O Homem Antes do Trono
A noite caiu pesada sobre o palácio. O céu limpo revelava um oceano de estrelas, mas dentro de Shake, o mundo estava mergulhado em sombras antigas. Depois do beijo, do toque e da confissão, o silêncio entre ele e Elias se tornara diferente — não era distância, era peso.
Na biblioteca antiga, cercado por estantes que guardavam mais segredos do que livros, Shake serviu dois copos de uísque e entregou um a Elias.
— Hoje... vou te mostrar o que ninguém mais conhece.
Elias não disse nada. Apenas sentou-se ao lado dele no sofá de couro escuro, atento. Esperando.
Shake olhou para a lareira acesa. O fogo refletia nos olhos dele como relâmpagos no deserto.
— Eu não nasci para o trono. Era o segundo filho. Meu irmão, Amir, era o herdeiro. Calmo, justo... amado. Eu era o instável. O ambicioso. — Ele sorriu com amargura. — E também o que mais amava em silêncio.
— Você amava seu irmão? — Elias perguntou, surpreso.
— Mais do que qualquer coisa. — Shake fez uma pausa. — Até ele me trair.
Elias não conseguia imaginar Shake vulnerável. Mas ali estava ele, despido de qualquer armadura, contando sua verdade.
— Malik era o conselheiro de Amir. Mas também era meu amante... na sombra. Durante anos. Prometeu que seríamos livres quando Amir assumisse. Que fugiria comigo, longe da política, longe das paredes douradas.
Shake fechou os olhos por um instante.
— Mas ele escolheu o poder. Ficou com Amir. Casou-se com uma mulher que meu irmão escolheu. E quando meu irmão morreu em circunstâncias... duvidosas, todos pensaram que eu usurpei o trono.
— Você não...?
— Não. Mas também não chorei por ele.
O silêncio entre eles queimava mais do que o fogo.
— Desde então, aprendi a ser temido. Se não posso ser amado, que ao menos saibam que não sou fraco.
Elias aproximou-se mais. Tocou a mão de Shake. Apertou.
— Você é temido porque tem um coração que ninguém conhece. Mas eu vejo ele. E o que vejo... não é fraqueza.
Shake virou o rosto devagar, encarando Elias com olhos marejados, mas firmes.
— E o que você vê?
— Um homem ferido... mas ainda capaz de sentir.
Eles se encararam por longos segundos, até que Shake falou, quase num sussurro:
— E se meu passado voltar para destruir tudo o que estou tentando construir contigo?
— Então enfrentaremos juntos.
Shake sorriu. Pela primeira vez, um sorriso real. Humano.
Elias sabia agora: amar aquele homem seria uma estrada sem volta. Mas ele já estava nela.
E Malik? Ele não era só passado. Era uma sombra à espreita. E não demoraria para tentar fazer esse castelo ruir — pedra por pedra.
Nos dias seguintes, algo mudou em Shake.
Ele estava mais presente, mais silencioso, mais... humano. Conversava com Elias nas manhãs, ouvia-o com atenção, e às vezes apenas caminhavam juntos pelos jardins do palácio — um homem e um garoto, dois mundos tentando se encaixar no mesmo silêncio.
Mas havia tensão no ar. Como uma tempestade distante que o vento começa a anunciar.
Naquela tarde, Elias foi chamado até a sala de leitura. Esperava encontrar Shake, mas quem estava lá era Malik.
Sozinho.
— O pequeno favorito... — disse ele, sem se levantar. — Shake tem bom gosto.
Elias manteve a postura.
— Se ele soubesse que está aqui sem permissão...
— Ele saberá. Eu quero que saiba. — Malik se levantou devagar. Os olhos dele, tão diferentes dos de Shake, carregavam algo venenoso. — Só vim avisar: você está em uma guerra. E o homem que acha que ama já destruiu outros antes de você.
Elias franziu a testa.
— Eu não tenho medo dele.
— Não, claro que não — Malik sorriu, cínico. — Mas deveria ter de mim.
Antes que pudesse sair, Malik se aproximou — invadindo o espaço de Elias com a ousadia de quem já cruzou essa linha antes.
— Sabe o que mais dói nele? — sussurrou. — Saber que pode amar... mas nunca ser suficiente para ser amado de volta.
Elias encarou-o, sem recuar.
— Isso diz mais sobre você do que sobre ele.
Malik o fitou por um segundo, então se afastou com um riso seco.
— Você é valente. Isso vai ser... interessante.
Horas depois, quando Shake descobriu sobre o encontro, sua reação foi explosiva. A biblioteca tremeu com o som de portas batendo e livros caindo.
— Ele tocou em você? — Shake perguntou, furioso.
— Não. Mas me provocou.
Shake passou a mão pelo cabelo, o corpo tenso, como uma fera prestes a atacar.
— Se ele tentar outra vez... juro por tudo que sou, Elias, eu o destruo. Mesmo que isso custe meu trono.
Elias aproximou-se, tocando o peito dele. O coração de Shake batia acelerado, selvagem.
— Então me proteja... mas não perca a cabeça. Eu não quero um rei furioso. Quero o homem que confia em mim.
Shake o olhou com intensidade. A fúria ainda estava lá, mas havia algo novo também: entrega.
— Malik já levou algo de mim no passado. Mas você, Elias... ele não terá. Nunca.
Naquela noite, Shake não dormiu. Ficou sentado ao lado da cama de Elias, observando-o. Como quem guarda um tesouro. Como quem vigia a própria ruína.
Mas o que ele não sabia... é que Malik não atacaria de frente.
Ele começaria pelo ponto mais vulnerável: o coração de Elias.
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Atualizado até capítulo 54
Comments
Cleide Almeida
pq ele ñ pode expulsar este miserável do seu palácio 🤬🤬🤬
2025-04-21
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