Sombras da Memória
Isadora despertou com um sentimento estranho, como se estivesse flutuando entre o que é real e o que se perdeu. Seus olhos se abriram lentamente, cegados pela luz forte do dia que entrava pela janela do quarto de hospital. O cheiro esterilizado, o barulho suave da respiração das máquinas, tudo parecia familiar e ao mesmo tempo estranho.
Ela tentou se mexer, mas seu corpo estava pesado, como se fosse feito de areia. O que acontecera? Uma sensação de pânico a invadiu. A última coisa que ela lembrava era de... de... um acidente? Sim, isso, um acidente. Mas o que mais? Quem estava com ela? O que aconteceu com as pessoas ao seu redor?
O nome de Vinícius ecoou em sua mente, mas ela não sabia por quê. Sua mente estava em branco, um vazio profundo, e ela não conseguia preencher aquelas lacunas. Sua mão procurou instintivamente o celular na mesa de cabeceira. O visor iluminado mostrou o nome de uma pessoa, alguém que ela deveria conhecer, mas não conseguia lembrar de como. "Vinícius Albuquerque".
A porta se abriu suavemente, interrompendo seus pensamentos. Uma figura masculina entrou no quarto. Ele era alto, de cabelo escuro e bem cortado, com uma expressão preocupada no rosto. Ao vê-la acordada, seu semblante se suavizou e ele sorriu com uma ternura que Isadora não sabia se era familiar ou estranho.
"Isadora, você acordou", disse ele, sua voz profunda e reconfortante.
Isadora tentou sorrir de volta, mas uma sensação de confusão ainda dominava seus sentidos. "Eu... eu estou... bem?" Sua voz saiu fraca, quase um sussurro.
"Você está, sim. O acidente foi grave, mas você superou, como sempre fez." Ele se aproximou da cama e segurou sua mão com carinho. "Eu sou Vinícius, seu... seu namorado. Estava tão preocupado."
Namorado? Isadora olhou para ele, tentando encontrar algo no seu rosto, algo que a fizesse sentir que ele era alguém de quem ela deveria lembrar. Mas nada. Apenas um estranho, com uma expressão de amor e preocupação.
"Eu não... me lembro de você", disse ela, com um nó na garganta. "Desculpe."
O sorriso de Vinícius vacilou por um instante, mas ele rapidamente o recuperou. "É normal, amor. O acidente afetou sua memória. Mas eu vou estar aqui o tempo todo para ajudá-la a lembrar."
Ele se sentou na beira da cama, mantendo sua mão entre as dele. Isadora sentiu um calor reconfortante na sua palma, mas também uma sensação de que havia algo mais por trás daquela gentileza. Algo que ela não conseguia identificar.
"Você... você sabe como foi o acidente? Como... eu cheguei aqui?" perguntou, sua voz falhando.
Vinícius hesitou por um momento, antes de responder com uma calma que parecia forçada. "Foi uma colisão, Isadora. Você... você perdeu o controle do carro e bateu em uma árvore. Felizmente, os médicos disseram que você está fora de perigo. Mas, por causa do impacto, sua memória foi afetada."
Aquelas palavras a atingiram como uma lâmina afiada. Ela se esforçou para lembrar do que aconteceu antes do acidente, mas a mente estava vazia. Nada vinha à tona, além de uma sensação de... perda. Como se ela tivesse sido arrancada de algo importante, algo que ela deveria lembrar.
A porta se abriu novamente, e uma mulher entrou no quarto. Ela tinha cabelo curto, e seu olhar era carregado de preocupação, mas também de amor. Era uma mulher mais velha, talvez na faixa dos 50 anos, com traços suaves e um olhar atento. Ela se aproximou de Isadora com um sorriso cálido.
"Filha, como você está?" perguntou a mulher, sua voz suave como o vento. "Eu sou a Helena, sua mãe."
Mãe. O título parecia certo, mas, mais uma vez, a sensação de distância se fez presente. Isadora olhou para a mulher, tentando recordar os momentos em que ela poderia tê-la visto, mas nada vinha à mente. O que ela deveria sentir? Amor? Gratidão? Ou uma simples sensação de… nada?
"Eu não me lembro de você", disse Isadora, o peso daquelas palavras tornando-se ainda mais doloroso a cada segundo. "Me desculpe."
Helena se aproximou lentamente e segurou sua mão com cuidado. "Não se preocupe, querida. Isso é apenas temporário. Sua memória vai voltar. Eu estou aqui para te ajudar, você sabe disso, não sabe?"
Isadora assentiu vagamente, sem saber ao certo se aquilo era verdade. Ela queria acreditar, mas uma parte de seu ser estava cética. Algo dentro dela estava gritando, mas ela não sabia o que era. Algo não se encaixava.
Vinícius deu um passo à frente e falou com um tom suave. "Você tem se recuperado bem, amor. O médico disse que em breve você poderá sair daqui. E então vamos retomar tudo de onde paramos."
Isadora franziu a testa. "De onde paramos?"
"Sim, amor. De onde paramos... do nosso amor, nossa vida juntos", disse ele, seu olhar fixo nela, como se estivesse tentando transmitir algo mais. Algo que ela não conseguia compreender.
Ela olhou para ele com mais atenção, tentando sentir algum tipo de conexão. Algo familiar. Mas não havia nada. Apenas um rosto bonito, um sorriso encantador e uma sensação de vazio. O que mais ela deveria sentir por ele? Por que as palavras “nosso amor” não ressoavam em seu coração?
"Eu preciso... descansar", disse ela, tentando escapar da pressão de sua própria mente.
Helena, percebendo a confusão da filha, assentiu. "Claro, querida. Vamos deixar você descansar. Nós vamos estar aqui quando você acordar. E tudo vai se encaixar, você vai ver."
Vinícius sorriu novamente, mas algo em seus olhos parecia cauteloso, como se ele estivesse escondendo algo. "Eu vou ficar aqui, amor. Sempre estarei aqui."
Os dois saíram do quarto, deixando Isadora sozinha, mas não em paz. Ela se virou na cama, olhando para o teto branco, sentindo a pressão do silêncio. O que ela estava perdendo? O que mais ela havia esquecido?
As horas passaram lentamente, e ela começou a ter pequenos flashes de memória. Imagens de rostos desconhecidos, de ruas que não reconhecia, de um jantar com Vinícius. Mas, no meio de tudo isso, havia uma sensação de algo errado. Algo que ela não conseguia definir.
Ela se levantou com dificuldade, sentindo a dor em seu corpo, mas a necessidade de descobrir a verdade a impulsionava. Caminhou até a janela e olhou para a rua abaixo. O mundo lá fora parecia o mesmo, mas algo dentro dela dizia que aquele mundo já não era o seu.
Ela precisava saber o que acontecera antes do acidente. O que a levou até ali. E, principalmente, o que ela tinha esquecido. Algo estava muito errado, mas a chave para desvendar esse mistério parecia estar enterrada nas sombras de sua própria memória.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 67
Comments
Olga Mafalty
obrigada
2025-04-21
0
Sandra Maria de Oliveira Costa
começando 18,04 25
2025-04-18
1