Capítulo 5 Entre Dois Mundos

O reencontro na ponte deveria ter sido um final feliz.

Mas a vida real não seguia roteiros perfeitos.

Depois que Lúcio e Elena se abraçaram sob o frio da madrugada, parecia que o universo lhes concedera uma trégua — uma chance de respirar.

Mas bastou o sol nascer para que a realidade se infiltrasse novamente.

E a primeira pancada veio cedo.

As redes sociais explodiram.

O vídeo de Sabrina e Matteo fora compartilhado milhares de vezes. As máscaras caíram, e de repente, aqueles que antes apontavam dedos para Elena agora apontavam para os verdadeiros culpados.

Sabrina virou o novo alvo da fúria coletiva.

Mas, ao contrário de Elena, Sabrina não era feita de porcelana.

Ela era feita de pólvora.

E pólvora, quando pressionada, explode.

— Você acha que pode me destruir? — Sabrina rosnou ao telefone, sua voz vibrando de ódio. — Isso ainda não acabou, Elena!

Elena fechou os olhos, respirando fundo.

Não iria cair nas provocações.

Não mais.

— Eu não preciso destruir ninguém, Sabrina — respondeu, calma. — Você já fez isso sozinha.

Antes que a outra pudesse retrucar, Elena desligou.

Devolveu o celular à mesa, sentindo o peso de mil guerras silenciosas.

Lúcio observava-a do sofá, o queixo apoiado nas mãos.

Ele admirava aquela força nela — aquela força que nem ela sabia que possuía.

— Você vai ficar bem — disse ele, convicto.

Elena olhou para ele, um sorriso triste brincando nos lábios.

— "Ficar bem" não é mais o que eu procuro, Lúcio — respondeu. — Eu quero ser livre.

E pela primeira vez, ela sentiu que podia ser.

Enquanto Elena aprendia a levantar sozinha, Matteo afundava.

Perdera o respeito.

Os amigos.

O emprego.

E agora, na solidão do próprio apartamento, encarava seu reflexo com um misto de desprezo e desespero.

Ele amava Elena.

Sempre amara.

Mas amava ainda mais a si mesmo.

E agora, sem ela, sem ninguém, não restava nada para amar.

Matteo pegou o celular.

Seu dedo hesitou sobre o contato de Elena.

Sabia que ela jamais atenderia.

Sabia que, para ela, ele era apenas uma cicatriz feia.

E por mais que doesse, ele merecia.

Soltou o celular na cama e, pela primeira vez em anos, chorou.

Naquela semana, a vida de Elena mudou de novo.

Editoras começaram a procurar por ela, querendo publicar seu livro — aquele que ela escrevera com lágrimas e raiva e esperança.

Pela primeira vez, sua voz seria ouvida de verdade.

Mas a maior mudança vinha de dentro.

Agora, ela acordava todos os dias decidida a ser fiel a si mesma — e não às expectativas dos outros.

Ainda sentia medo.

Ainda sentia dor.

Mas também sentia algo novo.

Coragem.

— Vai aceitar o contrato? — perguntou Lúcio, enquanto caminhavam pela praia, as ondas lambendo seus pés.

Elena chutou a água suavemente.

— Ainda estou decidindo — disse. — Eles querem mudar o título, querem mudar o final...

Lúcio sorriu de lado.

— Mas esse livro é você, Elena.

Ela assentiu.

— Eu sei. E não vou deixar ninguém mudar quem eu sou.

O sol se punha no horizonte, tingindo o céu de laranja e púrpura.

Lúcio pegou sua mão.

— Seja qual for sua escolha... eu vou estar aqui.

Ela o olhou.

Tanto amor.

Tanta lealdade.

Mas algo dentro dela ainda hesitava.

Ainda doía.

Ainda era frágil.

Talvez o amor fosse como uma casa destruída por uma tempestade: podia-se reconstruir, mas as rachaduras continuavam ali, invisíveis, lembrando de tudo o que se perdeu.

E Elena precisava aprender a conviver com elas.

Sem medo.

Sem vergonha.

Enquanto isso, Sabrina arquitetava sua vingança.

Se antes queria apenas ferir Elena, agora queria destruir tudo que ela amava.

E Lúcio era o próximo alvo.

Ela sabia do que ele tinha medo.

Sabia que havia um segredo que ele escondia — um passado que poderia derrubá-lo se viesse à tona.

Tudo o que precisava era encontrar a brecha certa.

E quando soube que Lúcio havia abandonado o ringue de boxe por causa de um acidente que causara anos atrás — um acidente que quase matou outro lutador —, soube que tinha a arma perfeita.

Era só puxar o gatilho.

Numa tarde qualquer, Lúcio recebeu uma intimação.

Processo criminal reaberto.

Nova investigação.

Sua carreira, sua vida, seu nome — tudo ameaçado.

Ele amassou o papel nas mãos, o coração batendo descompassado.

Sabia quem estava por trás daquilo.

E sabia que era questão de tempo até Elena descobrir.

E pior: que ela o olhasse com os mesmos olhos com que olhou Matteo um dia.

Cheios de decepção.

Cheios de dor.

Elena percebeu a mudança em Lúcio imediatamente.

Ele se tornara mais calado.

Mais ausente.

Como se estivesse carregando um peso enorme nas costas.

Uma noite, enquanto ele tomava banho, o celular dele apitou com uma mensagem.

Era do advogado.

"Precisamos conversar sobre a reabertura do caso. Está pior do que pensávamos."

Elena leu as palavras, o estômago revirando.

Ela não queria ser o tipo de pessoa que invadia a privacidade dos outros.

Mas Lúcio estava se afundando e ela precisava entender o porquê.

Quando ele saiu do banheiro, encontrou Elena sentada, segurando o celular.

Seu rosto dizia tudo.

— Por que não me contou? — perguntou ela, a voz baixa.

Lúcio fechou os olhos.

— Eu não queria te decepcionar.

Ela se levantou.

— Decepcionar? — riu, amarga. — Depois de tudo que passamos... ainda acha que pode me proteger mentindo?

Ele tentou tocá-la, mas ela recuou.

A dor em seus olhos era como uma lâmina atravessando o peito dele.

— Eu não sou perfeita, Elena — disse ele, rouco. — Fiz coisas das quais me arrependo. Coisas das quais não posso fugir.

Elena balançou a cabeça.

— E você acha que eu sou perfeita?

O silêncio entre eles era tão denso que quase podiam tocá-lo.

— Eu só queria te poupar — murmurou ele.

Ela piscou, as lágrimas ameaçando cair.

— Eu não preciso que me poupem, Lúcio. Preciso que caminhem ao meu lado.

E dizendo isso, virou-se e saiu.

Dessa vez, foi Lúcio quem ficou para trás.

Sabrina assistiu a tudo de longe.

Sorriu.

A rachadura estava feita.

Agora era só empurrar.

Naquela noite, Elena voltou para o apartamento vazio.

Sentou-se no chão da sala.

Chorou.

Mas não era apenas por Lúcio.

Era pela dor de confiar.

Pela dor de querer algo tão desesperadamente... e vê-lo escorregar pelos dedos.

Ela pensou em todas as vezes que alguém prometeu estar ao seu lado — e quebrou a promessa.

E então pensou em si mesma.

Na garota que sobreviveu a tudo.

Que aprendeu a se amar, mesmo quando ninguém mais a amava.

Secou as lágrimas.

Pegou o laptop.

E começou a escrever o segundo livro.

"Às vezes, o amor não é suficiente para salvar. Mas é suficiente para começar de novo."

Enquanto isso, Lúcio caminhava pela cidade sem rumo.

Cada passo ecoava em sua cabeça: "Você a perdeu. Você a perdeu."

Ele parou na porta do prédio dela.

Olhou para cima.

As luzes estavam apagadas.

Talvez ela já estivesse dormindo.

Ou talvez tivesse apagado ele da vida dela para sempre.

Com o coração pesado, Lúcio se virou.

Não percebeu a figura que o observava da sombra.

Sabrina.

Ela se aproximou, um sorriso falso nos lábios.

— Quer conversar?

Lúcio a encarou.

Sabia que ela era veneno.

Mas naquele momento, ele estava tão quebrado que qualquer distração parecia tentadora.

Ele assentiu.

E juntos desapareceram na noite.

No dia seguinte, Elena recebeu uma ligação.

Era Sofia.

— Precisa vir agora — disse, a voz urgente.

— O que aconteceu? — perguntou Elena, o coração acelerando.

— É o Lúcio... — houve uma pausa. — Você precisa ver com seus próprios olhos.

Sem pensar duas vezes, Elena correu.

Quando chegou ao café onde Sofia a esperava, o mundo desabou de novo.

Ali, no telão da televisão, estava a imagem que partiu seu coração:

Lúcio, saindo de um bar, abraçado a Sabrina.

Os flashes das câmeras iluminavam a cena como punhais.

Elena sentiu as pernas fraquejarem.

— Não — sussurrou.

Sofia tentou segurá-la.

— Pode ser um mal-entendido.

Mas Elena já conhecia essa história.

Já conhecia essa dor.

E dessa vez, não sabia se teria forças para passar por tudo de novo.

Lúcio não lembrava de muita coisa.

Lembrava de beber.

Lembrava de rir, sem humor.

Lembrava da presença de Sabrina, doce e venenosa.

Mas não lembrava de mais nada.

Quando viu as fotos na internet, sentiu o estômago virar.

Sabia o que parecia.

E sabia que Elena jamais acreditaria na verdade.

Que ele jamais se perdoaria.

E que, talvez, perdera a única pessoa que realmente amara.

Elena voltou para casa em transe.

O celular vibrava com mensagens, notícias, comentários.

Ela desligou.

Fechou as cortinas.

E pela primeira vez em muito tempo, desejou desaparecer.

Mas então viu, no fundo do quarto, o laptop aberto.

O livro inacabado.

A lembrança de quem ela era.

Do que havia prometido a si mesma.

Fechou os olhos.

Inspirou.

E decidiu.

Não seria essa a história que a definiria.

Não mais.

Algumas lágrimas caíram.

Mas desta vez, eram lágrimas de luta.

E luta era tudo o que ela conhecia.

(Continua...)

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***