A Primeira Noite Fria
A aurora despontava sobre a imponente Mansão Ravelyn, dissolvendo lentamente o manto escuro da noite anterior. O vento frio do inverno soprava através das árvores do vasto jardim, trazendo consigo um ar de sobriedade e imponência, características tão próprias da residência dos duques de Falkenhayn.
Dentro da propriedade, os corredores estavam silenciosos, como se os próprios alicerces da mansão compreendessem o clima de tensão que pairava no ar. Tapeçarias luxuosas pendiam das paredes, e estátuas de mármore frio observavam em silêncio a passagem do tempo. Mas nada da riqueza ou da beleza daquele lugar aquecia a solidão que Isolde sentia naquele momento.
Ela despertou antes mesmo que os primeiros raios de sol invadissem seu quarto. O sono fora inquieto, perturbado pela ausência quase gritante de Leonhart. A noite de núpcias, o momento que tantas mulheres sonhavam e temiam, havia sido reduzida a um vazio silencioso e cruel. Seu marido não dormira ao seu lado, não cruzara sequer a soleira de seu quarto.
Ao tocar os lençóis ao lado de seu corpo, sentiu apenas o frio do tecido intocado. Nenhum vestígio de calor, nenhuma presença.
Ele sequer fizera um esforço para fingir.
Isolde fechou os olhos por um instante, permitindo-se apenas um breve momento de vulnerabilidade. Mas logo abriu novamente, e quando o fez, sua expressão já estava serena, impenetrável. Se Leonhart pensava que poderia rejeitá-la e fazer com que ela se encolhesse em um canto, humilhada e derrotada, estava enganado.
Levantou-se com calma, ignorando o frio que se espalhava por seus pés descalços ao tocar o chão de mármore. Caminhou até a grande janela do quarto e afastou as pesadas cortinas de veludo azul-escuro, observando a paisagem lá fora. A névoa pairava sobre os jardins, envolvendo as árvores retorcidas em um manto fantasmagórico. Era um cenário melancólico, mas, de certa forma, combinava perfeitamente com sua atual situação.
Pouco depois, as criadas entraram no quarto, trazendo bacias com água morna e um vestido apropriado para a manhã. Isolde permaneceu em silêncio enquanto era preparada para seu primeiro desjejum como duquesa de Falkenhayn.
Escolheu um vestido de um azul profundo, um tom entre o céu noturno e o oceano tempestuoso. A cor favorecia sua pele e realçava a intensidade de seus olhos. Os cabelos foram cuidadosamente penteados e presos em um coque elegante, com algumas mechas soltas estrategicamente para suavizar sua aparência. Se Leonhart a olhasse hoje, não veria uma mulher abatida, mas sim uma duquesa digna de respeito.
Assim que desceu para a sala de refeições, o som de seus passos ecoou pelo piso de mármore polido. Os criados se afastaram discretamente, inclinando-se em reverência enquanto ela passava. A porta do salão já estava aberta, e Isolde soube imediatamente que Leonhart já estava lá.
O duque estava sentado à cabeceira da longa mesa, completamente à vontade, como se a noite anterior não tivesse significado absolutamente nada. Vestia-se com a elegância impecável de sempre, os cabelos negros levemente desalinhados, mas de um jeito que parecia apenas realçar seu charme natural. Tinha um jornal aberto à sua frente e uma xícara de café repousava ao lado de seu prato, intacta.
Isolde respirou fundo antes de avançar e ocupar seu lugar à mesa.
— Bom dia, meu marido.
Sua voz foi suave, porém firme, carregando um toque de formalidade que poderia ser interpretado como cortesia ou desafio.
Leonhart ergueu os olhos do jornal e olhou para ela por um breve momento. Seu olhar não continha desprezo, nem simpatia. Apenas um distanciamento calculado.
— Bom dia, duquesa.
Duquesa.
Não Isolde.
Ela sustentou o olhar dele por um instante, buscando qualquer vestígio de emoção naquela máscara de indiferença. Mas não encontrou nada. Então, simplesmente sorriu.
— Espero que tenha dormido bem.
Ele voltou a atenção para o jornal.
— Dormi o suficiente.
O silêncio entre os dois foi preenchido apenas pelo som dos talheres e pelo tilintar discreto da porcelana contra a mesa. Isolde manteve a compostura, saboreando seu chá com a tranquilidade de quem não se deixava abalar.
Leonhart poderia ignorá-la agora. Poderia fingir que seu casamento era apenas um contrato sem importância.
Mas ela sabia que aquilo não duraria para sempre.
Porque o jogo do destino já estava em movimento. E ela não pretendia perder.
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