Capítulo 4

Areia Sobre Feridas

O dia amanheceu calmo, mas a calma no deserto nunca é confiável.

Elias despertou antes de Shake. Por um instante, ficou apenas observando o homem ao seu lado. Tão imponente mesmo em repouso. A pele morena, o rosto forte, o peito que subia e descia devagar. Era belo, mas também carregava cicatrizes — algumas visíveis, outras enterradas onde os olhos não alcançam.

Levantou-se com cuidado, vestiu-se em silêncio e saiu do quarto como uma sombra. Precisava de ar, de distância, de entender o que estava sentindo. Algo dentro dele dizia que já era tarde para voltar atrás.

No jardim do palácio, encontrou um dos poucos rostos familiares — Youssef, um dos guardas pessoais de Shake. Um homem frio, com olhos que pareciam saber mais do que diziam.

— Dormiu bem, Elias? — ele perguntou, sem tirar os olhos do horizonte.

— Sim... — respondeu, desconfiado.

Youssef deu um meio sorriso.

— Você está onde muitos quiseram estar. Mas cuidado... Quanto mais se aproxima do leão, mais fácil é virar ferida.

Elias franziu o cenho.

— Por que está me dizendo isso?

— Porque já vi esse jogo antes. E nem sempre acaba com romance.

Antes que Elias pudesse perguntar mais, uma movimentação do outro lado do jardim capturou sua atenção. Um carro preto, blindado, entrou pelo portão lateral. Um homem desceu. Elegante. Ocidental. E claramente não era visita comum.

Youssef suspirou.

— O passado do shake acaba de chegar.

Mais tarde, no salão de reuniões, Elias estava ao lado de Shake quando o visitante entrou.

— Malik — disse Shake, com um sorriso polido, mas tenso.

— Rashid — respondeu o homem, sem hesitar. — Ou devo chamá-lo de “excelência”?

Os dois se mediram. Como lâminas.

Elias sentiu o gelo no ar. E o instinto. A forma como Shake imediatamente se colocou um passo à frente dele, como quem protege algo frágil.

— Este é Elias — disse Shake, num tom que não permitia intimidade. — Meu tradutor.

Malik o olhou de cima a baixo, com um sorriso cínico.

— Tradutor? Que interessante...

Shake interrompeu antes que ele pudesse ir além.

— Ele não é da sua conta.

E foi ali que Elias entendeu algo: aquele homem não era apenas um “passado”. Ele era uma história inacabada. Uma ameaça. Talvez... o único capaz de desestabilizar o shake.

E naquela noite, quando Elias voltou ao quarto, encontrou a porta trancada. Por dentro.

Shake estava lá. Sentado à janela, olhos fixos nas dunas.

— O que ele foi pra você? — Elias perguntou, sem rodeios.

Shake demorou para responder.

— Um erro que me custou anos. Um desejo que virou veneno.

E então se virou, encarando Elias com uma expressão crua, ferida.

— Mas você, Elias... você é diferente. E é exatamente por isso que eu temo tanto o que estou começando a sentir.

O quarto estava mergulhado em penumbra. Shake não se movia, e Elias sentia o peso da tensão como se estivesse respirando areia.

— Você teme o que sente por mim? — Elias perguntou, a voz mais firme do que ele imaginava.

Shake o encarou. Os olhos escuros revelavam o que a boca ainda se recusava a dizer.

— Eu não posso me permitir fraquezas, Elias. E você... é a maior de todas.

Elias se aproximou devagar. O quarto parecia encolher ao redor deles. Cada passo em direção ao shake era uma provocação silenciosa ao destino. Quando parou à sua frente, viu a dúvida no rosto do homem mais poderoso que já conheceu.

— Então pare de fugir — sussurrou. — Ou me mande embora de vez.

Shake se levantou de repente. Rápido. Intenso.

— Eu não consigo mandar você embora! — sua voz carregava raiva, frustração... e medo.

Elias não recuou.

— Então pare de me tratar como um objeto que você pode controlar.

Shake respirou fundo. Seus dedos roçaram o rosto de Elias, dessa vez com menos domínio, mais necessidade.

— Malik me ensinou que amor é uma fraqueza perigosa. Que dar-se por inteiro a alguém... pode ser uma sentença.

— E eu não sou ele — Elias respondeu.

Silêncio.

Lento, Shake colou sua testa na de Elias. Um gesto de rendição.

— Se Malik tentar se aproximar de você... me prometa que vai me contar.

— Por quê?

— Porque eu não confio nele. E porque... não suportaria vê-lo te tocar.

Elias sorriu, suave. O gelo que envolvia o shake começava a rachar.

— Você está com ciúmes?

Shake fechou os olhos. Como se a palavra queimasse por dentro.

— Estou me tornando tudo que jurei nunca ser por sua causa.

E então, pela primeira vez, ele o beijou.

Não foi um beijo violento, nem apressado. Foi lento. Denso. Como se Shake estivesse permitindo a si mesmo um instante de liberdade num mundo onde tudo era controle. Elias correspondeu, sentindo o gosto da promessa e do perigo nos lábios do homem.

Quando se separaram, Shake tocou seus lábios com o polegar.

— Essa guerra que começou... agora tem algo a perder.

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Comments

Cleide Almeida

Cleide Almeida

se ele é o dono da porra toda no deserto pq se obrigar a receber alguém q ele ñ gosta e pode atrapalhar o relacionamento dele e Elias

2025-04-21

4

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