza e me arrastando como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Ei! Eu ainda tava reclamando! — Protesto, mas ele ignora lindamente.
Entro no carro, meio bufando, meio... derretendo. Porque ele tem esse dom irritante de me tirar do sério e me deixar com borboletas no estômago ao mesmo tempo. Ele liga o carro, coloca uma playlist qualquer — provavelmente feita pra parecer aleatória, mas que tem trilha sonora estratégica pra nos provocar.
— Vai dormir no meio do caminho igual a velha que é ou vai me dar o prazer da sua companhia insuportável? — Ele provoca.
— Eu deveria cobrar cachê pra aguentar você, sabia?
Começamos nosso clássico duelo de provocações. Ele me chama de "gnomo malcriado", eu retruco chamando ele de "energúmeno desnecessário". Brigamos sobre a música, sobre o jeito que ele dirige, até sobre o nome do cachorro da vizinha. Qualquer coisa serve de munição. Mas, conforme o carro avança pela noite, meus olhos vão ficando pesados. E, antes que perceba, apago com a cabeça encostada no vidro.
Quando abro os olhos, estamos parados em frente à minha casa. Arthur tá me encarando com um sorrisinho cínico, claramente se divertindo com a cena.
— O que foi? — Pergunto, ainda grogue.
— Nada... só queria avisar que chegamos, Bela Adormecida. Pena que não deu tempo de te dar um beijo pra quebrar o feitiço.
— Ah, obrigada, seu príncipe do sarcasmo. — Retruco, revirando os olhos.
— A propósito... queria te perguntar uma coisinha.
— Lá vem bomba. Fala.
— Tá afim de ir comigo pra casa na praia amanhã?
— Pra quê? Começar o culto da irresponsabilidade?
— Combinei com o pessoal de fazer uma social. Só gente boa. Cerveja gelada. Pôr do sol. Eu. — Diz, apontando pra si mesmo com uma piscadinha.
— Meu Deus, como você sobrevive com tanta farra?
— Relaxa, gnomo. A vida tá só começando. — Diz ele, como se tivesse 19 e não um CEO multimilionário com contas, pressões familiares e um ego do tamanho da praia que ele tá me convidando pra ir.
— Gnomo é o escambau! Energúmeno!
Ele ri alto e abre minha porta como um cavalheiro irônico.
— Sai, vai. Vai descansar. Vou precisar de muita energia pra aturar suas crises existenciais amanhã.
— Grosso! — Resmungo, saindo.
— Amanhã, às 8h. Vou passar aqui.
— Eu não disse que ia!
— Eu também não perguntei.
— E se eu não for?
Ele se aproxima, o rosto perigosamente perto, com aquele sorrisinho de quem sabe exatamente onde cutucar.
— Eu conto pros seus pais com quem você ficou semana passada.
Fico em choque por um segundo.
— Você... você não teria coragem.
— Quer pagar pra ver?
Cruzo os braços, ofendida e derrotada.
— Aff... vai dormir, pestinha!
Ele ri, dá partida no carro e vai embora como se não tivesse acabado de me chantagear emocionalmente com um charme infame. Entro em casa, ainda meio indignada. Meus pais estão na sala vendo TV. Tento passar despercebida e dou um susto neles — minha revanche por todas as piadas ruins que ouvi na vida. Mas, em vez de susto, eles caem na gargalhada.
— O que foi? — Pergunto, confusa.
— Filha... olha a sua cara! — Diz meu pai, apontando, quase caindo do sofá.
Corro pro banheiro e me encaro no espelho. “Gnomo” está rabiscado na minha testa com canetinha. Um bigode e óculos completam a obra digna de um Picasso bêbado. Meu celular vibra. Mensagem de Arthur:
“A propósito, você fica linda de bigodinho ;)”
Filho da mãe. Amanhã ele me paga.
Tomo banho, caio na cama e nem me dou o trabalho de colocar o despertador. Mas, claro, sou acordada por uma buzina nervosa e vozes gritando como se estivessem em um trio elétrico. Abro a janela e vejo uma Kombi toda decorada com fitas e piscas coloridos. Dentro: Julia, Pedro, Miriam... e Arthur, acenando como se fosse Miss Simpatia.
Olho o relógio. Seis. DA. MANHÃ.
— VOCÊS FICARAM LOUCOS?! — Grito.
Minha mãe sai enfurecida, ameaça jogar água gelada neles e eu quase choro de tanto rir.
Arrumo minhas coisas às pressas e saio ainda meio zumbi.
— Finalmente! — Reclama Júlia, como se eu fosse a atrasada da vida.
Arthur vem ajudar com a mala. Tento fingir que não gosto, mas... gosto.
Entro na Kombi e pego o banco do fundão. Ele liga o carro com entusiasmo de DJ de rave.
— É sábado, seus doidos! Tudo o que eu queria era dormir! — Digo entre risos.
— Relaxa aí, princesa. Aproveita a viagem! — Diz Pedro, em tom debochado.
— Não começa, Pedro, que eu puxo teu cabelo! — Ameaço.
— Que cabelo? — Diz Júlia, e a gente estoura numa gargalhada cúmplice, batendo as mãos.
Pedro finge indignação.
— Tá vendo, Arthur? As duas se aliaram contra mim!
— Relaxa aí, Pedro. E curte a viagem! — Imito ele, e Pedro fica de queixo caído.
Cantamos alto, desafinamos de propósito, e eu aproveito o momento de empolgação geral pra me esconder debaixo da coberta e dormir um pouco.
Até que acordo com vozes exaltadas.
— O que tá acontecendo?
— O LINDO do Arthur esqueceu de ver se a lata velha tinha água! — reclama Pedro. — Já imagino as manchetes: “CEO da Perfect Aroma é encontrado em meio à estrada, rodeado por jovens desnutridos e uma Kombi exausta.”
Arthur dá um tapa na cabeça dele.
— Me respeita, moleque!
— Seis peitos tem uma vaca! — Devolve Pedro.
— Vocês parecem crianças do quinto ano! — Suspira Júlia, já sem fé na humanidade.
— Enquanto vocês resolvem essa palhaçada, eu vou tirar meu cochilo da beleza. — me ajeito de novo, mas sinto a porta abrir.
De repente, meus pés estão sendo puxados.
— O QUE TÁ FAZENDO?! — grito ao ver Arthur me arrastando pra fora. — ISSO É AGRESSÃO! SOCORRO, JÚLIA!
Ela só dá risada, traidora.
— Acha mesmo que vai ficar de boa enquanto eu me lasco tentando arrumar o carro?
— Sim! Você é o culpado!
— Ingrata!
— Grosso! Solta meu pé ou eu te mato com a força do meu ranço acumulado! Vai ser “O curioso caso do CEO assassinado pela social media exausta”.
Ele me solta, rindo, e eu volto triunfante pra minha coberta.
Adormeço de novo e, quando abro os olhos, já estamos na praia.
— Acordou, princesa do pântano? — provoca Pedro.
— Não, ainda tô dormindo! Não está vendo? — Resmungo.
— Ela ainda acorda estressada!
— Claro, depois de ver essa sua cara feia logo cedo!
— Ei, ei, por que tanta agressividade? Se for brigar... se matem! — Completa Arthur.
— Ah, meu grupinho disfuncional preferido. Orgulho define! — Diz Júlia, saindo da Kombi.
Descemos, cada um com sua mochila, e eu olho pra mansão à nossa frente. Linda, imponente, com vista pro mar. Por mais que já tenha estado aqui antes, ela sempre me faz prender o fôlego.
E me faz sonhar.
Uma vida tranquila. Uma rotina serena. O homem certo. Dois filhos correndo pela areia, com os pés descalços e os corações livres. Um abraço quente ao pôr do sol. Talvez um “eu te amo” sussurrado sem medo.
Sou arrancada desses pensamentos quando Arthur aparece do meu lado. Seu perfume me invade antes mesmo da voz.
— Essa casa... ela faz a gente sonhar, né? — diz, olhando o mar como se escondesse os próprios desejos ali.
E, por um segundo, eu não consigo dizer nada. Porque sim... faz. E talvez, só talvez... eu esteja sonhando com ele também. Mas balanço a cabeça na tentativa de afastar esses pensamentos.
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Atualizado até capítulo 60
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