A Babá dos Filhos do CEO
Capítulo 1
O céu nublado daquela manhã em São Paulo parecia pressagiar algo importante na vida de Isabela. Com os cabelos castanhos presos em um coque firme, e o currículo apertado entre os dedos nervosos, ela respirou fundo antes de tocar o interfone de um dos condomínios mais luxuosos da cidade. Seu coração batia acelerado. A vaga era para babá em tempo integral — com moradia incluída — e ela sabia que não poderia desperdiçar essa chance.
"Alô?" A voz robótica da portaria a fez despertar de seus pensamentos.
— Isabela Mello, vim para a entrevista com o senhor... — Ela hesitou. — Leonardo Vasconcellos.
“Pode entrar.”
As portas do prédio abriram-se com um clique. O saguão era revestido de mármore, e o luxo da recepção contrastava violentamente com a simplicidade da vida de Isabela. O elevador a levou ao último andar. Um andar inteiro reservado à cobertura do CEO da Vasconcellos Holdings, uma das maiores empresas de tecnologia do país.
Ao sair, foi recebida por uma mulher jovem, de cabelos lisos e um sorriso simpático.
— Você deve ser a Isabela. Eu sou Helena, irmã do Leonardo. — Ela estendeu a mão. — Ele está em uma reunião agora, mas pediu que eu conduzisse a entrevista. Você aceita um café?
— Sim, por favor — respondeu, sentindo-se um pouco mais à vontade.
As duas sentaram-se na ampla sala de estar, decorada com bom gosto. Helena era gentil, falava com calma e fazia perguntas pertinentes. Queria saber sobre a experiência de Isabela com crianças, sua disponibilidade para viagens, e como ela lidava com conflitos. Quando o assunto virou para os pequenos, Isabela se animou.
— Eu trabalhei com uma família durante três anos, cuidando de dois irmãos. Um deles era autista, o outro tinha déficit de atenção. Amei aquela fase, aprendi muito.
Helena sorriu, visivelmente satisfeita.
— Os filhos do meu irmão são... intensos. Laura tem cinco anos, e Davi, sete. Eles precisam de alguém firme, mas que saiba dar carinho. E, com o histórico que você tem... acho que vai se sair bem.
Antes que Isabela pudesse responder, passos firmes ecoaram pelo corredor. A porta se abriu com brusquidão, e Leonardo Vasconcellos entrou.
Ele era alto, vestia um terno cinza impecável e carregava uma presença avassaladora. Os cabelos escuros estavam levemente bagunçados, e os olhos — tão penetrantes quanto frios — pousaram em Isabela como se a analisassem por inteiro.
— Helena, pensei que fosse uma entrevista rápida — disse, seco, sem sequer cumprimentar Isabela.
— Leonardo, essa é a Isabela. Ela tem experiência, e—
— Ótimo — interrompeu. — Crianças precisam de constância. Não estou procurando alguém para brincar de casinha. Quero disciplina, organização, e discrição. E nada de se meter na minha vida pessoal. Ficou claro?
Isabela se manteve firme, mesmo com o tom ríspido.
— Ficou. E eu também não estou aqui para brincar, senhor Vasconcellos. Vim trabalhar.
Ele arqueou uma sobrancelha, surpreso pela resposta direta. Depois, virou-se para a irmã:
— Helena, contrate-a. Faça os papéis.
E saiu, sem sequer olhar para trás.
No fim da tarde, Isabela já havia deixado suas malas no quarto de hóspedes reservado para ela. O apartamento era imenso, mas o que mais chamara sua atenção era o quarto das crianças: um espaço vibrante, repleto de brinquedos, livros e uma pequena barraca de camping. Os dois pequenos, inicialmente tímidos, logo cederam ao jeito caloroso dela.
— Você vai morar aqui com a gente? — perguntou Davi, desconfiado.
— Sim, se vocês me deixarem, claro.
Laura correu e agarrou sua cintura, sorrindo.
— Eu quero! Você tem cheiro de flor.
A gargalhada de Isabela encheu o quarto, leve e sincera. Em menos de duas horas, já havia conquistado o afeto deles. A babá anterior havia pedido demissão após três semanas. Não era fácil lidar com os dois sozinha, ainda mais com um pai ausente e frio.
Naquela noite, após colocá-los para dormir com uma historinha contada com voz doce, Isabela desceu até a cozinha para tomar um chá. Encontrou Helena lá, mexendo em algo no fogão.
— Está se saindo melhor do que eu esperava — disse ela, entregando uma xícara. — Eles gostaram de você. E isso... é raro.
Isabela sorriu, pegando a caneca com as mãos quentes.
— Eles são doces. Precisam de atenção.
— Coisa que meu irmão quase nunca tem tempo de dar. — Helena suspirou. — Ele não era assim... Antes da morte da esposa.
O silêncio pairou por alguns segundos.
— Eu não sabia. Me desculpe.
— Faz três anos. E desde então ele construiu uma muralha. Vive cercado de mulheres que só querem aparecer em colunas de fofoca. E ele deixa, como se isso não o afetasse. Mas afeta os filhos.
Isabela ouviu atentamente. Havia muito mais ali do que o homem arrogante com quem ela havia trocado poucas palavras.
— Eu só quero fazer meu trabalho bem-feito — disse. — E, quem sabe, tornar as coisas mais leves para essas crianças.
Helena sorriu com sinceridade.
— Já está fazendo. Mas esteja preparada... Algumas dessas mulheres que rondam meu irmão não vão gostar de você. E elas podem ser cruéis.
No dia seguinte, Isabela acordou cedo e preparou um café reforçado para os pequenos. Enquanto comiam panquecas com morangos, Leonardo apareceu, pronto para sair. Estava ao telefone, falando em inglês, e ignorou completamente a babá. Quando desligou, observou os filhos com um olhar de rápida ternura.
— Escovem os dentes depois do café. Não deem trabalho.
— A gente não dá trabalho, pai... — disse Laura, manhosa.
Ele fez um carinho apressado no cabelo da filha e virou-se para Isabela.
— Saio às oito e retorno às vinte. Mantenha-os ocupados. Nada de televisão o dia inteiro.
— Sim, senhor Vasconcellos.
Ele hesitou por um momento, como se esperasse algo mais, mas ela apenas devolveu o olhar firme. E então ele saiu.
Mais tarde, enquanto brincavam no parque do condomínio, uma mulher alta, loira e com roupas de grife se aproximou. Usava óculos escuros e um sorriso que não chegava aos olhos.
— Você deve ser a nova babá. — Sua voz carregava desdém.
— Sim. Posso ajudar?
— Eu sou Paola. Namorei o Leonardo por mais de um ano. Essas crianças me adoravam.
Isabela sorriu educadamente.
— Imagino. Agora, se me der licença, preciso manter minha atenção nas crianças.
— Já entendi — disse Paola, rindo de lado. — Você acha que pode ficar por aqui por muito tempo, né? As outras também achavam. Ele nunca fica com uma babá por mais de um mês. Ou você acha que é especial?
Isabela se virou, encarando-a sem sorrir.
— Se ele quiser me mandar embora, tudo bem. Mas você não vai falar comigo como se eu fosse menos do que você. E se tentar fazer isso na frente das crianças de novo, vai se arrepender.
Paola franziu o cenho, surpresa com a ousadia.
— Você não sabe com quem está lidando.
— E você também não — respondeu Isabela, se afastando com firmeza.
Naquela noite, enquanto preparava o banho das crianças, ouviu a porta da sala se abrir. Leonardo voltou mais cedo.
— Como eles se comportaram? — perguntou, sem sequer tirar o paletó.
— Foram ótimos. Laura está desenhando na sala. Davi leu dois capítulos do livro novo.
Ele assentiu, parecendo satisfeito.
— Fique atenta. Paola me mandou mensagem dizendo que você foi grosseira com ela no parque.
Isabela cruzou os braços, encarando-o.
— Ela foi desrespeitosa comigo na frente dos seus filhos. Achei que você fosse se importar mais com isso.
Leonardo a olhou, os olhos se estreitando.
— Não crie problemas.
— Eu não crio, senhor Vasconcellos. Mas também não aceito ser tratada como lixo.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, depois virou-se e foi para seu escritório, encerrando o assunto.
Mas, antes de entrar, murmurou:
— Mantenha distância dessas mulheres. Elas são venenosas.
Isabela sorriu de canto. Pela primeira vez, sentiu que talvez houvesse mais camadas naquele homem frio do que aparentava. E, mesmo que ela não quisesse admitir... estava começando a se interessar em descobri-las.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 22
Comments