Ecos da Torre

A torre era viva
Não viva como um ser que respira — mas como um lugar que sente. Cada passo que Elías dava sobre as pedras escuras, sentia o eco reverberar em suas costelas. O chão murmurava. As paredes suspiravam. Era como andar pelo interior de uma lembrança que não era sua.
O corredor era largo, curvo, com inscrições luminosas que ondulavam como água quando ele passava. Não havia janelas, mas uma luz azulada parecia flutuar no ar, feita de poeira e calor. Às vezes, surgiam vultos à beira da visão — silhuetas sem rosto, sentadas lendo, escrevendo, ou chorando.
Eri
Eri
Não olha direto pra eles
Eri
Eri
São só restos de gente que esqueceu como sair
Elías
Elías
Então isso é tipo um... labirinto?
Eri
Eri
Não
Eri
Eri
É tipo um diário com pesadelos presos dentro
Eri
Eri
Mas você vai se acostumar
Eri
Eri
Eu acho
Ele caminhou por mais alguns minutos — ou horas? O tempo era estranho ali dentro. Não sentia fome, nem sede, apenas o pulsar da torre como uma segunda respiração.
Elías
Elías
Isso não é normal. Isso não é... real.
Elías
Elías
Eu devia estar morto. Eu tô morto.
Elías
Elías
Por que eu ainda penso, ainda ando?
Eri
Eri
Porque o que morre é o corpo
Eri
Eri
Mas o eco... o eco continua
Elías parou. Um arrepio percorreu a nuca.
Elías
Elías
Quem é você?
Elías
Elías
Você tá na minha cabeça?
Eri
Eri
Não exatamente
Eri
Eri
Estou em todo lugar onde a torre toca
A cada curva, a torre mudava. Os caminhos não eram fixos. Tudo parecia respirar. Uma porta se abriu sozinha ao lado dele, com um estalo úmido.
Elías
Elías
Eu não quero entrar.
Elías
Elías
Isso parece... errado.
Elías
Elías
Parece um sonho ruim que eu não consigo acordar.
Eri
Eri
É só um lugar entre um fim e um começo
Eri
Eri
Você só tá... no meio
Dentro da sala, as paredes se abriram como páginas virando. Livros flutuavam no centro, suas capas se dobrando ao vento inexistente. Um deles voou até Elías e parou no ar, bem diante de seu rosto. Capa de couro marrom, arranhada. Sem título.
As páginas viraram sozinhas
Primeira página: "Elías morreu em uma terça-feira cinza. Ninguém percebeu o trem parar." Ele recuou. O livro estava escrevendo sobre ele. Com precisão. Com dor.
Elías recuou, tropeçando.
Elías
Elías
Não...
Elías
Elías
Não, isso... isso é sobre mim.
Elías
Elías
Quem escreveu isso?
Eri
Eri
A torre lê os ecos
Eri
Eri
Ela leu você
Elías
Elías
Então ela tá dentro da minha cabeça?
Elías
Elías
Isso aqui tá dentro de mim?!
Ele bateu a palma contra a capa e tentou fechar o livro — mas as páginas continuavam virando sozinhas. Ele começou a ver.
O trilho. O vagão. Seu corpo caído. A mulher que gritou. O menino que nem olhou para trás. Elías tapou os olhos com força.
Elías
Elías
CHEGA!
Elías
Elías
Eu não quero ver isso!
Elías
Elías
Eu já sei o que aconteceu!
Eri
Eri
Mas você ainda tenta negar
Eri
Eri
Aceitar o fim é o único jeito de escrever o próximo capítulo
Elías
Elías
Eu... não quero...
Elías
Elías
Por que eu?
Elías
Elías
Por que eu tô aqui?
Eri
Eri
Porque ainda tem coisas que só você pode contar
Eri
Eri
E a torre só chama quem ainda pode escrever
Elías respirou fundo. Soluçou. Depois, com as mãos tremendo, abriu o livro novamente. Leu. Engoliu cada linha com os olhos ardendo.
"Mas o eco não sumiu. Ele virou palavra. E as palavras nunca morrem por completo." A névoa se dissipou. A sala ficou fria. Silenciosa.
Ele se encostou numa pilastra e deslizou até o chão, o corpo pequeno, encolhido, como se quisesse caber dentro de si mesmo.
Elías
Elías
Eu não consigo...
Elías
Elías
Eu não quero escrever nada.
Elías com a voz trémula disse
Elías
Elías
Isso é invasivo... é horrível...
Elías
Elías
Isso...
Elías
Elías
Isso dói
Queria fugir. Mas seu corpo não se moviam. A névoa novamente começou a encher a sala, saindo das frestas do chão.
E então, ele viu. De novo, a mesma cena
Elías
Elías
Não... não quero ver isso de novo
Elías
Elías
eu...
Elías
Elías
Eu já sei que morri
Elías
Elías
Pra que mostrar de novo?
Eri
Eri
A torre vai mostrar até você aceitar verdadeiramente que morreu
Elías
Elías
isso é cruel
Elías
Elías
eu nem tive chance de me despedir...
Elías
Elías
Nem lembro a última coisa que eu disse pra minha mãe
Ele apertou os olhos. Respirou fundo. E abriu o livro outra vez. Leu tudo. Até a última linha.
Depois de horas vendo repetidamente a cena da sua própriamorte, ele finalmente aceitou.
Elías
Elías
Eu tô perdido.
Elías
Elías
Eu só queria... não sentir mais isso.
Eri
Eri
Você foi corajoso
Eri
Eri
Eles geralmente desmaiam nessa parte
Eri fala tentando o animar
Elías
Elías
Não sei se foi coragem
Elías
Elías
Talvez só cansaço
Elías
Elías
Eu não sei se quero continuar
Elías
Elías
Isso tudo parece um castigo...
Elías
Elías
Como se morrer fosse o começo do sofrimento, e não o fim
Eri
Eri
Ou um convite
Eri
Eri
Você escolhe o que vai ser
O silêncio voltou. Só que agora... reconfortante.
De longe, ouviu um barulho de passos. Mas não eram dele.
Ele se levantou, atento. Os corredores pareciam ter mudado de novo. Uma passagem surgiu entre duas estantes de pedra. E lá, no final, uma luz vermelha pulsava, fraca, como um coração cansado.
Ele seguiu hesitante.
A nova sala era menor. No centro, havia um espelho trincado. Seu reflexo aparecia dividido em três partes: em uma, ele estava mais velho; em outra, ferido; e na última, sorrindo com alguém ao lado que não conseguia identificar.
Elías
Elías
Isso sou eu?
Elías
Elías
Esses são meus futuros?
Eri
Eri
Essa sala mostra os caminhos
Eri
Eri
Mas nunca os nomes
Elías
Elías
E se eu não quiser nenhum desses?
Eri
Eri
Então a torre vai escrever por você
Eri
Eri
E isso geralmente termina feio
Elías estendeu a mão e tocou o espelho. Sentiu algo, como um calor sob a pele. Como se um nome quisesse escapar de dentro dele — mas ele não sabia qual.
Uma voz ecoou. Grossa. Raspada. Desprezo puro.
???
???
Outro rato perdido nas páginas...
???
???
Ótimo
Elías se virou, ofegante. A sala estava vazia.
Elías
Elías
O que foi isso?!
Elías
Elías
Quem tá aí?!
Eri
Eri
Shh
Eri
Eri
Alguém chegou antes de você
Eri
Eri
Ele não gostou muito da ideia de dividir o título de cronista
Elías
Elías
Então tem outro?
Elías
Elías
Outro que... morreu também?
Eri
Eri
Não exatamente
Eri
Eri
Ele veio de outro mundo
Eri
Eri
Mas o coração dele ficou preso no seu antigo mundo
Elías
Elías
E ele... é perigoso?
Eri
Eri
Talvez
Eri
Eri
Ele é solitário
Eri
Eri
E gente solitária demais... às vezes vira perigoso
A sala escureceu por um segundo, o espelho rachou mais uma vez. A imagem do Elías sorrindo desapareceu. Ele levou a mão ao peito.
Elías
Elías
Não... por quê?
Elías
Elías
Era a única imagem que eu queria acreditar
Elías
Elías
Por que essa sumiu?
Eri
Eri
Você ainda pode reescrever isso
Eri
Eri
Mas precisa sair da torre
Eri
Eri
Tá na hora de ver o que existe fora das páginas
Ele assentiu. Não queria mais ficar ali.
Seguiu o corredor até uma porta de pedra que apareceu diante dele como um suspiro. Ao tocá-la, ela se abriu com um som oco.
Do lado de fora, o céu tinha mudado de novo
Agora era cor de âmbar, com nuvens em espiral e o som distante de água.
E havia uma cidade ali.
Meio destruída, meio reconstruída. Feita de metal e pedra antiga, com pontes que se ligavam como teias e torres inclinadas cobertas por plantas de cor púrpura. Criaturas voavam entre os prédios — algumas aladas, outras flutuantes. E pessoas caminhavam com roupas esquisitas, olhos marcados por símbolos, e sorrisos tensos.
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Comments

Stéfanie Santos

Stéfanie Santos

gostei, parece que teremos uma nova aventura pela frente estou ansiosa para o próximo capítulo.

2025-04-19

1

Andressa Silva

Andressa Silva

gostei quando sai novos capítulos?

2025-04-20

0

Swartwolf Reddyfox

Swartwolf Reddyfox

Amei, continuaaa!!!

2025-04-18

2

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