Capítulo 3
O domingo amanheceu com céu nublado, e o clima dentro do apartamento parecia seguir o mesmo padrão. O silêncio pairava denso, como se cada um sentisse que algo estava prestes a mudar. Depois da explosiva visita de Paola, Isabela esperava uma reação — e, para sua surpresa, ela veio antes do que imaginava.
Logo após o café da manhã das crianças, que ela mesma preparou com panquecas em forma de ursinho, Leonardo surgiu no corredor. Usava jeans escuros e uma camisa social com as mangas dobradas, como quem tentava parecer casual — mas tudo nele ainda exalava rigidez. Isabela já estava no tapete da sala brincando com os filhos, os cabelos presos em um coque bagunçado e vestindo uma calça legging preta e uma camiseta larga dos Vingadores, cedida por Davi.
Leonardo parou diante da cena.
— Precisamos conversar — disse, sério.
Isabela se levantou de imediato. Laura protestou com um biquinho:
— Mas a gente ainda tava brincando, papai...
— Vai ser rapidinho, princesa. A tia Helena vai brincar com vocês.
Helena, que já tinha chegado para o café e testemunhava tudo da cozinha, apenas ergueu as sobrancelhas e acenou, assumindo a brincadeira com um sorriso.
Isabela acompanhou Leonardo até o escritório. Era a primeira vez que entrava ali. O ambiente era sóbrio, com móveis escuros, uma estante repleta de livros organizados com perfeição e uma poltrona de couro que denunciava longas noites de trabalho. Ele fechou a porta atrás de si e indicou que ela se sentasse. Ficou de pé, de costas para ela, encarando a janela com as mãos nos bolsos.
— Fui informado sobre o que aconteceu ontem — disse ele, sem se virar.
— Ah, sim. Sua irmã deve ter contado.
— Helena contou... com entusiasmo — ele respondeu, quase seco, e então se virou. — Paola também me ligou. Disse que você a agrediu verbalmente. E que quase a agrediu fisicamente.
Isabela cruzou os braços e sustentou o olhar dele.
— Quase. Mas só quase.
Leonardo arqueou a sobrancelha.
— Então está admitindo?
— Estou admitindo que me defendi. Ela passou dos limites. Falou absurdos na frente das crianças, tentou me humilhar, como se tivesse algum direito sobre essa casa. Eu jamais bati em ninguém, senhor Vasconcellos. Mas se ela me desafiar de novo, não garanto que serei tão paciente.
O CEO manteve o olhar fixo nela por alguns segundos. Era difícil decifrar o que pensava. Seu rosto era uma máscara de controle. Mas havia um brilho diferente nos olhos. Algo novo. Fascínio, talvez?
— Você não tem ideia do tipo de mulher que Paola é. Eu só... não quero confusão.
— E eu não vim pra causar nenhuma. Vim pra cuidar dos seus filhos, e é isso que vou continuar fazendo. Mas não aceito ser humilhada por ninguém. Nem por ela. Nem por você.
Ele se aproximou, o rosto sério.
— Você sempre foi assim?
— Assim como?
— Tão... firme. Tão determinada.
— Só quando precisa — respondeu, firme. — O senhor me contratou pra cuidar das crianças. Mas elas vão me ter inteira. Não sou do tipo que vira o rosto quando algo está errado. Nem mesmo pro chefe.
Leonardo abriu um pequeno sorriso — o primeiro verdadeiro desde que ela chegara. Um sorriso que não chegou aos olhos, mas ainda assim, real.
— Pode ir. Obrigado pela sinceridade.
Isabela assentiu e saiu, deixando o perfume suave dela pairando no ambiente.
Nos dias que se seguiram, Leonardo começou a observá-la de forma diferente. Não comentava nada, não mudava sua postura fria, mas seus olhos a seguiam com mais frequência. Ele começou a notar detalhes antes ignorados: a forma como Isabela falava com as crianças, com firmeza e carinho; como sabia exatamente quando Davi estava prestes a fazer birra e o acalmava com um jogo de palavras; como Laura confiava nela de forma quase instintiva.
E também percebeu outros detalhes, mais sutis... mais perigosos.
Como o modo como a camiseta dela subia levemente quando ela se abaixava para recolher brinquedos. Ou como os cabelos desgrenhados após correr com as crianças pelo corredor davam a ela um charme quase impossível de ignorar. Mas Leonardo, orgulhoso e blindado, afastava esses pensamentos sempre que surgiam.
Pelo menos tentava.
Na quinta-feira, à tarde, a paz foi novamente quebrada. A campainha tocou, e Isabela foi atender.
Diante dela, estava uma mulher de cabelos loiros perfeitos, corpo escultural e um olhar venenoso. Usava um vestido que mais revelava do que escondia, e carregava uma bolsa de grife pendurada no ombro.
— Boa tarde — disse, sem sorrir. — Leonardo está?
— Está trabalhando — respondeu Isabela, educada. — Posso ajudar?
— Diga a ele que Juliana está aqui. Uma velha conhecida. E que ele vai querer me ver.
Isabela franziu a testa.
— Acho melhor não incomodá-lo. Está em uma videoconferência com investidores.
Juliana riu, jogando os cabelos para trás.
— Você é só a babá, certo? Não se meta em assuntos que não entende.
Isabela respirou fundo, mantendo a calma.
— Só estou seguindo ordens. Posso anotar um recado.
— Pode anotar isso — disse Juliana, baixando o tom e se aproximando perigosamente. — Você pode se arrumar toda, bancar a mãezinha exemplar e tentar atrair atenção, mas ele nunca vai querer algo sério com uma mulher como você. E todos sabem disso. Você é apenas a babá bonitinha da vez.
Isabela não respondeu. Apenas ergueu a mão com firmeza e deu um tapa sonoro na cara da mulher, que a fez cambalear um passo para trás.
— Isso é pra você aprender a respeitar quem está trabalhando com dignidade. E agora, saia da casa.
Juliana a encarou, segurando o rosto avermelhado, chocada.
— Você... vai se arrepender!
— Pode tentar. Mas da próxima vez, não vai ser só um tapa.
A porta foi fechada com firmeza.
Mais tarde, Leonardo recebeu a gravação da câmera do hall enviada pela segurança do prédio. Viu toda a cena. Desde o momento em que Juliana chegou até o tapa.
E ali, pela primeira vez em muito tempo, ele riu sozinho. Riu de verdade.
— Essa mulher vai me matar — murmurou, balançando a cabeça.
Mas quando a encontrou mais tarde no quarto das crianças, não disse uma palavra sobre o assunto. Apenas ficou parado, observando enquanto ela lia para Laura, a voz doce, a expressão tranquila, como se o tapa daquela tarde não tivesse existido.
Aos poucos, a armadura de gelo começava a trincar.
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Atualizado até capítulo 22
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