Teias que Sussurram
Antes que ele pudesse formular outra pergunta, um movimento atrás deles atraiu sua atenção.
Ele se virou, sentindo uma estranha sensação de que algo se aproximava, mas sem saber exatamente o quê. Quando a sombra se formou, o ar pareceu gelar.
Arthur apareceu de repente, como se tivesse surgido da própria penumbra. Ele não fez barulho ao se aproximar, mas sua presença era inegável. Ele estava com o grimório em uma das mãos, a capa negra arrastando pelo chão, e seu olhar fixo em Elías tinha a intensidade de quem sabia mais do que estava disposto a dizer.
Arthur
Você não entendeu, não é? As palavras não são apenas símbolos. Elas são seres. São forças.
A voz de Arthur soou com uma autoridade que Elías não podia ignorar. Não era apenas uma explicação, era uma sentença. Ele sabia que não poderia escapar daquilo.
Elías engoliu em seco, sentindo a tensão no ar. Não sabia como Arthur tinha chegado até ali, mas não se atreveu a perguntar. Ele já sentia que tudo ao redor deles estava se movendo com uma vontade própria.
Elías
O que você quer dizer? O que são essas... forças?
Arthur se aproximou, os olhos escurecendo como se contivessem séculos de segredos não ditos. A voz dele soou baixa, mas carregada, como um trovão abafado prestes a romper o silêncio.
Arthur
Não se engane. Você acha que controla as palavras, mas elas controlam você.
Arthur
Quando você escreve, você não está apenas criando. Você está... despertando
Ele ergueu o grimório, e por um instante, as runas em sua capa brilharam com uma luz indecifrável, como se o próprio livro respirasse.
Arthur
As palavras carregam ecos. Não são só marcas em papel — são portais. Cada frase pode abrir caminho para algo antigo.
Arthur
As forças são aquilo que vive por trás da linguagem: vontades, entidades, lembranças que se tornaram carne. Algumas dormem sob a terra desde antes do primeiro nome. Outras sussurram, esperando alguém que as escute... alguém como você
Elías sentiu o estômago afundar, como se estivesse caindo em um poço sem fundo.
Arthur
Você pode ser o Cronista, mas isso não faz de você o mestre.
Arthur
Está lidando com algo mais vasto, mais perigoso do que imagina. Escrever... é invocar. Cada palavra pode ser uma chave — ou uma lâmina.
Eri cruzou os braços, a expressão rígida.
O tom dela, ao falar, perdeu a suavidade que antes tentava manter.
Eri
Sempre o mesmo discurso Arthur
Eri
Sempre tentando amedrontar os novos como se isso fosse nobreza. Como se você fosse diferente daqueles que caíram.
Arthur lançou um olhar torto para ela, sem sorrir.
Arthur
E você, Eri, sempre tentando protegê-los com meias verdades.
Arthur
Como se esconder partes do quebra-cabeça fosse impedir que as peças sangrem.
Elías olhou de um para o outro, confuso.
Eri
Mais do que eu gostaria.
Arthur sorriu de lado, um gesto sem humor, como quem saboreia um veneno já conhecido.
Arthur
Pouco demais para o que importa.
Elías olhou de um para o outro. O jeito como se encaravam — como se cada palavra dita fosse uma cicatriz — deixava claro que havia mais ali do que simples discordância. Era como se suas histórias estivessem entrelaçadas, mas em lados opostos de uma mesma ferida.
Eri
Ele era... um Cronista. Como você.
Eri
Mas diferente de você, ele quis escrever tudo. Mesmo o que não devia.
Arthur deu um passo à frente, e o grimório em sua mão pareceu se agitar, como se captasse a tensão.
Arthur
As palavras não servem para serem trancadas.
Arthur
Elas vivem, respiram. Se você as cala... elas apodrecem.
Arthur
E quando apodrecem, se tornam monstros.
Os dois se fitaram por um instante longo e amargo. Havia um mundo inteiro naquele olhar — acusações que não precisavam ser ditas, erros antigos, talvez até perdas que nenhum dos dois sabia como enterrar.
Elías
Vocês... eram aliados?
Arthur desviou o olhar, como se a pergunta tivesse o ferido mais do que esperava.
Arthur
Fomos palavras escritas no mesmo pergaminho.
Arthur
Mas o tempo apaga linhas. Algumas por escolha. Outras por necessidade.
Eri não disse nada, mas seus olhos estavam marejados. Ela virou o rosto, encarando as runas na parede como se fosse mais fácil lidar com enigmas do que com fantasmas.
Elías
Por que vocês me escolheram?
Eri
Eu não escolhi ninguém.
Eri
As palavras escolheram você. E elas não erram.
O silêncio voltou, mas agora ele pulsava com algo mais. Dor, talvez saudade. Ou raiva demais para caber em palavras.
Elías, pela primeira vez, sentiu que havia entrado em uma história muito maior do que ele. E que, de algum jeito, essa história já tinha começado antes mesmo de ele nascer.
Comments
Stéfanie Santos
serei sincera essa história está me confundindo, eu não consigo entender, até agora tudo o que eles falam só me deixar mais confusa, será que dar para explicar de uma forma mais fácil de entender.
2025-04-21
0
✿MISS SHY✿
Nao sei se entendi bem... mais parece que o Arthur e a Eri fizeram parte da mesma história em vida né?
corrija-me se estou errada.. 😅
2025-04-23
1