Nos Teus Braços, Meus Pecados!
A chuva caía em fios finos sobre a cidade adormecida, desenhando rios nas janelas iluminadas dos prédios antigos. Elena apertou o casaco contra o corpo, sentindo o frio atravessar a lã grossa, como se o vento soubesse exatamente onde ela era mais frágil.
A praça estava deserta. Apenas ela e suas escolhas. Apenas ela e sua solidão.
Olhou para o relógio — meia-noite. Ele havia prometido que estaria ali, que correria para os braços dela assim que pudesse. “Eu te protegerei de tudo”, ele dissera, naquela manhã apressada, naquela despedida que não parecia ser a última.
Mas agora, com os pés encharcados e o coração desmoronando, Elena sabia: promessas quebradas doíam mais do que cortes.
Atrás dela, passos ecoaram no empedrado molhado. Rápidos, ansiosos.
Elena virou-se com o coração disparado — mas não era Lúcio.
Era Matteo.
— Elena... — ele chamou, a voz rouca, carregada de uma emoção que ela não queria decifrar. — Ele não vai vir.
Ela engoliu em seco. O rosto de Matteo, sob a luz fraca dos postes, parecia ainda mais sombrio, ainda mais cruel.
— Você não sabe disso — retrucou, a esperança já se desintegrando em cada palavra.
Matteo avançou mais um passo. Seu olhar, tão diferente do primo, queimava de uma fúria contida, de um desejo sujo e amargo que Elena sempre fingira não ver.
— Eu avisei que ele não era pra você — disse, baixando a voz como se estivesse contando um segredo terrível. — Ele nunca foi.
As lágrimas vieram sem permissão. Quentes, desesperadas.
Elena odiava chorar na frente dele. Odiava lhe dar mais motivos para sorrir daquele jeito torto, vitorioso.
Mas essa noite, nem o orgulho resistiria.
— Por quê? — sussurrou, mais para si mesma do que para ele.
Matteo deu de ombros. Aproximou-se até que ela pudesse sentir o cheiro da chuva em sua pele.
Por um instante, Elena pensou em correr. Em desaparecer naquela noite que parecia feita só para trair amores.
Mas ela estava cansada de correr.
— Porque o amor dele nunca foi seu — Matteo disse, e então, mais baixo: — Mas eu sou.
Ela recuou, sentindo o coração tropeçar de medo e raiva.
— Você não entende nada — cuspiu.
Ele sorriu. Um sorriso triste, derrotado.
— Entendo mais do que você pensa.
E então, sem aviso, Matteo a puxou para si, segurando-a como se o mundo estivesse desmoronando ao redor deles — e talvez estivesse.
Elena bateu contra o peito dele, socou suas costas, tentou se soltar, mas Matteo apenas sussurrou, desesperado:
— Deixa eu te salvar.
As palavras ecoaram como um pedido de socorro.
Por um instante, só houve o som da chuva e da respiração descompassada deles.
E foi nesse instante que Lúcio apareceu.
Seu rosto estava pálido, a camisa grudada no corpo pela chuva, o olhar dilacerado.
Elena congelou.
Matteo afrouxou o abraço, mas não soltou.
Lúcio deu um passo em direção a eles — e parou.
— Então é isso — disse, sua voz quebrada como vidro. — Eu chego atrasado uma vez... e perco tudo.
Elena quis gritar que não era aquilo, que nada daquilo era o que parecia. Mas as palavras morreram em sua garganta.
Matteo sorriu, vitorioso, e largou Elena com um movimento delicado, como se dissesse: "Agora ela é sua... se você ainda a quiser."
Mas Lúcio apenas virou as costas.
E foi embora.
E, com ele, o futuro que Elena havia sonhado.
Horas depois, deitada na cama de seu quarto, Elena apertava o travesseiro contra o rosto, sufocando os soluços que teimavam em escapar. Sofia, sua melhor amiga, tentava dizer algo ao telefone, mas a dor tornava tudo indistinto.
Ela havia esperado. Acreditado. Entregado tudo.
E agora, tudo o que restava eram promessas quebradas... e lágrimas que não sabiam secar.
O celular vibrava incessantemente. Mensagens que ela não queria ler. Vozes que ela não queria ouvir.
Elena desligou o aparelho e fechou os olhos.
Se havia algo que aprendera naquela noite maldita era que o amor não era feito de palavras bonitas, nem de promessas sussurradas ao entardecer.
O amor, de verdade, era feito daquilo que sobrevivia depois da dor.
E ela não sabia se ainda tinha algo para sobreviver.
Em algum lugar da cidade, Matteo observava a noite pela janela de seu quarto. O copo de uísque pendia em sua mão, esquecido.
Ele havia vencido?
Ou havia apenas destruído a única coisa que lhe dava sentido?
O gosto da vitória era amargo.
Ele sussurrou para si mesmo, como uma prece:
— Você ainda vai me amar, Elena. Nem que seja pela dor.
E do outro lado da cidade, Lúcio, debruçado sobre o volante do carro estacionado, chorava como um menino.
Ele sabia que havia chegado tarde.
Mas o que ele não sabia... era que a traição que acabara de presenciar havia sido cuidadosamente arquitetada — e que Elena era tão vítima quanto ele.
O mundo que eles conheciam acabara de ser despedaçado.
E ninguém sairia ileso.
(Continua...)
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Luzia Ribeiro
credo eu peguei trauma depois que li umas histórias com esse povo esquisito quando vejo esses olhos puxados na capa ou a sapateira na entrada caio fora gente esquisita costumes horríveis a mulher é escrava da sogra a cara dela é pandeiro todos batem fazem abortos como se tivessem bebendo uma água enfim é horrível
2025-04-19
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