Enquanto Evangeline explorava o seu mundo imaginári, o seu "clone" — a versão dela que havia ficado no mundo real — continuava a viver sua vida cotidiana. Mas algo estava errado. Diferente da verdadeira Evangeline, essa versão não possuía dúvidas, inseguranças ou dores profundas. Ela era uma casca perfeita, uma simulação do que Evangeline sempre quis ser: confiante, determinada, e emocionalmente estável. No começo, tudo parecia funcionar bem. A Evangeline do mundo real acordava cedo, fazia exercícios, socializava sem medo e trabalhava sem se sentir sobrecarregada. Mas logo as pessoas ao seu redor começaram a notar algo diferente. Ela estava... boa demais.
Sua mãe, normalmente indiferente, passou a observá-la com estranheza.
— Você está diferente... — murmurou um dia, enquanto a filha organizava a casa com uma energia que nunca tivera antes.
Os amigos dela também começaram a sentir essa mudança. Antes, Evageline era mais reservada, um pouco ansiosa, sempre tentando encontrar seu lugar no mundo. Agora, ela parecia... artificial. Suas reações eram sempre perfeitamente equilibradas, como se estivesse encenando um papel.
Mas o verdadeiro problema surgiu quando sua amiga mais próxima, Camila, percebeu que havia algo errado de verdade.
— Evangeline... você lembra do dia em que fomos ao parque e choveu do nada? — perguntou, testando-a.
A clone sorriu.
— Claro! Foi um dia maravilhoso.
Mas Camila sabia que não havia sido. Naquele dia, Evageline chorou e desabafou sobre suas dores mais profundas. Algo que essa nova versão dela claramente não lembrava.
— Você não é a Evangeline, não é? — Camila sussurrou, os olhos arregalados.
A clone apenas sorriu, mas dessa vez, não disse nada. No momento em que Evageline decidiu voltar, a clone congelou. Seus olhos perderam o brilho, e seu corpo ficou rígido por alguns segundos. Então, como se nunca tivesse existido, simplesmente desapareceu.
Evageline abriu os olhos no mundo real, deitada em sua cama, sentindo a realidade retornar como um peso sobre seu peito. Sua cabeça girava, o corpo estava quente, e um leve formigamento percorria suas mãos. Ela estava de volta. Mas a pergunta que ecoava em sua mente era: quem percebeu sua ausência? E o que sua versão perfeita deixou para trás?
Evageline abriu os olhos lentamente, sentindo a claridade do quarto invadir sua visão. O ventilador girava no teto, e o som distante dos carros na rua ecoava no silêncio. Por um momento, sentiu como se estivesse presa entre dois mundos, sem saber qual deles era o verdadeiro. O peso do seu corpo parecia estranho, como se estivesse voltando para uma roupa que não usava há anos. Ela se sentou na cama, respirando fundo. O cheiro do lençol, o toque do travesseiro, o som do relógio marcando os segundos... tudo era real. Mas havia algo errado. Seus dedos tremiam quando pegou o celular ao lado da cama. O visor indicava que horas haviam se passado desde sua última memória real. E se alguém tivesse percebido sua ausência? Com o coração acelerado, abriu suas mensagens. A última conversa com Camila ainda estava lá, mas havia algo diferente. Uma nova mensagem dela, enviada poucos minutos atrás:
"Evageline, onde você esteve ontem? Você não estava agindo como você mesma. Estou preocupada."
Evageline sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Sua clone realmente viveu no mundo real. E alguém notou.
Ela se levantou rapidamente e foi até o espelho. Seus olhos estavam fundos, como se tivesse dormido por dias, e seu cabelo estava bagunçado. Mas e sua clone? Como ela agia? O que ela deixou para trás?
Com passos cautelosos, Evageline saiu do quarto. A casa estava silenciosa, mas algo na energia do lugar parecia diferente. Sua mãe estava na cozinha, tomando café, mas quando seus olhos encontraram os de Evageline, seu olhar foi longo, quase desconfiado.
— Bom dia... — sua mãe disse, hesitante.
— Bom dia. — Evangeline respondeu, sentindo o peso daquele momento.
Sua mãe permaneceu em silêncio por alguns segundos antes de finalmente perguntar:
— Você está se sentindo bem? Ontem... você estava diferente. Até me chamou para assistir um filme juntas. Isso foi… incomum.
Evangeline sentiu um nó na garganta. Sua clone tentou consertar as coisas por ela?
— Eu… só queria fazer algo diferente.
A resposta pareceu satisfazer sua mãe, mas Evageline sabia que não seria tão fácil apagar a sensação de que algo estava errado.
Enquanto tentava processar tudo, sentiu um arrepio familiar percorrer sua pele. Seu corpo ficou levemente dormente, e um sussurro ecoou em sua mente, como uma brisa vinda de um outro mundo. "Evangeline..." Ela reconheceu a voz imediatamente. Eliel. Fechou os olhos por um instante e, como se estivesse entrelaçada entre duas realidades, viu uma imagem dele. Ele estava parado na praia do mundo alternativo, olhando para o horizonte, mas seus olhos carregavam uma urgência.
"Você precisa voltar."
Evangeline abriu os olhos, sentindo seu coração martelar contra o peito.
Ela mal havia voltado ao mundo real e já estava sendo chamada de volta.
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Atualizado até capítulo 28
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