Capítulo 3 - Nem todo o lar é abrigo!

Acordei com uma sensação que não sabia nomear. Era como um abraço apertado demais por dentro — uma mistura de medo, saudade e um aperto que começava no peito e descia até o estômago.

Hoje é o dia em que volto para casa.

Não para morar. Apenas para o fim de semana. A primeira saída liberada desde que entrei no centro de acolhimento. Todos pareciam ver isso como um avanço. Menos eu.

Voltar para o lugar onde tudo aconteceu — onde tudo ainda acontece — parece menos uma conquista e mais uma ferida aberta.

No carro, o caminho parecia o mesmo. As mesmas ruas, o mesmo mercado da esquina, o mesmo portão enferrujado de sempre. Mas dentro de mim, tudo era diferente. Cada passo em direção àquela porta era como andar sobre vidro.

Bati duas vezes. A campainha não funcionava, como sempre.

Foi meu irmão quem abriu. Mais alto, o rosto mais magro. O tempo passou pra ele também, mas os olhos... os olhos continuavam com aquele brilho infantil que ele nunca deixou de ter.

Ele sorriu, meio sem graça. E, por um segundo, quase esqueci de todo o resto.

Toy— Xiaoyu...

Foi tudo o que ele disse. E tudo o que eu consegui ouvir antes de ele me puxar pra um abraço tímido. Demorei um pouco pra corresponder. Não porque não queria. Mas porque meu corpo ainda estava tentando entender se era seguro.

Minha mãe apareceu logo depois. Vinha da cozinha, as mãos sujas de farinha. O avental manchado, o cabelo preso com um lápis. Os olhos, como sempre, cheios demais de tudo: de raiva, de cansaço, de um amor torto e doído que ela nunca soube expressar direito.

Ela não disse nada. Nem "oi". Só me olhou. Um olhar demorado, como se estivesse tentando reconhecer quem eu era agora. Talvez ela não tenha gostado do que viu. Ou talvez só não soubesse por onde começar.

Filipa(mae)— Fiz bolinhos de arroz. — ela disse, voltando pra cozinha.

Me sentei na sala. O sofá era o mesmo. Os buracos no estofado, as molas afundadas, o pano cobrindo a mancha de molho. Tudo igual. Mas o ar... o ar estava mais pesado do que eu lembrava.

A televisão estava ligada, mas ninguém assistia. O som era só pano de fundo para silêncios que diziam demais.

O almoço aconteceu quase em silêncio. Meu irmão tentava puxar conversa de vez em quando sobre a escola, um jogo, coisas leves. Minha mãe corrigia alguma coisa ou suspirava alto, como se tudo fosse incômodo.

Eu não sabia onde colocar as mãos. Nem os pensamentos.

Depois do almoço, fui até meu quarto antigo. A porta rangia. As paredes tinham os mesmos cartazes que colei anos atrás. Minhas letras ainda estavam na madeira da cama. Era como se o tempo tivesse parado ali... só que tudo estava mais vazio. E eu também.

Me deitei um pouco. Fechei os olhos. Mas era impossível descansar.

...----------------...

"Estar aqui é como reviver um filme que eu odeio, mas que conheço de cor.

Cada canto dessa casa carrega uma lembrança. E nem todas são ruins.

Mas as boas também doem. Porque me lembram do que poderia ter sido."

Mais tarde, minha mãe me chamou para ajudar com o jantar. Por impulso, fui.

Ela não olhava muito nos meus olhos. Dava ordens simples, como sempre. "Corta isso." "Põe aquilo no fogo." E eu obedecia, como se ainda tivesse dez anos.

...****************...

Diálogo

Filipa — Você está diferente. — ela disse, sem me encarar.

Não soube se era elogio ou crítica.

Xiaoyu— Cresci. — respondi.

...****************...

Ela não disse mais nada.

O jantar foi rápido. À noite, me tranquei no quarto. Escrevi no caderno, com a luz do abajur fraca e o coração meio fora do lugar.

...----------------...

 "A dor não é só o que aconteceu.

É o que ainda acontece.

É perceber que parte de mim ainda quer o abraço que nunca veio.

E que mesmo sabendo de tudo, ainda amo minha mãe.

Mesmo com a raiva.

Mesmo com o medo."

...----------------...

No domingo, fui embora cedo. Meu irmão me abraçou com mais força dessa vez. E sussurrou:

Toy — Queria ir contigo.

Não soube o que responder. Então só segurei sua mão por um momento mais longo.

Minha mãe ficou na porta. Não chorou. Nem sorriu. Só acenou, com a mesma expressão cansada de sempre.

No carro de volta, chorei. Baixinho, quase sem som.

Voltar não foi o que imaginei. Não trouxe paz. Nem resposta.

Mas me mostrou que eu ainda tenho feridas abertas. E que talvez... só talvez... esteja pronta pra começar a cuidar delas.

Capítulos
1 Capitulo 1 - O peso do Invisível
2 Capítulo 2 - Coisas Que Não digo
3 Saudade do que (não) foi!
4 Capítulo 3 - Nem todo o lar é abrigo!
5 Entre Silêncios e Saídas
6 Capítulo 4 - Uma nova oportunidade de mudança
7 Porque, às vezes, escutar dói tanto…
8 Capítulo 5 - Depois do Silêncio
9 Gestos e grandes silêncios
10 Capítulo 6 – “Entre Olhares e Silêncios”
11 No meio do caos, nasce uma pequena chama de pertencimento
12 capítulo 7- Atrito
13 Entre Silêncios e Tempestades”
14 Capítulo 8: Quando o Silêncio Grita
15 comuncado da autora
16 Capítulo 9 – Espelhos
17 Dividida entre desaparecer e de ser vista
18 Capítulo 10 – O que fica por dizer
19 Feridas do passado
20 Capítulo 11 - Feridas abertas.
21 Bico de avestruz
22 Capítulo 12 Entre gaiolas e Avestruzes.
23 Palavras que Desnudam
24 Capítulo 13 - O Poema
25 Pipocas, Olhares e Silêncios
26 Capítulo 14 – Sessão de Cinema
27 Silêncio Entre Nós
28 Capítulo 15 – O Vazio Que Ninguém Viu
29 Cores entre conflitos
30 Capítulo 16 – Mudança de Planos
31 Sombras do Passado
32 Capítulo 17 – "Entre Telhados e Confissões"
33 Entre Silêncios e Revelações
34 Capítulo 18 – Laços e Rastros
35 Uma Luz no Caminho
36 Capítulo 19 – Um Novo Fôlego
37 Entre sorrisos e o peso do regresso
38 Capítulo 20: Entre Sorrisos e Sombras
39 Defesa Instintiva
40 Capitulo 21 - Confissões e Matraquilhos
41 Em Sintonia
42 Capítulo 22 - Entre Ecos e Caminhos
43 Novos Caminhos
44 Capítulo 23 - Um novo começo
45 Um fim, e um recomeço
46 Capítulo 24 – A Vida é uma montanha Russa
47 Comunicado
Capítulos

Atualizado até capítulo 47

1
Capitulo 1 - O peso do Invisível
2
Capítulo 2 - Coisas Que Não digo
3
Saudade do que (não) foi!
4
Capítulo 3 - Nem todo o lar é abrigo!
5
Entre Silêncios e Saídas
6
Capítulo 4 - Uma nova oportunidade de mudança
7
Porque, às vezes, escutar dói tanto…
8
Capítulo 5 - Depois do Silêncio
9
Gestos e grandes silêncios
10
Capítulo 6 – “Entre Olhares e Silêncios”
11
No meio do caos, nasce uma pequena chama de pertencimento
12
capítulo 7- Atrito
13
Entre Silêncios e Tempestades”
14
Capítulo 8: Quando o Silêncio Grita
15
comuncado da autora
16
Capítulo 9 – Espelhos
17
Dividida entre desaparecer e de ser vista
18
Capítulo 10 – O que fica por dizer
19
Feridas do passado
20
Capítulo 11 - Feridas abertas.
21
Bico de avestruz
22
Capítulo 12 Entre gaiolas e Avestruzes.
23
Palavras que Desnudam
24
Capítulo 13 - O Poema
25
Pipocas, Olhares e Silêncios
26
Capítulo 14 – Sessão de Cinema
27
Silêncio Entre Nós
28
Capítulo 15 – O Vazio Que Ninguém Viu
29
Cores entre conflitos
30
Capítulo 16 – Mudança de Planos
31
Sombras do Passado
32
Capítulo 17 – "Entre Telhados e Confissões"
33
Entre Silêncios e Revelações
34
Capítulo 18 – Laços e Rastros
35
Uma Luz no Caminho
36
Capítulo 19 – Um Novo Fôlego
37
Entre sorrisos e o peso do regresso
38
Capítulo 20: Entre Sorrisos e Sombras
39
Defesa Instintiva
40
Capitulo 21 - Confissões e Matraquilhos
41
Em Sintonia
42
Capítulo 22 - Entre Ecos e Caminhos
43
Novos Caminhos
44
Capítulo 23 - Um novo começo
45
Um fim, e um recomeço
46
Capítulo 24 – A Vida é uma montanha Russa
47
Comunicado

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