Heliton era um homem diferente de tudo que Rosa Maria já conhecera.
Não apenas pelo porte imponente, os traços firmes ou o olhar penetrante que fazia o chão desaparecer sob seus pés — mas pela presença. Havia algo nele que dizia, sem palavras: "Eu não vou te ferir."
E isso, para uma mulher como Rosa, era mais assustador do que qualquer outro tipo de perigo.
Ser amada de verdade?
Ser cuidada?
Ser vista?
Isso era novo. Isso dava medo.
Mas Heliton não tinha pressa. Ele se aproximava dela como quem se aproxima de um animal selvagem machucado: com paciência, com respeito, com amor.
Naquela sexta-feira, Rosa foi convidada para conhecer o escritório de Heliton.
Um imenso prédio de vidro espelhado se erguia no coração da cidade, elegante e imponente. Rosa hesitou antes de entrar. Sentia-se deslocada, pequena demais para aquele mundo onde todos pareciam seguros de si.
Mas, assim que atravessou as portas giratórias, viu Heliton esperando-a na recepção. E todo o resto desapareceu.
Ele sorriu — aquele sorriso que ela começava a reconhecer como casa — e abriu os braços para recebê-la.
— Bem-vinda ao meu outro mundo, Rosa Maria.
Ela sorriu de volta, o nervosismo derretendo sob a ternura daquele olhar.
Heliton a conduziu pelos corredores largos, apresentando-a aos funcionários que o cumprimentavam com respeito genuíno. Não havia arrogância nele, apesar do cargo. Só havia gentileza, firmeza e uma autoridade que vinha de dentro, da alma.
Ele a levou até a cobertura do prédio, onde uma sala envidraçada dava vista para toda a cidade.
— Este é o meu refúgio — disse, puxando uma cadeira para ela.
Rosa se sentou, maravilhada.
— É lindo, Heliton.
— É apenas vidro e concreto. — ele disse, olhando diretamente nos olhos dela. — O que torna isso especial é quem está aqui comigo.
Ela corou.
Era assim com Heliton. Ele dizia coisas bonitas sem esforço, como quem respira.
E, pela primeira vez, Rosa Maria não duvidava da sinceridade.
Enquanto ele terminava algumas reuniões rápidas, Rosa caminhou até a estante repleta de livros.
Filosofia, economia, romances clássicos. Uma seleção que surpreendia. Heliton era um homem que pensava. Que sentia.
Ela puxou um exemplar de "Dom Quixote" e sorriu.
Heliton se aproximou.
— Meu livro favorito. — ele disse, encostando-se à estante.
— Um sonhador lutando contra moinhos de vento. — Rosa comentou.
— Um homem que acreditava no impossível. — Heliton corrigiu com um brilho nos olhos.
Rosa o olhou por um momento longo.
Talvez, pensou, ela também fosse um moinho de vento.
Cheia de defesas invisíveis, pronta para afastar qualquer um que ousasse se aproximar.
Mas Heliton não se assustava.
Ele via além das hélices girando. Ele via a mulher ferida e linda que ela era.
E a amava, não apesar disso, mas por isso.
Depois do expediente, Heliton a convidou para jantar.
Dessa vez, não em um restaurante sofisticado — mas na casa dele.
Era um convite íntimo. Um passo adiante.
Rosa hesitou apenas por um instante antes de aceitar.
A casa era tão acolhedora quanto o próprio dono: paredes em tons claros, livros espalhados por todos os cantos, fotografias emolduradas de momentos felizes.
No centro da sala, uma foto de Heliton abraçado a uma mulher linda, de olhos gentis — provavelmente sua falecida esposa.
Rosa parou, respeitosa.
Heliton se aproximou.
— Essa era a Laura. — disse, a voz carregada de uma ternura antiga. — Ela foi meu grande amor. E também minha grande perda.
Rosa virou-se para ele.
— Você ainda a ama?
Heliton sorriu, triste e verdadeiro.
— Sempre. Mas amar alguém que se foi não impede que a gente ame de novo. — ele tocou o rosto de Rosa com a ponta dos dedos. — Eu estou pronto para um novo amor, Rosa. Se você estiver também.
As palavras eram simples. Mas tinham o peso do mundo.
E Rosa sentiu, em cada fibra do corpo, que ele falava a verdade.
O jantar foi leve, cheio de risadas, vinho e histórias.
Heliton era um homem que sabia ouvir. Não interrompia, não corrigia, não diminuía. Apenas olhava para ela como se cada palavra fosse preciosa.
E, aos poucos, Rosa foi contando pedaços de sua história: as traições, as decepções, a sensação constante de ser insuficiente.
Heliton ouvia em silêncio, com o coração aberto.
Quando ela terminou, ele apenas disse:
— Você não foi difícil de amar, Rosa. Você só amou as pessoas erradas.
E então a abraçou.
Não um abraço de pena. Não um abraço superficial.
Era um abraço que dizia: Eu vejo suas cicatrizes. Eu respeito suas dores. E ainda assim, eu escolho você.
Naquela noite, enquanto ele lavava os pratos e ela secava, Rosa percebeu algo extraordinário:
Pela primeira vez em anos, ela não sentia que precisava ser "melhor", "mais bonita", "mais perfeita" para ser amada.
Ela podia simplesmente ser.
E isso era libertador.
Mais tarde, sentados no sofá, Heliton segurou a mão dela.
— Rosa Maria... — disse, sério. — Você merece ser feliz. Não porque mudou. Não porque provou algo. Mas porque você é você.
Ela sentiu as lágrimas surgirem, mas não as conteve.
Pela primeira vez, não eram lágrimas de dor.
Eram lágrimas de cura.
Heliton a puxou para mais perto e beijou sua testa.
Um gesto tão cheio de reverência que Rosa sentiu seu coração florescer ali mesmo.
O amor deles não começou com fogo de artifício.
Começou com a delicadeza de quem sabe o valor das feridas.
Com a paciência de quem entende que cicatrizes contam histórias.
Com a ternura de quem escolhe ficar, mesmo sabendo que o caminho não será sempre fácil.
Nos dias que seguiram, Heliton se tornou um porto seguro para Rosa.
Quando ela duvidava de si mesma, ele a lembrava de sua força.
Quando os velhos medos surgiam, ele segurava sua mão e dizia:
— Eu estou aqui. E não vou a lugar nenhum.
E, assim, Rosa Maria foi se curando.
Não porque Heliton a "consertava" — ela nunca foi quebrada.
Mas porque ele a fazia lembrar de quem ela era antes das feridas.
E mais do que isso: ele a fazia acreditar que o melhor ainda estava por vir.
Certa manhã, deitada ao lado dele, observando o sol nascer pela janela, Rosa sussurrou:
— Você curou minhas feridas, Heliton.
Ele sorriu, acariciando seus cabelos.
— Não, Rosa Maria. Você se curou. Eu só estive aqui para te lembrar do que você já era capaz.
Ela sorriu, emocionada.
E ali, nos braços dele, sentiu que tudo, absolutamente tudo, valeu a pena.
Cada lágrima.
Cada decepção.
Cada cicatriz.
Porque todas elas a trouxeram até aquele momento.
Até aquele amor.
Até aquele homem.
O CEO que não apenas comandava empresas — mas que ensinava corações a acreditar de novo.
E, pela primeira vez, Rosa Maria não tinha medo do futuro.
Ela sabia, com toda a certeza do mundo, que estava exatamente onde sempre sonhou estar.
Amada.
Inteira.
Feliz.
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Atualizado até capítulo 76
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