O entardecer pintava o céu de tons dourados e sangrentos. O dia, que começara cinzento e sufocante, agora parecia zombar da dor de Elena com sua beleza quase cruel.
Ela caminhava sem rumo pelas ruas antigas do bairro, o casaco pendendo frouxo sobre os ombros, a mente tão vazia quanto seu peito.
Passara o dia evitando o mundo, ignorando mensagens, desligando ligações — inclusive as de Sofia, que sempre soubera quando Elena precisava de um respiro.
E agora, aqui estava ela. Como uma sombra, vagando entre vidas que seguiam adiante, como se o amor dela não tivesse acabado de morrer.
Parou diante de uma cafeteria velha, suas vitrines iluminadas com pequenas luzes amarelas que tremeluziam como vagalumes presos.
Ali, tantas vezes, Lúcio a esperara com um sorriso torto e as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta, o olhar brilhando como se ela fosse o mundo inteiro.
Elena fechou os olhos.
A lembrança a atingiu como um soco: Lúcio sorrindo, Lúcio prometendo que a amaria para sempre. Lúcio segurando suas mãos com tanta força que parecia capaz de impedir o tempo de passar.
Mas o tempo tinha passado.
E com ele, as promessas.
Do outro lado da rua, escondido na penumbra de uma árvore, Matteo a observava.
Ela parecia perdida. Tão quebrada quanto ele se sentira anos atrás, quando a vira escolher Lúcio pela primeira vez.
Agora, finalmente, eles estavam separados. Mas Matteo sabia: conquistar um coração despedaçado era ainda mais difícil do que roubar um inteiro.
Seu celular vibrou no bolso.
Ele atendeu sem tirar os olhos de Elena.
— Fale — murmurou.
— E então? — a voz ansiosa de Sabrina, sua irmã, atravessou a linha. — Você fez o que combinamos?
Matteo apertou o punho.
— Ainda não — respondeu entre dentes.
— Você prometeu — ela insistiu. — Elena não pode descobrir o que você fez. Se ela souber, tudo estará perdido.
Matteo fechou os olhos por um instante, lutando contra a culpa que ameaçava afogá-lo.
— Eu sei o que estou fazendo — disse, e desligou.
Quando abriu os olhos, Elena já havia sumido.
Praguejando baixinho, Matteo atravessou a rua.
Ele não podia perder o que passara a vida inteira tentando alcançar.
Elena andou até o parque central, onde o lago refletia o céu como um espelho quebrado.
Sentou-se em um dos bancos e encolheu o corpo, sentindo a solidão como um manto pesado sobre os ombros.
— Você sempre corre pra cá quando quer fugir do mundo.
Ela congelou.
A voz.
Aquela voz.
Lentamente, virou-se.
Lúcio estava ali, a poucos passos.
Os olhos vermelhos, a expressão cansada. As mãos tremendo levemente, como se lutar contra o próprio orgulho fosse uma batalha que ele estivesse perdendo.
Elena não disse nada.
Não sabia o que dizer.
Lúcio respirou fundo e caminhou até ela, cada passo tão cuidadoso quanto um homem atravessando um campo minado.
— Eu devia ter te escutado — disse, a voz baixa, trêmula. — Devia ter acreditado em nós.
Ela engoliu em seco.
— Eu não... — começou, mas a voz falhou.
Respirou fundo, tentando encontrar alguma coragem nas ruínas do que sentia. — Eu não fiz nada, Lúcio.
Ele assentiu, os olhos cheios de algo que parecia culpa.
— Eu sei — disse simplesmente.
Elena arregalou os olhos.
— Como?
Lúcio desviou o olhar para o lago, a expressão tensa.
— Matteo... — começou, e então parou, como se as palavras doessem. — Matteo armou tudo. Eu... eu vi as mensagens dele. As fotos.
Ele queria que eu acreditasse que você o traiu.
As pernas de Elena pareceram fraquejar, mesmo sentada.
— Então por que... — ela sussurrou, a voz carregada de dor. — Por que foi embora?
Lúcio passou as mãos pelos cabelos encharcados de suor frio.
— Porque eu sou um covarde — admitiu. — Porque achei que seria mais fácil desistir do que lutar.
Porque ver você nos braços dele... — a voz falhou — ...me destruiu.
Elena sentiu as lágrimas subirem novamente.
Não era justo.
Nada daquilo era justo.
— E agora? — ela perguntou, quase sem voz.
Lúcio ajoelhou-se diante dela, ignorando a terra molhada, ignorando tudo.
Pegou a mão dela entre as suas, segurando como se fosse a última âncora no mundo.
— Agora — disse, olhando dentro de seus olhos — eu luto.
Elena balançou a cabeça, as lágrimas escorrendo livremente.
— Eu não sei se consigo... — sussurrou.
— Então eu espero — prometeu ele, sua voz firme. — Até você confiar de novo. Até você acreditar de novo.
Eu espero, Elena. Por você, por nós.
Nem que demore a vida inteira.
As palavras pairaram no ar como um juramento antigo, sagrado.
Elena fechou os olhos, sentindo o peso da dor, mas também a luz tênue da esperança renascer.
Talvez, só talvez, o amor ainda estivesse vivo sob os escombros.
Talvez, ao entardecer, ainda houvesse promessas que valiam a pena serem feitas.
Do outro lado do parque, Matteo observava, as mãos cerradas em punhos tão fortes que os nós dos dedos ficaram brancos.
Ele viu Lúcio segurando Elena.
Viu as lágrimas.
Viu o sorriso frágil que ela esboçou.
E soube que a guerra estava apenas começando.
Ele não perderia Elena de novo.
Não importava o preço.
Enquanto isso, no apartamento de luxo de Sabrina, a irmã de Matteo andava de um lado para o outro, os saltos ecoando no chão de mármore.
Ela olhava para o celular, impaciente, antes de finalmente ligar para um número desconhecido.
— Temos que acelerar — disse assim que a ligação foi atendida. — Se Matteo não conseguir afastá-los, vamos ter que fazer do nosso jeito.
Uma pausa.
Sabrina sorriu friamente.
— Perfeito. Comece com ela.
Naquela noite, deitada em sua cama, Elena olhou para o teto escuro e permitiu-se, pela primeira vez em dias, sonhar.
Sonhar que, talvez, as promessas sussurradas ao entardecer ainda pudessem ser cumpridas.
Ela não sabia das sombras que se moviam silenciosamente ao seu redor.
Não sabia dos jogos, das mentiras que ainda seriam contadas.
Por ora, só sabia que o coração dela ainda batia — quebrado, mas vivo.
E, às vezes, isso era o suficiente para começar de novo.
(Continua...)
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Olga Mafalty
Tudo bem. Mesmo assim obrigada pela oportunidade. Vou procurar melhorar
2025-04-23
0
Mirtes Ivete Da Viana
já desisti de ler
2025-04-23
1
Angela S Silva
que confusão
2025-04-22
1