A SUBSTITUTA DA IRMÃ

A SUBSTITUTA DA IRMÃ

Capítulo 3 – Presa na Mentira

O som dos saltos de Ayla ressoava pelos corredores silenciosos da mansão Blackwood. O peso da mentira que carregava parecia aumentar a cada passo, tornando sua respiração mais curta, sua pele mais fria. Ela ainda sentia o olhar de Dante sobre si, aquele olhar que nunca verdadeiramente a enxergava, e isso doía mais do que qualquer outra coisa.

Quando finalmente chegou ao quarto de Celina, fechou a porta atrás de si e encostou-se contra a madeira escura, soltando um longo suspiro. Seu peito subia e descia rapidamente, como se tivesse corrido uma maratona.

Dante a tratara com desprezo.

Com frieza.

E o pior de tudo?

Ele acreditava que estava falando com Celina.

Ayla apertou os olhos, tentando afastar aquela verdade cruel. Por anos, nutriu sentimentos por Dante, sentimentos que sempre manteve enterrados porque sabia que ele nunca olharia para ela.

Mas agora, ali estava ela, no lugar da irmã, vivendo uma mentira.

Ela abriu os olhos e observou o quarto ao redor. Cada detalhe gritava a presença de Celina: o cheiro adocicado do perfume que impregnava os lençóis e as cortinas, os vestidos luxuosos espalhados pelo closet, os saltos caros alinhados em fileiras perfeitas.

Ayla caminhou até a penteadeira e passou a ponta dos dedos sobre os frascos de perfume. Aquela não era sua vida.

Aquela nunca foi sua vida.

Mas, por mais errado que fosse… uma parte dela queria permanecer ali.

Porque, pela primeira vez, Dante estava ao seu alcance.

Mesmo que fosse através de uma mentira.

---

A noite caiu sobre a mansão Blackwood, trazendo consigo um peso ainda maior ao peito de Ayla.

Ela olhou para seu reflexo no espelho antes de descer para o jantar. O vestido que escolhera era elegante, mas discreto. Um azul profundo, que contrastava com sua pele pálida. Nada exagerado, nada que chamasse atenção. Não queria dar motivos para Dante notar qualquer diferença.

Ou pior… suspeitar.

Descendo as escadas em silêncio, sentiu a rigidez do ambiente. A mansão era grandiosa, luxuosa, mas havia algo nela que parecia… fria. Como se a alma daquela casa tivesse desaparecido junto com a felicidade de seu dono.

Quando chegou à sala de jantar, a mesa já estava impecavelmente posta. Os pratos de porcelana, os talheres de prata brilhando sob a luz do lustre de cristal. Os criados moviam-se silenciosamente pelo ambiente, arrumando os últimos detalhes antes da chegada do anfitrião.

Ayla hesitou por um instante antes de se sentar.

Foi quando ele apareceu.

Dante Blackwood.

Seus olhos encontraram-no imediatamente, e a visão roubou-lhe o fôlego.

Ele estava impecável como sempre, vestindo um terno escuro que destacava ainda mais seus traços marcantes. O cabelo negro estava levemente bagunçado, como se tivesse passado os dedos por ele várias vezes ao longo do dia. Sua expressão, no entanto, era a mesma de antes: fria.

Indiferente.

O assistente pessoal o empurrava na cadeira de rodas com precisão, e Ayla sentiu o estômago se revirar.

Ele já não era mais o homem que caminhava com imponência pelos corredores da empresa, que exalava poder sem sequer precisar falar.

Agora, Dante parecia… quebrado.

O silêncio dominou o ambiente quando ele se posicionou na mesa. Sem olhá-la, pegou o guardanapo e ajeitou-o sobre o colo, seus movimentos calculados, metódicos.

— Não precisa ficar aqui — sua voz profunda cortou o silêncio como uma lâmina afiada. — Sei que jantares em família nunca foram sua prioridade.

Ayla piscou, surpresa.

Ele estava falando da Celina que conhecia. Aquela que nunca fazia questão de estar ali.

Quantas vezes Celina havia ignorado Dante? Quantas vezes o deixara sozinho naquela mesa imensa, como se ele não fosse importante?

Ayla sentiu um nó apertar sua garganta.

Ela respirou fundo antes de responder:

— Talvez eu queira ficar.

Dante finalmente ergueu os olhos para ela.

Havia algo nos olhos azul-acinzentados dele que a fez prender a respiração. Uma surpresa momentânea, como se ele não esperasse aquela resposta.

— Desde quando você se importa? — sua voz era baixa, mas carregava um tom de incredulidade.

Ayla sustentou o olhar.

— Desde sempre.

O silêncio que se seguiu foi esmagador.

Por um momento, Dante apenas a observou, como se tentasse decifrar algo em seu rosto. Então, sem dizer mais nada, desviou o olhar e pegou os talheres.

Ayla fez o mesmo.

Mas o jantar foi um verdadeiro suplício.

A comida estava sem gosto.

O silêncio entre eles parecia mais alto do que qualquer conversa poderia ser.

Ela queria dizer algo, queria preencher aquele vazio entre os dois. Mas, ao mesmo tempo, sabia que Dante não a deixaria se aproximar tão facilmente.

Então, ficou quieta.

Dante também não falou mais nada.

Terminou sua refeição em silêncio, e quando o jantar chegou ao fim, apenas assentiu para os criados e foi empurrado para fora da sala sem nem sequer olhar para ela.

Ayla ficou ali, sozinha à mesa.

Seus olhos ardiam, mas ela se recusou a chorar.

Ele nunca a notou antes…

E mesmo agora, vivendo essa mentira, talvez nunca notasse.

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