Capítulo 2 - Coisas Que Não digo

Acordo com o som da chuva batendo na janela. Pequenas gostas deslizam como se o céu estivesse a chorar por dentro. Gosto de dias assim. Parece que o mundo também tem direito de desabafar.

O centro está mais silencioso do que o normal. Alguns jovens saíram cedo para visitas ou compromissos. Eu continuo no centro aos fins de semana. Ainda não me libertaram para sair. Dizem que é por precaução. Avaliação de comportamento, e estabilidade emocional.

Eu sei o que isso significa. Significa que ainda não confiam em mim. Talvez porque eu não falo muito. Talvez porque eu Não choro como os outros esperam que eu chore.

Passo a manhã no refeitório, rabiscando palavras soltas no cadeno. Palavras que não têm destino, mas precisam de sair.

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" Existem coisas que se acumulam dentro da gente. Como um copo quase cheio. Às vezes basta uma gota. Ás vezes a gota nunca vem. E a gente vive assim: Transbordando por dentro."

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A coordenadora do centro de acolhimento (CAT) passa por mim e cumprimenta-me com um sorriso breve. Tento retribuir. E ela pergunta se está tudo bem. Eu digo que sim. Sempre digo que sim. Mesmo quando não tenho a certeza.

À tarde, vamos para a escola.

Lá, tudo parece barulhento demais. Risos altos, conversas afiadas, passos apresados. É como se o mundo estivesse num volume que não consigo abaixar. Tento-me isolar Leio, escrevo, observo. Tento passar despercebida.

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Diálogo

Lin — Você sempre fica sozinha?

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Pergunta uma voz já conhecida. Lin.

Ela senta-se ao meu lado na hora do intervalo. Sem me pedir licença. Ela nunca pede. Mas também nunca invade. Tem esse jeito de ocupar espaços sem fazer peso.

Eu observo, e respondo.

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Diálogo

Xiaoyu — Melhor assim.

Lin — Você diferente. Tem gente que se incomoda com isso. Mas eu gosto.

Xiaoyu — Eu gosto não ser o centro das atenções. Não tenho culpa se que incomodam com isso.

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Ela sorri, e eu tento sorrir de volta. Ás vezes acho que Lin me entende. Ou pelo menos tenta.

Na aula de literatura, o professor pede que compartilhemos os nossos textos da última atividade: "Descreva um lugar onde você se sente segura."

Eu engulo em seco.

O professor chama pelo meu nome.

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Diálogo

Professor — Xiaoyu, posso ler o seu?

Xiaoyu — p-pode, quer dizer não, eu não terminei.

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Congelo. Eu não entreguei. Dobrei a folha, e guardei no bolso. Como ele...?

Ele já está lendo. A sala fica em silêncio.

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"Existe um lugar dentro de mim onde tudo está calmo...

Nele minha mãe sorri sem medo.

Meu pai não precisa ir embora. E eu... só uma menina.

Não uma ilha."

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Cada palavra lida é como se alguém tocasse em uma ferida que ainda não cicatrizou. Me sinto exposta. Pelada. Vulnerável. Mas também... Ouvida.

O professor termina com um sorriso breve.

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Diálogo

Professor — isso é literatura de verdade. Sentida. Obrigada por ter escrito isso.

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Não sei o que dizer. Só balanço a cabeça. Tento não parecer abalada. Mas por dentro, estou em pedaços.

Na saida Lin caminha comigo ate ao portão para esperarmos a van do centro.

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Diálogo

Lin— Você escreve bem. não devia esconder o seu dom para escrever.

Xiaoyu — Era só um rascunho. Não era suposto ninguém ler.

Lin — Mesmo assim, faz-me pensar sobre o meu próprio "lugar seguro".

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Quando volto para o abrigo, encontro um bilhete em cima da minha cama. sem assinatura.

"Você acha que é especial? só porque escreve triste?"

Fico imovel. As mãos gelam. O Meu peito aperta. Rasgo o papel e jogo fora. Mas a frase ja ss cravou em mim como um caco de vidro.

Naquela noite, não consegui dormir. viro-me, olho para o teto, ouço a minha respiração.

Penso e. tudo que nunca disse. No dia em que tudo desabou. Na última vez que vi o meu pai.

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Memória

Pai — Isso não é culpa sua, Xiaoyu. Um dia você vai entender.

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Eu queria acreditar. Mas até hoje, ainda não entendi o motivo. Ou talvez lá, no fundo saiba. E tenho que descobrir sozinha.

Levanto-me da cama e pego o meu caderno.

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"Não quero ser especial.

Só quero existir sem incomodar.

Só quero encontrar um lugar onde minha presença não seja o problema. Onde minha tristeza não seja poesia. Onde eu possa simplesmente... RESPIRAR! "

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Fecho o caderno e olho pela janela. A chuva ainda cai. Mas agora, parece conversar comigo.

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Comments

momo👀

momo👀

meio que em cada palavra que leio me sinto compreendida, como se tivesse coisas q eu não precisasse sentir sozinha.

2025-04-11

1

unapersonarandomxdd

unapersonarandomxdd

Sinto vontade de mais!

2025-04-09

1

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