A manhã nasceu pesada, cinzenta, abafada como um segredo mal contado.
Elena acordou com o coração acelerado, os restos de um sonho se dissipando como fumaça entre os dedos.
Havia visto Lúcio no sonho — ele sorria para ela em meio a um campo dourado —, mas ao tentar tocá-lo, ele desaparecia.
Sentou-se na cama, as mãos tremendo.
Por um momento, quase acreditou que tudo tinha voltado ao normal. Que as mentiras haviam sido esquecidas, que os corações partidos haviam sido colados.
Mas sonhos não eram lugares seguros.
E a realidade era ainda mais cruel.
Do outro lado da cidade, Matteo observava o celular, os olhos fixos na foto que recebera naquela manhã.
Uma imagem nítida: Elena nos braços de Lúcio, os dois tão próximos que pareciam ser um só.
A mandíbula de Matteo travou.
Ele se lembrava dos dias em que fora ele quem fazia Elena sorrir. Antes de Lúcio, antes de tudo desmoronar.
Agora, ela o olhava como se ele fosse um estranho.
E Matteo não suportava ser um estranho para ela.
Não depois de tudo que fizera. Não depois de tudo que sacrificara.
Atendeu à ligação antes mesmo que completasse o primeiro toque.
— Está tudo pronto — a voz fria de Sabrina atravessou a linha.
Matteo fechou os olhos, o estômago revirando.
— Tem certeza de que é o único jeito?
— Se você quiser Elena, precisa destruí-la primeiro — disse ela. — Só assim ela vai correr para os seus braços.
A ligação foi encerrada.
Matteo olhou novamente para a foto.
E, com um suspiro pesado, tomou a decisão que mudaria tudo.
Naquela tarde, Elena caminhava apressada para a livraria onde trabalhava.
Ainda sentia o peso da conversa com Lúcio da noite anterior, mas havia uma esperança silenciosa dentro dela que não ousava nomear.
Ela queria acreditar que ainda havia um "nós". Que as promessas feitas poderiam ser cumpridas.
Mas, enquanto atravessava a praça central, percebeu os olhares. As sussurrações.
Algo estava errado.
Muito errado.
Ao entrar na livraria, foi recebida por Sofia, a amiga de olhos grandes e coração inquieto.
— Elena — chamou, correndo até ela. — Você viu?
— Ver o quê? — perguntou, confusa.
Sofia mordeu o lábio, claramente hesitando.
Mas então, puxou o celular e mostrou a tela.
Elena sentiu o chão desaparecer sob seus pés.
Ali, estampado em todas as redes sociais, estava um vídeo dela.
Ela, entrando no apartamento de Matteo.
A legenda em letras garrafais gritava:
"Elena Duarte: flagrada traindo seu namorado com o melhor amigo dele."
A imagem congelava o momento exato em que Matteo a puxava para um abraço — o único abraço que ela aceitara durante os dias mais sombrios de sua vida.
Elena cambaleou para trás.
— Isso é mentira — sussurrou. — Isso é...
Sofia segurou seus braços.
— Eu sei. Mas, Elena, as pessoas... elas estão julgando.
As mãos de Elena tremiam.
A garganta parecia cheia de areia.
— Lúcio... ele viu isso?
Sofia hesitou.
— Acho que sim.
Foi como levar uma facada no peito.
Elena saiu correndo, o mundo girando ao seu redor.
Ela precisava vê-lo.
Precisava explicar.
Precisava — pela primeira vez — lutar.
Lúcio estava na antiga quadra onde costumavam jogar basquete aos domingos, a bola esquecida aos seus pés, os olhos perdidos no nada.
Ele não viu Elena se aproximar.
Não até sentir o cheiro familiar dela, aquela mistura de lavanda e esperança.
— Lúcio! — ela chamou, a voz embargada.
Ele virou-se lentamente.
E, ao vê-la, algo em seu olhar se partiu.
Elena estendeu as mãos.
— Não é verdade! — disse, desesperada. — Você tem que acreditar em mim!
Lúcio a encarou por longos segundos.
Então, sem dizer nada, virou-se e começou a caminhar.
Elena correu atrás dele.
— Por favor! — implorou, agarrando seu braço. — Olha pra mim!
Ele parou.
— Eu quero acreditar — disse, a voz áspera de dor. — Mas toda vez que fecho os olhos, é isso que eu vejo.
Você nos braços dele.
Elena sentiu as lágrimas descerem.
— Foi um momento! — gritou. — Eu estava destruída! Matteo foi meu amigo! Eu não fiz nada errado!
Lúcio fechou os olhos.
— Eu te amo, Elena — disse, a voz quebrada. — Mas amar nem sempre é suficiente.
E, com isso, ele se afastou.
Dessa vez, ela não correu atrás.
Dessa vez, ela apenas caiu de joelhos no chão frio, deixando a dor levar tudo o que restava.
De longe, Matteo observava.
E pela primeira vez em muito tempo, sentiu vergonha.
Ele queria Elena.
Mas não assim.
Não destruindo o que ela era.
Virou-se para ir embora, o peso das escolhas o esmagando.
Não viu Sabrina, parada ao longe, sorrindo satisfeita.
Naquela noite, Elena caminhou até a ponte onde costumava encontrar Lúcio para ver o pôr do sol.
Era ali que prometeram amor eterno.
Era ali que os sonhos haviam começado.
E, ironicamente, era ali que terminariam.
Sentou-se na beirada, os pés balançando sobre o vazio.
As lágrimas silenciosas caíam, sem pressa, como chuva fina.
Sentiu alguém se aproximar.
Matteo.
— Elena... — começou ele, a voz hesitante.
Ela não se virou.
— Vai embora, Matteo — disse, sem emoção.
Ele deu mais um passo.
— Eu nunca quis te machucar.
Ela riu sem humor.
— Mas machucou.
Matteo ajoelhou-se ao lado dela.
— Me deixa tentar consertar — pediu.
Ela olhou para ele finalmente.
E, por um instante, Matteo viu tudo: a dor, a raiva, a decepção.
E soube que não havia mais volta.
— Você não pode — disse ela, se levantando.
Sem olhar para trás, Elena caminhou para longe.
Deixando Matteo sozinho na ponte onde os sonhos terminavam.
E onde, talvez, um novo começo estivesse esperando.
Em algum lugar da cidade, Sabrina assistia às notícias explodirem nas redes.
Ela segurou a taça de vinho com elegância e sorriu.
— Um final perfeito para uma história imperfeita — murmurou.
Mas, nos olhos dela, havia a promessa de que aquilo era apenas o começo.
A guerra estava só começando.
E ninguém sairia ileso.
(Continua...)
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Atualizado até capítulo 61
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