Por mais que tudo em Rosa Maria dissesse que ela finalmente havia encontrado a paz, a vida, caprichosa como só ela, tinha outras provas guardadas.
Porque, às vezes, é depois do primeiro raio de sol que vêm as tempestades mais fortes.
Era uma tarde de outono quando tudo desabou.
Rosa saía do trabalho, ainda sorrindo com uma mensagem doce que Heliton lhe enviara, quando viu, na tela do celular, uma notificação estranha.
Uma matéria.
Um escândalo.
"CEO da H&R envolvido em escândalo de corrupção. Viúvo milionário pode perder fortuna."
O sangue gelou.
As pernas fraquejaram.
A rua pareceu girar ao seu redor.
Heliton? Corrupção?
Era impossível.
Era impensável.
Mas a matéria estava lá, estampada com letras grandes, fria e cruel como uma punhalada.
E, junto da notícia, fotos dele entrando em carros pretos, cercado de repórteres, flashes, acusações.
Seu Heliton.
O homem que a ensinara a amar de novo.
O homem que a curara.
O telefone tocou.
Era ele.
Mas Rosa, assustada, recusou.
Recusou a ligação como quem recusa a própria esperança.
Naquela noite, Rosa se trancou em seu quarto, encolhida como a mulher ferida que pensava ter deixado para trás.
Velhos fantasmas sussurraram nas sombras:
"Você de novo."
"Você achou mesmo que seria diferente?"
"Todo homem é igual."
Ela chorou como há muito não chorava.
Chorou de medo.
Chorou de raiva.
Chorou de vergonha por ter acreditado tanto, tão cegamente.
E, no meio da dor, uma pequena voz sussurrou:
Espere. Ouça-o.
Mas Rosa, ainda presa à tempestade dentro de si, ignorou.
Dois dias se passaram.
Dois dias sem notícias.
Dois dias em que Rosa sentiu que a felicidade era um castelo de cartas levado pelo vento.
Até que, na noite do segundo dia, uma batida suave soou em sua porta.
Era Heliton.
Molhado de chuva, o rosto exausto, o olhar ainda mais determinado.
— Rosa Maria, por favor — sua voz era grave, rouca. — Me escuta.
Ela hesitou.
Cada célula de seu corpo gritava para se proteger, para não se machucar de novo.
Mas então olhou para ele.
Olhou de verdade.
E viu.
Não o CEO. Não o homem perfeito.
Viu o ser humano.
Frágil.
Sincero.
Machucado.
Amando.
E ela abriu a porta.
Heliton entrou como quem respeita um templo.
Não a tocou.
Não invadiu seu espaço.
Apenas ficou ali, encharcado, humilde, verdadeiro.
— Eu nunca estive envolvido em nada daquilo — começou, a voz quebrada. — É um ataque. Pessoas querendo tomar o que construí. Alguém plantou provas. Meus advogados já estão cuidando disso.
Rosa o olhava, em silêncio.
Ele continuou:
— Eu entendo se você quiser se afastar. Se for demais. — Ele engoliu em seco. — Mas precisava vir aqui, olhar nos seus olhos, e dizer: Eu sou inocente. E eu te amo.
O tempo pareceu parar.
Rosa sentiu o mundo girar devagar ao redor dessas últimas palavras.
Eu te amo.
Tão simples.
Tão grandioso.
Tão assustador.
Ela se aproximou dele, hesitante.
Seu coração estava rasgado entre o medo de sofrer e a esperança de viver algo verdadeiro.
— Por que você não me procurou antes? — sussurrou.
— Porque eu sabia que você precisava de espaço para sentir. — Heliton respondeu, a voz baixa, mas firme. — E eu não quero ser mais um homem que invade seus limites.
Lágrimas subiram aos olhos de Rosa.
Quantos homens, antes, haviam simplesmente ignorado seus limites?
Quantos haviam feito ela se sentir errada por ter medo?
E ali estava Heliton.
Esperando.
Respeitando.
Amando.
Mesmo que isso significasse perdê-la.
Ela ergueu a mão trêmula e tocou o rosto dele.
Sentiu a barba por fazer, a pele fria da chuva.
E, mais importante, sentiu o calor da alma dele.
Heliton fechou os olhos, como se aquele simples toque fosse tudo o que precisava.
E foi.
Porque, naquele instante, Rosa entendeu:
O amor verdadeiro não é o que vem fácil.
É o que permanece quando tudo desmorona.
É o que escolhe ficar mesmo na tempestade.
Ela sorriu, pequena e corajosa.
— Eu acredito em você, Heliton.
E ele caiu de joelhos, ali mesmo, nos ladrilhos frios do corredor.
Abraçou suas pernas e chorou.
Chorou com a alma.
Chorou por todo o medo que carregava, por todo o amor que sentia, por todo o alívio de ser visto, crido, amado.
Rosa ajoelhou-se também e o abraçou.
E, na chuva misturada às lágrimas, no silêncio pleno daquele abraço, eles reconstruíram o que o mundo tentou destruir.
Os meses seguintes não foram fáceis.
Heliton enfrentou batalhas legais pesadas.
Perdeu contratos.
Teve seu nome arrastado na lama.
Mas nunca perdeu a mão de Rosa.
Nunca deixou de enviar uma mensagem, mesmo nos piores dias.
Nunca deixou de aparecer, mesmo cansado, mesmo triste.
E Rosa também esteve lá.
Com seus olhos calmos.
Com sua força quieta.
Com seu amor.
Um dia, sentados num banco de praça qualquer, Heliton disse:
— Eu sempre pensei que o amor era sobre grandes gestos. Jantares caros. Viagens exóticas.
Ele olhou para Rosa, sorrindo.
— Mas hoje eu sei: o amor é sobre estar aqui, contigo, de mão dada, ouvindo o barulho dos passarinhos.
Ela sorriu de volta, sentindo o peito aquecido.
— Depois da tempestade... — ela murmurou.
— Você. — ele completou, beijando sua mão.
E foi assim que Rosa Maria, aos quarenta anos, descobriu que o amor verdadeiro não é o que começa com promessas exageradas.
É o que resiste às tempestades.
É o que segura sua mão no olho do furacão.
É o que sussurra, no meio da dor:
"Eu estou aqui. E sempre estarei."
Numa tarde de verão, Heliton a levou a uma praia deserta.
O sol dourava o céu.
O mar brilhava como um manto de diamantes.
Ele a puxou para perto e, com lágrimas nos olhos, disse:
— Rosa Maria, você é a mulher que eu esperei a vida inteira para amar.
Tirou do bolso uma caixinha de veludo azul.
Abriu.
Dentro, um anel simples, mas lindo, brilhava.
— Você aceita caminhar comigo... para sempre?
Rosa não respondeu com palavras.
Apenas sorriu, enquanto as lágrimas dançavam nos olhos.
E disse sim com o olhar, com o corpo, com a alma.
E Heliton, o CEO que havia curado suas feridas, a beijou como quem sela um destino.
Um beijo sem pressa.
Um beijo de casa.
De promessa.
De eternidade.
Eles não eram perfeitos.
E jamais seriam.
Mas eram verdadeiros.
E, no fim das contas, era isso que Rosa Maria sempre sonhou.
Ser amada.
Ser inteira.
Ser feliz.
E, contra todas as cicatrizes, contra todos os medos, contra todas as probabilidades...
Ela foi.
Ela era.
Ela é.
Depois da tempestade... você.
Sempre você.
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Atualizado até capítulo 76
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