Isadora não conseguia dormir. A cada minuto, seu corpo exausto se contorcia na cama, mas sua mente estava inquieta, em uma batalha constante. O silêncio pesado do hospital não ajudava, como se as paredes sussurrassem segredos que ela ainda não podia entender. Mas havia algo. Algo em seu peito, uma sensação crescente de que a verdade estava lá fora, apenas esperando para ser descoberta. E ela não conseguiria descansar até que isso acontecesse.
A porta se abriu de repente, interrompendo seus pensamentos. Vinícius entrou, como sempre, com um sorriso encantador. Ele estava usando um terno escuro que a fazia lembrar de um homem de negócios, mas, para Isadora, ele era apenas o homem com o qual ela não conseguia se lembrar de ter se apaixonado.
“Você não deveria estar acordada, amor”, disse ele, sua voz suave e cheia de preocupação, mas havia algo nas entrelinhas. Isadora sentiu isso.
“Eu... não consigo dormir”, respondeu ela, tentando se sentar na cama. “Eu... preciso saber o que aconteceu. Eu preciso entender.”
Vinícius a observou com um olhar de compreensão, mas algo em seus olhos não parecia sincero. Ele se aproximou lentamente, sentando-se à beira da cama, seus dedos tocando suavemente a pele de Isadora, como se tentasse acalmá-la. Mas o que ele realmente queria? Ela não sabia.
“Eu entendo, amor. Você está confusa. Isso é normal. Mas o que importa é que você está aqui, agora. E eu estou com você, como sempre estive. Vamos superar isso juntos.”
As palavras dele, que antes soavam tão confortantes, agora pareciam vazias. Isadora olhou para ele com mais intensidade, procurando em seus olhos alguma pista, algo que ela pudesse reconhecer. Mas tudo o que ela via era um homem perfeito demais, tão bem ajustado, tão encantador, que sua perfeição era quase assustadora. Como se ele estivesse montando um personagem para ela, um personagem que não podia ser real.
De repente, ela teve uma sensação estranha. Um impulso de saber mais, de ir além das palavras de Vinícius. Algo na maneira como ele a tocava parecia falso, como se ele estivesse tentando fazer com que ela acreditasse que ele era tudo o que ela precisava, mas a verdade era que ele estava escondendo algo. Isadora não sabia o que era, mas sentiu em suas entranhas que havia algo muito errado.
“Vinícius... eu não me lembro de nada. Nada sobre nós. Nada sobre o acidente. Nada sobre quem eu sou.” Ela fez uma pausa, engolindo em seco. “Nada sobre o que aconteceu antes disso tudo. O que você não está me dizendo?”
Vinícius não respondeu imediatamente. Em vez disso, ele levantou a mão, como se fosse tocá-la novamente, mas a hesitação foi clara. Ele a observou com um olhar vazio, e então, com um sorriso forçado, falou: “Isadora, você está cansada. Não podemos fazer isso agora. Não é o momento.”
“Não... Eu preciso saber.” Ela levantou-se da cama, impulsiva, apesar da dor que sentia. “Eu preciso saber a verdade.”
Vinícius ficou em silêncio, um silêncio carregado de tensão. Então, ele se levantou e deu um passo atrás, olhando-a como se estivesse lutando consigo mesmo. De repente, ele se aproximou com uma velocidade inesperada, pegando a mão de Isadora com força. O gesto a fez estremecer, não por causa da dor, mas pela maneira possessiva e intensa com que ele a segurava.
“Você está forçando as coisas, Isadora. Não adianta procurar onde não há mais respostas. O que importa é que você está viva. O que importa é que nós estamos juntos.” Ele estava perto demais, a voz baixa, carregada de algo que Isadora não sabia definir.
Mas, antes que ela pudesse responder, a porta se abriu novamente. E desta vez, a pessoa que entrou fez com que seu coração disparasse de surpresa: **Helena**, sua mãe.
“Vinícius, basta!” gritou ela, com uma autoridade que Isadora não sabia que ela possuía. “Não é assim que as coisas vão funcionar.”
Isadora olhou para a mãe, com o coração apertado. “Mãe, o que está acontecendo?”
Helena encarou Vinícius com uma fúria silenciosa. “Você... Você tem sido uma sombra na vida dela, desde sempre.” O tom de sua voz era quase veneno. “E eu permiti isso. Eu deixei você tomar conta dela, quando na verdade tudo o que você fez foi manipular a nossa filha.”
Isadora olhou entre os dois, completamente atônita. O que ela estava ouvindo? Seu peito estava apertado. Ela sentia que, naquele momento, todo o mundo que ela conhecia estava desmoronando ao seu redor.
“Você está falando besteira, Helena.” Vinícius respondeu com um sorriso frio. “Nada disso é verdade. Eu a amo.”
Helena balançou a cabeça, desdenhando das palavras dele. “Amor? Você não sabe o que é amor. Você nunca soube. A única coisa que você sempre soube foi controlar a vida dela, manipular a mente dela. E agora, olha onde estamos.”
Isadora sentiu as palavras de sua mãe como um golpe. Ela olhou para Vinícius, mas algo dentro dela a fazia duvidar dele. Cada palavra que ele falava soava como uma mentira. Ela sentia isso, uma sensação de traição crescente em seu peito.
“Você sabia disso, mãe?” perguntou Isadora, a voz trêmula. “Que ele me machucou? Que ele...” Ela engoliu a palavra, mas a dor era evidente. “Que ele me mentiu?”
Helena fechou os olhos, como se estivesse tentando reunir forças para dizer o que ela nunca quis revelar. “Eu sabia, minha filha. Eu sabia e fiz de tudo para tentar te proteger. Mas, quando você se apaixonou por ele, eu fui fraca. Eu pensei que poderia dar certo. Mas você... você foi enganada. Ele sempre teve um poder sobre você.”
“Eu... Eu não me lembro disso. Eu não me lembro de nada!”, gritou Isadora, suas mãos apertando as cobertas da cama. “Por que ninguém me contou antes?”
Vinícius deu um passo à frente, mas Helena se interpôs entre ele e a filha. “Porque você não estava pronta para saber. E eu não podia deixá-la ver a verdade. Não ainda. Não até que fosse seguro.”
Isadora olhou para a mãe, a confusão misturada com a dor. O que mais ela não sabia? O que mais tinha sido escondido dela? A verdade estava se desmoronando ao seu redor, e ela não sabia em quem confiar. Não sabia o que era real e o que não era. Tudo parecia uma teia de mentiras.
“Eu... Eu preciso sair daqui. Preciso entender... eu preciso lembrar. Eu não aguento mais essa prisão,” disse Isadora, sua voz carregada de desespero.
Helena segurou as mãos de Isadora, os olhos cheios de lágrimas. “Eu sei, querida. Eu sei. Mas você tem que ser forte. Você tem que lutar contra ele, contra o que ele fez. O que ele ainda pode fazer.”
“Eu não entendo...” Isadora sussurrou, sentindo uma raiva crescente dentro de si. “Eu não entendo como alguém pode... mentir tanto.”
Vinícius, agora com um semblante tenso, observou a cena com os olhos estreitos, como se estivesse calculando o que fazer a seguir. Mas, ao perceber que Isadora estava começando a se afastar dele, sua máscara de calma começou a se despedaçar. O que ele temia, agora, estava acontecendo: o controle que ele tinha sobre ela estava começando a se esvair.
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Atualizado até capítulo 67
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