Mais do Mesmo

No caminho para casa, a rua está deserta. A antiga beleza da moradia já não existe. Não depois que o padrasto caiu em desgraça. Agora, a casa é só um retrato triste da decadência.

Está tudo às escuras. Jaeyoon franze o cenho. Tinha certeza de que pagou a luz e a água.

— Mãe? Jiwon? Jai-hun? Onde estão todos?

Um barulho atrás dele o faz se virar num pulo.

— Jiwon? O que aconteceu?

— Tem um homem com a mãe… ele bateu nela… a gente se escondeu.

O sangue de Jaeyoon congela. A mãe… de novo com homens? E agora, diante dos filhos? Mas por que se surpreende? Já a vira encontrar o amante na praça, enquanto ele e os iemãos brincavam por perto. Só não imaginava que chegaria a isso.

Avança até o quarto dela sem bater. A cena é deprimente. A mãe está caída no canto da cama, os olhos inchados por um golpe, sangue no canto da boca e na testa, as roupas rasgadas como se tivesse passado por um furacão. Na cama, um homem dorme, roncando alto. O quarto fede a álcool e repulsa.

— Mãe? Acorda! Vamos, levanta, vamos até o banheiro! – pede Jaeyoon com calma.

— Me solta!

— Mãe, olha pra você! Olha aquilo! — Jaeyoon aponta para o homem na cama, agora a voz oscilando entre raiva e incredulidade.

Nesse instante, Lian parece despertar de um transe.

— Seu porco nojento! – grita ela olhando na direção do homem desconhecido.

Ela avança, empurra o homem da cama com fúria e o agride com tapas e socos, empurrando-o até a sala. O homem cambaleia, ainda grogue, mas logo reage e levanta o braço para mais um golpe. Antes que o acerte, Jaeyoon se lança e acerta um soco firme no rosto dele, colocando-se entre o agressor e a mãe.

— Fora daqui!

— Seu pirralho! Vou acabar com você!

O homem parte para cima dele e acerta um soco direto no rosto de Jaeyoon. Ele cambaleia, o gosto metálico do sangue na boca, mas permanece de pé, firme como uma rocha. Encaram-se. O homem é maior e mais forte, mas Jaeyoon não recua.

— Me devolva o dinheiro! — grita Lian, com os olhos em brasa. — É meu!

— Vem buscar, vagabunda!

— Devolva o dinheiro da minha mãe! — Jaeyoon rosna, com os punhos cerrados.

— Venham buscar! — o homem ri, alto, debochado.

Ao passar pela porta, ela se fecha com brutalidade direto em seu rosto. Ele cai desacordado no chão da sala.

Os irmãos entram, assustados. Correm para a mãe, que os afasta com frieza. Vai direto ao corpo caído e começa a vasculhar os bolsos do homem. Quando encontra o dinheiro, levanta-se e o olha com desprezo.

— Limpe essa bagunça. Não quero me envolver em nada. — diz, já se dirigindo ao banheiro. — Vou tomar um banho refrescante.

Os meninos olham para Jaeyoon, atônitos. E ele, por sua vez, encara a porta do banheiro fechada, tentando entender o que acabou de acontecer e não entendendo nada.

Ele chama a polícia. Diz que o homem estava bêbado, achou que podia dormir ali. Quando perguntam dos ferimentos, diz que foi um acidente nas escadas. A desculpa é aceita, para seu alívio. O homem é levado. Mais uma confusão resolvida por ele. Dos outros? Não… da sua mãe.

Os dias passam. Jung Hee não manda nenhuma mensagem. Apesar da vontade de vê-lo, Jaeyoon tenta se convencer de que não quer mais nada daquilo. Talvez o melhor fosse que Jung Hee já estivesse enjoado, entediado com a companhia dele, e o deixasse em paz. Já bastava o dinheiro que depositava todo mês. Jaeyoon se proíbe de sonhar com qualquer coisa, nem comprar um terno novo ele pode, o que sobra do dinheiro mal dá para viver.

Seus amigos, Sun Seok e Sang Dae-Seong, resolvem marcar um encontro. Mesmo sem um centavo, Jaeyoon decide ir. Quase não tem vida social, está sempre em casa cuidando dos meio-irmãos, servindo Jung Hee ou mergulhado no trabalho. Aproveitaria a folga inesperada para se distrair.

Desde aquele dia, sua mãe faz de tudo para evitar ficar sozinha com ele. Jaeyoon quer ter uma conversa séria, mas ela é como um coelho na arte de fugir.

— Pensei que não fosse vir! — exclama Sun Seok, feliz da vida.

— Já vou avisando que não tenho dinheiro.

— Jaeyoon, a noite é por minha conta! — diz Sang Dae-Seong com um sorriso.

— O que aconteceu?

— Meu amigo, conseguimos uma conta incrível!

— Vamos entrar, Dae-Seong. Depois a gente conta os detalhes para o Jaeyoon. Vamos comer primeiro.

— Sabe o que vai acontecer na segunda-feira, Jaeyoon?

— Regime! — respondem os dois amigos, em coro.

— Não tem graça nenhuma. — retruca um ofendido Sun Seok, emburrado.

A noite é boa. Comida deliciosa, bebidas à vontade, risadas sinceras. Uma noite com bons amigos.

— Então essa conta vai ser a menina dos olhos do escritório de vocês? — pergunta Jaeyoon, interessado.

— Vai ser um sucesso. Depois dessa, muitas outras virão! — responde Sang Dae-Seong, visivelmente animado.

— Um brinde a isso! — comemora Sun Seok, já um pouco embriagado.

— Jaeyoon, essa conta é de milhões de wones. Um cassino e um hotel. Um dos mais renomados do país.

Um arrepio percorre a espinha de Jaeyoon. Jung Hee tem um cassino e um hotel. Seria coincidência? Muita gente também pode ter um cassino, certo?

— Quem é o dono? — pergunta, tentando soar casual.

— Um dos homens mais estranhos e sinistros do país…

— Seok está exagerando. — corta Sang Dae-Seong. — Só porque o homem foi criminoso na adolescência. Mas ele mudou, se tornou um grande empreendedor.

— Qual o nome dele? — insiste Jaeyoon, com o coração acelerado.

— Min Il-Seong. — responde Sang Dae-Seong com orgulho. — Meu cliente.

Jaeyoon respira aliviado.

— Isso tudo é obra daquele Chang.

— O auxiliar do seu pai, Dae-Seong?

— Sim. Faz tempo que ele não fazia nada de útil, mas agora se superou. Isso vai colocar nosso escritório no radar de outras empresas que precisam de contabilidade externa.

— Com… hic… certeza! Um… hic… brinde a isso!

— Acho que o Seok não aguenta mais. — comenta Jaeyoon, rindo.

— Ele ficou aborrecido com essa história.

— Por quê? Isso é bom pra todo mundo.

— Sun Seok e o Chang nunca se deram bem.

— Dois anos trabalhando juntos e até agora não se entenderam?

— Nada. E parece que só piora. Seok me pediu para ficar atento a tudo que o Chang fizer com essa nova conta. Disse que teve um mau pressentimento.

— Seok sempre tem maus pressentimentos, Dae-Seong.

— E, algumas vezes… ele acerta.

— Isso é o mais assustador. — completa Jaeyoon, rindo.

— Bem, vamos levar o amigão pra casa. Né, Seok?

— Humm? Um… hic… brinde… hic… então.

— Chega de brinde. Vamos pra casa.

— Aquele cara… hic… é um traidor… hic… e ladrão. Temos… hic… que ficar… hic… atentos, Dae-Seong…

— Certo, Seok, certo. Agora vamos.

— Acredite… hic… em mim, por… hic… favor… — Sun Seok começa a chorar.

— Bem, agora ele não vai parar — lamenta Song Dae-Seong, cansado.

A noite foi boa. Jaeyoon se divertiu relembrando as histórias dos três. São esses momentos que merecem ser guardados para sempre.

Jaeyoon chega em casa bem tarde. Usa o dinheiro guardado, aquele que Jung Hee sempre lhe dá, e paga o táxi. Entra na casa sem acender as luzes.

— Que bonito, hein? Esbanjando dinheiro com táxi e as crianças com fome.

Era uma vez uma noite perfeita e feliz.

— Por que você não compra comida para os seus filhos?

— Como ousa falar comigo nesse tom de voz?

— Mãe, por favor, tive uma boa noite com meus amigos e não quero estragar o resto dela falando com você.

— Quem você pensa que é? Só porque tem um diploma de advogado, acha que é melhor que os outros? Fique sabendo que esse diploma você deve a mim.

— A você? O que você fez? Diga, o que você fez? Enganou meu pai durante anos, para ficar com o dinheiro que ele mandava pra pagar uma boa educação pros filhos, comprando tolices pra você! — Jaeyoon está bem, mas aquela mulher passa dos limites.

— Você comeu e bebeu muito bem, tinha roupas…

— Roupas de brechó e comida de lata, que nos fazia mal! Foi isso que nos deu! Nunca tivemos uma refeição digna nesta casa, nunca! Você e seu marido iam a restaurantes caros e vestiam as melhores roupas! Foi isso que nos deu com o dinheiro do meu pai!

— Fala com grande orgulho daquele pai ingrato, que nunca visitou vocês! Que tão rápido se livrou de vocês pra casar de novo! Vocês sempre foram um empecilho na nossa vida, isso sim!

Jaeyoon se controla. Não pode bater na própria mãe, mas vontade não falta.

— Mãe, vá dormir. Tenho que levantar cedo amanhã pra trabalhar.

— Grande porcaria de emprego que você tem! Conheço advogados que ganham fortunas, e você? Migalhas num emprego miserável!

— Que paga as contas da casa e põe comida na mesa.

— Essa casa é minha!

— Então por que você não a mantém?

— Moleque atrevido! Acha que não sei do seu acordo com aquele mafioso?

— Do que fala agora? — Jaeyoon está no limite da paciência.

— Não tem vergonha de dar o traseiro pra um bandido?

Jaeyoon se vira para a mãe. Caminhava para a cozinha em busca de um chá, mas se volta, para aos pés da escada e olha para ela com o olhar mais perigoso que consegue.

— Sabe bem por que faço isso! Pra você e seus filhos terem um lugar pra dormir, pra que você não tenha a ideia estúpida de mandar os meninos pra algum orfanato, algo que já pensou em fazer. É por isso que dou meu traseiro! — grita ele, furioso.

— Sua bicha! Seu nojento! Quero você longe dos meus filhos, pode influenciá-los mal!

— Eu? Será que não é você a má influência? Enganando, mentindo e roubando?

— Seu imundo! Você me paga por isso!

— Mãe, vá dormir. Por favor.

A cabeça de Jaeyoon começa a doer. Uma noite linda, e sua mãe consegue estragar tudo. Há muito tempo contou à mãe sobre sua sexualidade. Não se importou em chocá-la tanto quanto teve receios com o pai, que o aceitou de maneira tranquila, levando Jaeyoon às lágrimas. Com a mãe, não teve nenhum cuidado. Não se incomoda com ela, mas não quer viver inventando mentiras sempre que sair com alguém.

Respirando fundo, depois da xícara de chá, ele vai dormir. O dia seguinte será cheio.

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