Extra 3

Capítulo Extra 3 – Marcas Invisíveis

A semana que se seguiu à conversa com Damian foi uma montanha-russa emocional para Ethan. Ele tentava se convencer de que estava tomando as decisões certas, de que estava no controle de sua vida, mas cada vez que se encontrava sozinho, sua mente e seu corpo pareciam querer ir em direções opostas.

Ele passava os dias com uma sensação de vazio crescente, um buraco no peito que nada parecia preencher. Mesmo com o trabalho e a rotina ocupada, sempre havia aquele pensamento persistente: Damian. As palavras dele ressoavam na cabeça de Ethan. “Eu não vou desistir de você.” A sinceridade nos olhos de Damian o atormentava. Como ele poderia acreditar que alguém realmente queria estar ao seu lado sem interesse ulterior?

Ethan não tinha respostas para essas perguntas, e, por mais que tentasse, não conseguia afastar Damian de seus pensamentos.

Era uma tarde fria quando a discussão aconteceu. Foi uma briga tão inesperada quanto dolorosa.

Ele estava no café favorito que costumava frequentar, tentando manter-se ocupado, quando Damian apareceu de repente. Era difícil dizer o que o fez ir até lá, se foi o desejo de ver Ethan, a preocupação que ainda restava, ou apenas o instinto de saber que algo estava errado. Mas, antes que Ethan pudesse sequer protestar, a conversa começou.

— Ethan, você está se afastando. Eu percebo. — Damian disse, sua voz direta, sem rodeios. Não havia raiva em suas palavras, mas uma tristeza que Ethan reconhecia muito bem, a tristeza da frustração, da impotência.

Ethan sentiu o peito apertar. Ele odiava admitir, mas Damian estava certo. Ele estava se afastando. Mas ele não sabia como não fazer isso. Não sabia como lidar com os próprios sentimentos, os medos que o consumiam. Ele só queria que Damian fosse embora, que as coisas voltassem a ser simples. Mas nada sobre Damian, ou sobre ele mesmo, era simples.

— Eu não estou me afastando, só estou… tentando entender o que está acontecendo comigo. — Ethan disse, tentando manter a calma, mas as palavras saíram mais frias do que imaginava. Ele sabia que estava mentindo, que estava se afastando sim, mas não conseguia enfrentar os sentimentos à flor da pele.

Damian olhou fixamente para ele, sem desviar o olhar. Seus olhos eram profundos, quase como se quisessem penetrar na alma de Ethan. Ele podia ver as barreiras que Ethan estava levantando, mas não dizia nada. Em vez disso, ele apenas se sentou à mesa e cruzou as pernas, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Ethan, você está com medo de mim, não está? — A pergunta foi simples, mas acertou em cheio.

Ethan engoliu em seco. Ele não queria admitir isso. Não queria aceitar que Damian estava tão perto da verdade. O medo sempre fora seu companheiro, mas agora estava mais forte do que nunca. Ele estava com medo de Damian, sim, mas também estava com medo de si mesmo, do que sentia.

— Eu não sei do que estou com medo. — Ethan disse, sua voz quebrando ligeiramente. — Eu só… não sei. Não sei se consigo me entregar. Não sei se posso confiar em você.

Damian manteve o silêncio, permitindo que as palavras de Ethan se instalassem no ar entre eles. Mas, em vez de reagir, ele apenas se inclinou para frente e falou com uma calma desconcertante.

— Eu entendo, Ethan. Eu sei que você tem seus medos, suas cicatrizes. E eu sei que é difícil acreditar que alguém possa estar aqui por você, sem esperar nada em troca. Mas eu não estou aqui para te fazer mal. Não estou aqui para te machucar.

Ethan mordeu o lábio, sentindo a dor de suas próprias palavras. Ele odiava isso. O fato de que Damian parecia entender tudo o que ele estava sentindo, enquanto ele mesmo não conseguia entender nada. Damian parecia tão seguro de si, tão confiante em suas próprias intenções. Era como se ele soubesse exatamente o que queria e estava disposto a esperar por isso.

Mas Ethan não sabia. Ele ainda não sabia o que queria. Não sabia se estava pronto para dar esse passo.

— Não é que eu não confie em você, Damian. Eu… é que eu não confio em mim mesmo. — A revelação saiu sem que Ethan pudesse impedir. Era uma vulnerabilidade que ele nunca imaginou que diria em voz alta.

Damian ficou em silêncio por um momento, como se estivesse processando as palavras de Ethan. Depois, com a voz mais suave do que antes, ele disse:

— Então, vamos dar um passo de cada vez. Eu não quero que você faça nada por obrigação, Ethan. Eu não vou te pressionar. Só quero estar aqui, ao seu lado, até que você decida o que quer.

As palavras de Damian tocaram algo profundo dentro de Ethan. Era difícil acreditar em tudo isso, mas ao mesmo tempo, algo dentro dele queria acreditar. Algo dentro dele desejava desesperadamente que Damian fosse real. Mas e o medo? E as cicatrizes que ele carregava? Como poderia se entregar assim?

Damian olhou para ele, com uma intensidade que Ethan não sabia como lidar. Ele não estava pedindo nada. Não estava exigindo nada. Mas, em algum lugar dentro de Ethan, uma parte dele sabia que, talvez, o maior medo não fosse confiar em Damian, mas confiar em si mesmo.

— Eu preciso de tempo, Damian. Não posso simplesmente… — Ethan começou a dizer, mas foi interrompido pela mão de Damian que se estendeu sobre a mesa, com um gesto simples, mas cheio de significado.

— Eu sei. E vou esperar o tempo que você precisar. — Damian respondeu, e havia algo nas palavras dele que fez Ethan sentir uma sensação estranha no peito. Não era alívio, mas algo que se assemelhava a uma esperança distante, algo que ele não sabia se merecia, mas que talvez fosse exatamente o que ele precisasse.

Ethan olhou para a mão de Damian sobre a mesa. Ele estava ali, esperando, sem pressa, sem cobrança. Ele nunca tinha experimentado isso antes. Mas, por algum motivo, sentiu que talvez, com o tempo, ele fosse capaz de confiar. Talvez não fosse hoje, nem amanhã, mas talvez, um dia, ele fosse capaz de dar esse passo. E, por enquanto, isso parecia o suficiente.

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