Capítulo 4 – O Peso do Silêncio
Aurora permaneceu sentada em sua mesa, completamente imóvel, enquanto o escritório ao seu redor seguia sua rotina caótica. Funcionários caminhavam de um lado para o outro, os telefones tocavam sem parar, e o som dos teclados sendo pressionados preenchia o ambiente como sempre. Mas, para ela, tudo parecia abafado, distante, como se estivesse presa em um mundo diferente, um lugar onde o tempo se movia devagar demais.
Seu coração ainda batia forte no peito.
Ela piscou algumas vezes, tentando dissipar a confusão que tomava conta de sua mente, mas a imagem de Nikolai saindo do escritório não parava de se repetir. O olhar dele, carregado de algo que ela nunca havia visto antes. O peso do envelope em suas mãos. A forma como seus ombros pareciam curvados, como se o peso daquela notícia fosse grande demais para carregar sozinho.
Ela queria tê-lo seguido.
Queria ter dito alguma coisa.
Mas… o quê?
Que palavras seriam suficientes para confortá-lo, quando ele acabara de descobrir que sua esposa estava morrendo? Que seu casamento, por mais frio e distante que tivesse sido, estava prestes a chegar a um fim definitivo?
E, pior ainda… e se Eleanor realmente soubesse sobre seus sentimentos?
A simples possibilidade fazia seu estômago revirar.
Ela passou as mãos pelo rosto, tentando organizar seus pensamentos, mas era inútil. Tudo dentro dela era um turbilhão.
— Aurora?
A voz de Mia, sua colega de trabalho, a fez sobressaltar. Ela piscou algumas vezes antes de se virar para encará-la.
Mia a observava com uma expressão preocupada.
— Está tudo bem? Você está estranha desde que a senhora Zarev saiu.
Aurora forçou um sorriso, embora sentisse que seu rosto não obedecia direito.
— Eu… estou bem. Só estou com dor de cabeça.
Mia não pareceu convencida, mas deu de ombros.
— Bom, se precisar de um analgésico, acho que tenho um na gaveta. Ah, e o senhor Zarev pediu para cancelar toda a agenda dele, então acho que ele não volta mais hoje.
Aurora apenas assentiu, embora já soubesse disso.
Assim que Mia se afastou, ela olhou para o relógio. Ainda faltavam três horas para o expediente acabar, mas ela sabia que não conseguiria se concentrar em mais nada naquele dia.
Seus dedos pairaram sobre o teclado, hesitantes.
Ela deveria mandar uma mensagem para Nikolai?
Ele não era o tipo de homem que gostava de ser incomodado, especialmente quando queria ficar sozinho. Mas, ao mesmo tempo, o silêncio parecia sufocante demais.
Ela abriu o e-mail corporativo e começou a digitar.
"Senhor Zarev, espero que esteja bem. Se precisar de algo, estarei à disposição."
Era um e-mail simples, formal, como todos os outros que já havia enviado para ele ao longo dos anos. Mas, dessa vez, sua mão hesitou antes de pressionar o botão de enviar.
O que ela esperava com aquela mensagem? Que ele respondesse? Que dissesse algo além de um simples "ok"?
Suspirando, ela apagou o e-mail antes mesmo de terminá-lo.
Não era hora para isso.
Seus sentimentos não importavam naquele momento.
Mais Tarde…
Quando finalmente saiu do escritório, o céu já estava tingido de tons alaranjados e rosados, indicando que o sol logo desapareceria no horizonte. A brisa fresca da noite acariciou seu rosto enquanto ela caminhava lentamente em direção à estação de metrô.
Mas, ao invés de pegar o caminho de sempre, seus pés a levaram para outro lugar.
Ela não sabia exatamente o motivo, mas, quando se deu conta, estava parada diante de um prédio imponente, de fachada luxuosa. O edifício onde Nikolai morava.
Seu coração acelerou.
O que estava fazendo ali?
Ela não tinha o direito de invadir o espaço dele, não tinha desculpa alguma para bater em sua porta.
E, ainda assim, seus dedos formigavam com a vontade de fazer exatamente isso.
Ela olhou para o alto, para as janelas do último andar, onde ficava a cobertura de Nikolai. As luzes estavam acesas.
Ele estava ali.
Por um longo momento, Aurora ficou parada na calçada, debatendo consigo mesma.
Devia ir embora.
Devia virar as costas e seguir para casa, como sempre fazia.
Mas e se ele precisasse de alguém? E se estivesse lá, sozinho, se afogando em pensamentos sombrios?
Antes que pudesse racionalizar sua decisão, seus pés se moveram por conta própria.
Ela entrou no prédio.
O porteiro a reconheceu imediatamente, já que Aurora era vista com frequência ali, sempre levando documentos ou participando de reuniões com Nikolai em seu escritório particular.
— Boa noite, senhorita Venslov. O senhor Zarev está em casa.
Ela hesitou por um instante.
— Ele… recebeu visitas hoje?
— Não, senhorita. Chegou faz algumas horas e não saiu desde então.
Ela engoliu em seco.
— Posso subir?
O porteiro fez um breve contato pelo interfone e logo assentiu.
— Ele autorizou.
Seu coração falhou uma batida.
Ela agradeceu e entrou no elevador. Durante a subida, tentou controlar sua respiração, tentando entender o que diria a ele.
Quando as portas se abriram, o apartamento estava em silêncio.
A luz do ambiente era suave, e o cheiro amadeirado familiar de Nikolai estava por toda parte.
Ele estava de pé na varanda, de costas para ela, segurando um copo de whisky.
Ela engoliu em seco antes de se aproximar.
— Nikolai…
Ele não se virou imediatamente. Permaneceu ali, olhando para a cidade iluminada abaixo deles.
— Você veio — ele disse, finalmente.
A voz dele estava diferente. Não havia frieza, nem indiferença. Apenas um cansaço profundo.
Aurora sentiu seu peito apertar.
— Eu… achei que talvez quisesse companhia.
Ele finalmente se virou para encará-la.
Seu rosto parecia exausto. Os olhos escuros estavam nublados, sem aquele brilho intenso de sempre.
Por um longo momento, ele apenas a observou.
E então, para sua surpresa, Nikolai deu um passo à frente e a puxou para um abraço.
Aurora ficou imóvel.
O corpo dele estava quente contra o seu. O cheiro de whisky misturado ao perfume amadeirado dele fez sua cabeça girar.
— Eu não sei o que fazer — ele murmurou, sua voz carregada de emoção.
Ela fechou os olhos, sentindo a dor dele como se fosse sua.
E então, pela primeira vez, sem pensar nas consequências, ela o abraçou de volta.
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