Celine passou o dia seguinte em um estado estranho, entre a inquietação e a expectativa. Era como se uma energia nova a envolvesse, algo que a puxava para fora da rotina. Ethan. O nome dele ecoava na mente dela como uma canção inacabada.
Ela tentou se distrair — respondeu e-mails, editou algumas fotos antigas, organizou o material de um ensaio que faria no fim de semana —, mas tudo parecia desinteressante perto da lembrança da noite anterior.
Ao anoitecer, vestiu um casaco leve e saiu com a câmera novamente. As ruas pareciam iguais, mas havia algo diferente nela. Cada passo a levava mais perto de algo desconhecido — ou alguém.
Quando chegou ao mesmo ponto onde havia encontrado Ethan, o lugar estava vazio. Apenas o lampião amarelado continuava iluminando a calçada de pedras. Ela parou, sentindo o frio tocar a pele, e esperou.
Minutos se passaram.
Ela começava a se perguntar se ele viria quando sentiu uma mudança no ar — como se o vento tivesse parado por um instante.
— Achei que talvez não viesse — disse a voz conhecida.
Ela virou e o encontrou ali, de pé, como se tivesse surgido das sombras. Seu rosto sereno, olhos observando-a com uma calma que parecia milenar.
— Eu quase não vim — ela admitiu.
— Mas veio — ele respondeu, e havia um leve alívio em seu tom.
Eles caminharam lado a lado por alguns minutos, em silêncio. Não havia pressa. Celine gostava da forma como o tempo parecia desacelerar quando estava perto dele.
— Você falou sério ontem? Sobre não envelhecer? — ela perguntou, sem olhar diretamente.
Ethan parou de andar, e ela também.
— Sim — ele disse. — Tenho duzentos e oito anos.
Ela soltou uma risada nervosa.
— Isso é sério?
— Não espero que acredite. A maioria não acreditaria. Mas não sou como a maioria.
Celine o encarou. Não havia sinais de loucura, nem exagero em suas palavras. Havia apenas uma firmeza tranquila. Como se dizer aquilo fosse tão natural quanto confessar um segredo.
— Você é... um vampiro? — disse, quase sussurrando.
Ethan não respondeu de imediato. Observou o céu por um instante, depois voltou os olhos para ela.
— Sou. Mas não como as histórias contam.
Celine não sabia o que pensar. Não sentia medo, curiosamente. Sentia curiosidade, uma vontade quase infantil de saber mais.
— E como são os vampiros, então?
— Não somos monstros. Ao menos, nem todos. Alguns de nós escolheram outro caminho. Viver à margem. Observar o mundo sem interferir.
— E você?
— Eu observo. Tento existir em silêncio. Mas às vezes, o silêncio se torna pesado demais.
Ela entendeu mais do que gostaria de admitir. Aquela sensação de não pertencer, de ver o mundo de fora — ela conhecia bem.
— Você sente falta de ser... humano?
— Às vezes. Sinto falta da simplicidade das emoções. Do passar do tempo. Do envelhecer ao lado de alguém.
A última frase a tocou de forma estranha, profunda.
— E você, Celine? Por que veio?
Ela pensou por um momento antes de responder.
— Porque me senti viva ontem. Pela primeira vez em muito tempo.
Ethan sorriu. Um sorriso leve, que a fez sorrir também.
— Posso te mostrar algo? — ele perguntou.
Ela assentiu. Ele a guiou até um beco escondido, onde havia uma pequena passagem entre dois muros cobertos de hera. Atrás deles, um antigo jardim abandonado se revelava, esquecido pelo tempo, mas ainda encantador.
— Descobri este lugar há mais de cem anos. Ninguém mais vem aqui.
Ela olhou ao redor. Flores silvestres cresciam em meio às pedras, e a lua iluminava o jardim com uma luz prateada e mágica. Era como estar em outro mundo.
— Isso é lindo — ela disse.
— Queria compartilhar com alguém, algum dia. E ontem... senti que talvez fosse você.
Celine se virou para ele. O olhar de Ethan era calmo, mas cheio de algo que ela não conseguia nomear — talvez solidão, talvez esperança.
Ela não disse nada. Apenas se aproximou, devagar, e ficou ao lado dele, os ombros quase se tocando.
E naquela noite fria de outono, no meio de um jardim esquecido pelo tempo, Celine sentiu que não estava mais sozinha.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 24
Comments