Capítulo 4 – Entre o Desejo e a Desconfiança
O silêncio da mansão Blackwood era denso, quase sufocante. A noite avançava lentamente, e Ayla, sentada na beira da cama de Celina, sentia o peso da mentira que carregava crescer a cada segundo.
Seus olhos vagavam pelo quarto, absorvendo cada detalhe do espaço que agora deveria chamar de seu. Mas nada ali lhe pertencia. O cheiro doce e intenso do perfume de Celina ainda impregnava o ar, e os vestidos caros pendiam no closet, impecavelmente alinhados. Tudo naquele ambiente gritava a presença da irmã, lembrando Ayla de que ela estava vivendo uma vida que não era sua.
O jantar com Dante fora um teste.
E ela sabia que não havia passado despercebida.
Ele percebeu a diferença, por menor que fosse.
Seus dedos trêmulos deslizaram sobre o tecido do vestido azul que ainda vestia. A conversa tensa, os olhares que ele lançara, a frieza em sua voz… tudo ecoava em sua mente, tornando impossível descansar.
Ela suspirou e se levantou, caminhando até a enorme janela do quarto. A noite estava clara, a lua brilhava intensamente no céu, iluminando os jardins bem cuidados da propriedade Blackwood. O vento frio soprou, fazendo-a cruzar os braços sobre o peito em um reflexo instintivo.
Estava tão absorta em seus próprios pensamentos que não ouviu o barulho no corredor.
Um arrepio percorreu sua espinha quando os passos firmes ecoaram pelo chão de mármore.
Seu coração acelerou.
A maçaneta girou.
Antes que pudesse reagir, a porta se abriu lentamente, revelando a figura imponente de Dante Blackwood.
O ar pareceu escapar de seus pulmões.
Ayla congelou, observando-o com os olhos arregalados.
Ele estava ali.
E pela primeira vez, desde que assumiu o lugar de Celina, ele a olhava de verdade.
Dante parecia mais sombrio do que nunca. Vestia uma camisa preta, os primeiros botões abertos, revelando parte de seu peitoral definido. Seu olhar azul-acinzentado estava afiado, carregado de algo indecifrável. A forma como movia a cadeira de rodas com precisão e controle absoluto fazia com que sua presença continuasse sendo dominante, mesmo sem estar de pé.
Ele estreitou os olhos ao vê-la parada ali, à beira da janela.
— O que está fazendo acordada?
Ayla umedeceu os lábios, tentando encontrar uma resposta.
— Eu… não consegui dormir.
Dante inclinou a cabeça levemente, analisando-a com ainda mais atenção.
— Desde quando você tem insônia, Celina?
O nome da irmã saindo de sua boca foi como uma facada.
Ayla sentiu seu corpo ficar tenso.
Ele desconfiava.
Não podia demonstrar nervosismo. Não agora.
— Desde que você sofreu o acidente — respondeu, mantendo a voz firme, mas baixa.
Dante soltou uma risada seca, sem qualquer humor.
— Engraçado… você nunca demonstrou se importar antes.
As palavras dele foram um golpe cruel.
Ayla sentiu o coração apertar dentro do peito, mas manteve a expressão serena.
Se ele soubesse…
Se soubesse que, na verdade, ela sempre se importou. Que ela sempre esteve lá, observando à distância, desejando ser vista por ele.
Mas Dante jamais a notou.
A dor daquele pensamento fez com que ela abaixasse o olhar, evitando os olhos penetrantes dele.
O silêncio se estendeu por alguns segundos até que ele suspirasse, esfregando a têmpora com a ponta dos dedos, como se estivesse cansado demais para continuar aquela conversa.
— Apenas vá dormir — murmurou. — Não adianta ficar acordada remoendo o passado.
Ayla assentiu lentamente, mas sabia que jamais conseguiria dormir naquela noite.
Dante se virou para sair, conduzindo sua cadeira de rodas em direção à porta.
Por um momento, Ayla acreditou que ele simplesmente a ignoraria como sempre fazia.
Mas então…
Ele parou.
Ficou em silêncio por alguns segundos antes de virar parcialmente o rosto para encará-la novamente.
— Você está… diferente.
Ayla sentiu o coração falhar uma batida.
O olhar de Dante sobre ela era avaliador, como se estivesse tentando encontrar algo que escapava à sua compreensão.
Ele percebeu.
Antes que pudesse reagir, ele desviou o olhar e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.
Ayla permaneceu imóvel por longos minutos.
Seu coração martelava contra o peito, as emoções se atropelando dentro dela.
Dante começava a suspeitar.
E ela não sabia se isso era bom… ou ruim.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Aldenora Tavares
o que será que a Celina fez ?
2025-02-27
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