CAPÍTULO 5 – UM TOQUE PERIGOSO
Ayla passou a noite inteira em claro. Deitada na cama luxuosa de Celina, encarava o teto branco com molduras douradas, sua mente rodando sem parar. Cada segundo que passava ao lado de Dante parecia mais arriscado, mais sufocante. Ele era inteligente demais. Observador demais. Desconfiado demais.
Ela se mexeu inquieta, puxando os lençóis sobre o corpo. O cheiro do perfume de Celina impregnava os tecidos e a fazia se sentir ainda mais deslocada. Isso não era dela. Essa vida, essa casa, esse homem… nada era dela. Mas, ao mesmo tempo, sempre quis que fosse.
Ayla fechou os olhos e respirou fundo. Desde a adolescência, amava Dante Blackwood, mas ele nunca a olhou como olhava Celina. Sempre foi sua irmã a mulher que ele desejava, a que ele queria ao seu lado, e Celina sabia disso. Ela usava isso contra Ayla, zombava de seu amor ingênuo. E agora, Celina a colocara nessa situação absurda.
Se Dante descobrisse…
Ayla estremeceu. Ele a odiaria.
Mas, ainda assim, não conseguia se arrepender totalmente.
De repente, o sol começou a iluminar o quarto, sinalizando que a noite finalmente havia terminado.
O CAFÉ DA MANHÃ
Ayla vestiu-se com cuidado. Escolheu um vestido azul-claro de mangas longas, delicado, discreto, mas elegante o suficiente para combinar com Celina. Fez um coque baixo, deixando algumas mechas soltas ao redor do rosto. Precisava parecer ela, ou melhor, Celina.
Descendo as escadas, sentiu seu coração acelerar quando viu Dante já sentado à mesa. Ele usava uma camisa branca bem ajustada, as mangas dobradas até os cotovelos, revelando os antebraços fortes. Mesmo na cadeira de rodas, ele exalava autoridade e frieza.
Os olhos dele se ergueram para ela assim que entrou na sala.
Ayla prendeu a respiração.
Aquele olhar…
Havia algo nele que a fez se arrepiar. Ele a analisava de forma intensa, como se tentasse ler sua alma.
Ela se sentou à mesa, forçando-se a agir naturalmente. Pegou a xícara de café e levou aos lábios, mas mal conseguiu engolir.
O silêncio entre os dois era ensurdecedor.
Foi Dante quem o quebrou:
— Você não está agindo como você mesma.
Ayla congelou.
Lentamente, pousou a xícara no pires e olhou para ele, tentando esconder sua apreensão.
— O que quer dizer com isso?
Dante inclinou-se levemente para frente, os olhos azul-acinzentados perfurando os dela.
— Você nunca gostou de café da manhã. Sempre dizia que era perda de tempo.
Ayla sentiu um frio na espinha.
Ele estava testando-a.
Seu coração bateu forte contra o peito, mas ela não podia demonstrar fraqueza.
— Talvez eu tenha mudado — respondeu, forçando um sorriso.
Dante soltou um riso curto, sem humor.
— As pessoas não mudam tão facilmente.
Os dedos de Ayla se apertaram ao redor da colher.
— Talvez algumas sim — retrucou, mantendo a calma.
Dante permaneceu em silêncio por um instante, observando-a. O olhar dele era perigoso.
Ayla sabia que precisava sair dali antes que ele fizesse mais perguntas.
— Vou para a biblioteca — disse rapidamente, levantando-se da mesa.
Ela não esperou uma resposta e saiu apressada.
A BIBLIOTECA
A biblioteca era enorme, com estantes de madeira escura que iam do chão ao teto, repletas de livros antigos e valiosos. O cheiro de papel envelhecido e couro dominava o ambiente.
Ayla correu os dedos pelas lombadas dos livros, tentando se acalmar. Mas então, sentiu um arrepio percorrer sua pele.
Alguém a observava.
Ela se virou devagar… e lá estava ele.
Dante havia entrado na biblioteca silenciosamente e agora a encarava com um olhar indecifrável.
O coração de Ayla disparou.
Ele avançou com a cadeira de rodas até ficar mais próximo, os olhos fixos nela.
— Desde quando você se interessa por livros? — perguntou, a voz baixa e cheia de desconfiança.
Ayla engoliu em seco.
— Sempre gostei de ler — mentiu.
Dante arqueou uma sobrancelha.
— Celina odeia ler.
Ela sentiu o estômago afundar. Droga.
Seu olhar voou para a estante, tentando encontrar algo para sair daquela situação. Seus dedos pousaram sobre um livro: O Morro dos Ventos Uivantes.
Ela puxou o exemplar e virou-se para Dante.
— Este é meu favorito — disse, tentando soar natural.
Silêncio.
Dante estreitou os olhos.
— Celina sempre odiou essa história — murmurou.
O sangue de Ayla gelou.
Antes que pudesse pensar em algo, Dante avançou mais um pouco.
Ele ergueu a mão e, inesperadamente, tocou seu rosto.
O gesto foi tão suave que ela prendeu o fôlego. Os dedos dele deslizaram lentamente sobre sua pele, traçando a linha de sua mandíbula, descendo até seu queixo.
O calor de seu toque fez um arrepio percorrer todo o seu corpo.
Ayla nunca havia sido tocada daquela forma antes.
Seu coração batia tão forte que sentia o sangue pulsar em seus ouvidos.
Os olhos de Dante estavam fixos nos dela, intensos, perigosos.
Por um instante, a tensão entre eles era elétrica.
Ayla sentiu a respiração falhar.
Seus olhos desceram involuntariamente para os lábios dele. E então percebeu que Dante também olhava para os seus.
O tempo pareceu parar.
Mas então, como se tivesse sido atingido por um choque, Dante afastou a mão bruscamente.
Sua expressão ficou sombria.
— Saia.
Ayla piscou, surpresa.
— O quê?
— Saia da biblioteca. Agora.
A voz dele era firme, mas havia algo estranho ali.
Ele estava abalado.
Ayla hesitou por um momento, mas acabou saindo sem discutir.
Assim que atravessou a porta e entrou no corredor, levou os dedos ao rosto, exatamente onde Dante a havia tocado.
Seu coração ainda martelava no peito.
Ele estava começando a sentir algo.
Talvez ainda não entendesse…
Mas, pela primeira vez, Dante Blackwood estava reagindo à sua presença.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Aldenora Tavares
acho queno Dante já desconfiou que não é a Celina
2025-02-27
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