O cenário ao nosso redor se transformou. A estrada de terra desapareceu, e, no lugar dela, surgiu uma casa grande, com paredes brancas e janelas azuis. Meu coração deu um salto. Eu conhecia essa casa. Eu a imaginei tantas vezes, escrevendo sobre ela em meu caderno, sonhando com cada detalhe. Mas algo estava errado. As portas estavam entreabertas, e havia uma estranha neblina ao redor, como se o tempo estivesse parado naquele lugar. Meu peito apertou.
— Minha família… eles estão aqui?
Eliel assentiu.
— Sim. Mas antes de entrarmos, preciso que você esteja preparada.
Engoli em seco.
— Preparada para quê?
Ele segurou meu rosto com delicadeza, seus olhos dourados refletindo a luz da neblina.
— Para aceitar que nem tudo que imaginamos é como esperamos que seja.
Meus dedos tremiam quando dei o primeiro passo em direção à casa. O vento ficou mais frio, e minha respiração ficou pesada.
Eu queria encontrar minha família. Queria acreditar que eles estavam lá dentro, esperando por mim. Mas uma parte de mim sabia que essa história estava longe de ser tão simples.
Me aproximei da porta hesitante, minha mão pairando sobre a maçaneta fria. Meu coração batia acelerado, uma mistura de ansiedade e medo correndo por minhas veias. Eliel estava logo atrás de mim, silencioso, mas presente.
— Você está pronta? — ele perguntou, sua voz suave, porém firme.
Engoli em seco.
— Eu não sei. Mas preciso ver com meus próprios olhos.
Girei a maçaneta e empurrei a porta devagar. Um rangido longo ecoou pela casa, e a neblina espessa se dissipou, revelando um ambiente que me fez prender a respiração.
O interior era exatamente como eu havia imaginado tantas vezes: uma sala espaçosa com móveis rústicos, uma lareira acesa que trazia um brilho aconchegante ao cômodo, e uma mesa posta, como se alguém estivesse esperando para jantar. Mas não havia ninguém. Dei alguns passos hesitantes para dentro, sentindo o chão de madeira ranger sob meus pés. Meu olhar percorreu o ambiente, procurando por qualquer sinal de vida.
— Tem alguém aqui? — minha voz saiu quase como um sussurro.
O silêncio foi a única resposta.
Eliel caminhou ao meu lado, observando tudo com atenção.
— Eles deveriam estar aqui… — murmurei, confusa.
Então, ouvi.
Uma risada suave, quase como um eco distante. Virei-me depressa, e, por um instante, vi uma sombra se movendo pelo corredor.
Meu coração disparou.
— Mamãe?
Corri na direção do som, meus pés se movendo sozinhos. Passei por um longo corredor iluminado por velas, até chegar a uma porta entreaberta. Respirei fundo e a empurrei.
O que vi fez meu sangue gelar.
A luz dentro do quarto era fraca, mas o suficiente para revelar três figuras sentadas ao redor de uma mesa. Meus olhos se arregalaram.
Ali estavam eles.
Meu pai, exatamente como eu lembrava dele antes de morrer—alto, cabelos escuros, olhar gentil. Minha mãe, sorrindo para mim, sem o peso e o cansaço que sempre carregava. E minha irmã mais velha, que eu nunca tive na vida real, mas que criei nesse mundo, com seus olhos brilhantes e expressão acolhedora.
Eles estavam ali. Mas não se moviam.
Meus pés hesitaram na soleira da porta. Algo estava errado.
— Evangeline… — minha mãe chamou, sua voz suave demais, quase artificial.
Dei um passo à frente, mas então senti a mão de Eliel segurando meu pulso.
— Espere. Algo não está certo.
Meu pai inclinou a cabeça, seu sorriso permanecendo fixo demais no rosto.
— Filha, sente-se conosco. Esperamos por você por tanto tempo.
Minha respiração ficou presa na garganta. Algo dentro de mim, gritava para correr, mas, ao mesmo tempo, era tudo o que eu queria.
A minha família. Eles estavam aqui. Certo?
Imagem gerada por ia
Olhei para Eliel, buscando respostas. Ele me encarava com preocupação, como se esperasse que eu percebesse algo sozinha.
Foi então que entendi.
Eles não pareciam completamente vivos.
Os seus movimentos eram calculados, como bonecos que sabiam exatamente o que dizer. O brilho nos olhos deles não era natural, era… vazio.
A minha garganta secou.
— Vocês… são reais?
Minha mãe inclinou a cabeça para o lado, seu sorriso permanecendo inalterado.
— Real o suficiente para o que você precisa, minha querida.
Minha pele se arrepiou. Dei um passo para trás.
— Não… não pode ser.
Eliel apertou minha mão.
— Evangeline, olhe ao redor. O que você sente?
Fechei os olhos e tentei me concentrar. E então percebi—o ambiente ao meu redor estava frio demais. Não havia calor humano ali.
Minha família não era real.
Eles eram apenas… criações da minha mente. Reflexos do que eu sempre desejei.
Meus olhos começaram a arder.
— Então tudo isso foi uma mentira?
Minha mãe levantou-se lentamente, ainda sorrindo.
— Você não queria nos encontrar? Nós estamos aqui. Você pode ficar conosco para sempre.
Meu peito apertou. Uma parte de mim queria aceitar. Queria sentar àquela mesa e fingir que tudo estava bem.
Mas não estava.
Eu podia criar um mundo perfeito, mas não podia criar o que nunca tive de verdade.
Eliel se aproximou mais de mim, sussurrando:
— Você precisa decidir, Evageline. Quer viver para sempre em uma ilusão ou aceitar a verdade e seguir em frente?
Minhas lágrimas rolaram antes que eu pudesse segurá-las.
Olhei para minha "família" mais uma vez.
Eu sabia a resposta.
Mas teria força para dizê-la?
Fiquei ali, imóvel, encarando os rostos familiares à minha frente. O sorriso deles não vacilava, os olhos continuavam fixos em mim, esperando minha decisão. Meu peito subia e descia rapidamente, minha respiração entrecortada pela avalanche de emoções que me dominava.
Eu queria aquilo. Sempre quis. Uma família que me amasse, que estivesse ali para mim. E agora, ela estava bem diante dos meus olhos.
Isso não era real. A dor de aceitar essa verdade foi como uma lâmina atravessando meu peito.
Engoli em seco e, com a voz trêmula, perguntei
— Se vocês realmente fossem minha família, me diriam para ficar aqui?
O silêncio pesou no ar. O meu "pai" piscou lentamente, como se estivesse a processando a minha perguntaA minhaha "mãe" inclinou a cabeça de leve.
— Você pode escolher, querida. Se ficar, nunca mais sentirá dor. Nunca mais estará sozinha.
Meu corpo inteiro estremeceu. Olhei para Eliel, que apenas me observava, sem interferir. Ele queria que eu encontrasse a resposta sozinha.
Fechei os olhos por um momento e tentei ouvir o meu coração. Não o medo, não o desejo de fugir da dor, mas o que realmente importava.
A verdade veio como um sussurro dentro de mim.
— Eu… não posso ficar.
Minha mãe continuou sorrindo, mas seus olhos escureceram. Meu pai abaixou a cabeça levemente, e minha "irmã" apenas me olhava, sem expressão.
A casa começou a tremer. O ar ficou pesado, e um vento frio soprou, apagando algumas velas no corredor.
A ilusão estava se desmanchando.
Minha mãe deu um passo à frente.
— Tem certeza disso, querida? Você sempre quis esse amor. Sempre quis um lar. Não precisa voltar para a solidão. Minhas mãos tremiam.
— Eu queria, sim. Mas não assim. Não desse jeito.
O sorriso dela finalmente desapareceu.
O chão sob meus pés começou a rachar, como vidro prestes a se partir. A casa se desfez em pedaços de névoa, e as figuras da minha família começaram a perder a forma, como se estivessem se dissolvendo no vento.
Meu peito doía, como se eu estivesse deixando algo para trás, mas eu sabia que estava fazendo a escolha certa. Eliel segurou minha mão com firmeza e sussurrou:
Diga a palavra, Evangeline.
Fechei os olhos, sentindo o peso da despedida em minha alma.
Então, com um último olhar para o que restava da minha família imaginária, sussurrei:
— Renascimento.
Senti uma sensação estranha percorrer meu corpo. Meu coração acelerou, e o mundo ao seu redor começou a se dissolver como tinta se espalhando na água. Mas, antes que desaparecesse completamente, algo lhe veio à mente: se eu estou voltando… o que aconteceu com a minha outra versão?
O mundo ao meu redor explodiu em luz.
E tudo se desfez.
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Atualizado até capítulo 28
Comments
Cute/Mm
Mal posso esperar pelo próximo capítulo! 😍
2025-03-23
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