A manhã seguinte amanheceu fria, com uma névoa fina cobrindo a fortaleza como um véu. Kofi estava no pátio, carregando baldes d’água do poço para os estábulos, quando sentiu um arrepio que não vinha do clima. Ele parou, os sentidos aguçados, e então ouviu os passos pesados atrás de si.
Era Dae-sung, flanqueado por Tae-woo e outro soldado, ambos com sorrisos maliciosos. Dae-sung segurava sua adaga com firmeza, o metal brilhando mesmo na luz fraca do amanhecer. "Estrangeiro," chamou ele, a voz cortante como uma lâmina. "Você acha que pode enfeitiçar quem quiser aqui, não é?"
Kofi largou os baldes, a água respingando em seus pés descalços. Ele não entendia todas as palavras, mas o tom de Dae-sung era inconfundível. Perigo. "Não… problema," disse Kofi, levantando as mãos em um gesto de paz. "Eu… trabalho.
"Trabalho?" Dae-sung riu, um som seco e cruel. "Você não pertence aqui, selvagem. E agora está tentando roubar o que é meu." Ele deu um passo à frente, apontando a adaga para o peito de Kofi. "Eu sei o que você fez com Min-ho ontem à noite."
O coração de Kofi acelerou. Ele se lembrou da mão de Min-ho na sua, do calor daquele momento sob as estrelas. Mas agora, tudo o que via era a raiva no rosto de Dae-sung. "Min-ho… amigo," disse Kofi, tentando explicar, mas as palavras em sua língua nativa não vinham, e o idioma de Baekje ainda era um labirinto para ele.
"Amigo?" Dae-sung cuspiu no chão. "Você é uma praga. E pragas precisam ser eliminadas." Com um movimento rápido, ele avançou, golpeando com a adaga em direção ao ombro de Kofi.
Kofi reagiu por instinto. Anos de sobrevivência o haviam ensinado a se mover rápido. Ele desviou para o lado, o golpe cortando apenas o ar, e agarrou o pulso de Dae-sung com força, torcendo até que a adaga caísse no chão lamacento. Dae-sung grunhiu de surpresa e raiva, mas antes que pudesse se recuperar, Kofi o empurrou para trás, fazendo-o tropeçar.
Tae-woo e o outro soldado avançaram, mas Kofi se preparou, os punhos cerrados. Ele não queria lutar, mas também não ia se deixar ferir sem resistência. "Parem!" uma voz ecoou pelo pátio, firme e autoritária.
Era Min-ho. Ele correu até o grupo, a espada curta já desembainhada, o rosto vermelho de fúria. "O que está acontecendo aqui?" exigiu saber, colocando-se entre Kofi e os agressores.
Dae-sung se levantou, limpando a lama do rosto. "Fique fora disso, Min-ho. Esse selvagem é um problema seu, e eu vou resolvê-lo."
"Ele não é um selvagem," retrucou Min-ho, os olhos faiscando. "Ele é um homem, como você ou eu. E você não tem o direito de tocar nele."
"Não tenho o direito?" Dae-sung riu, mas havia um tremor em sua voz. "Eu vi vocês dois ontem, Min-ho. De mãos dadas como amantes. Você acha que seu pai vai gostar de saber disso? Que o filho dele está se rebaixando com um escravo?"
Min-ho empalideceu, mas não recuou. "Minha vida não é da sua conta, Dae-sung. E se você machucar Kofi, vai responder por isso."
Os dois se encararam, o ar entre eles carregado de tensão. Tae-woo e o outro soldado hesitaram, incertos sobre quem seguir. Foi então que uma nova figura surgiu no pátio: o General Sohn, pai de Min-ho, com sua armadura completa e uma expressão que poderia congelar o sol.
"O que é esse tumulto?" perguntou o general, a voz grave ressoando como um trovão. Seus olhos passaram de Dae-sung para Min-ho, e finalmente repousaram em Kofi, que permanecia em silêncio, os punhos ainda cerrados.
Dae-sung aproveitou a chance. "Senhor, esse estrangeiro está causando problemas. Ele atacou seus homens e está corrompendo seu filho. Eu só queria proteger a honra da sua casa."
"Isso é mentira!" exclamou Min-ho, dando um passo à frente. "Dae-sung o atacou primeiro. Kofi só se defendeu."
O general ergueu uma mão, silenciando os dois. Ele olhou para Kofi por um longo momento, como se o avaliasse. "Você," disse finalmente, apontando para Kofi. "Fale."
Kofi respirou fundo, esforçando-se para encontrar as palavras certas. "Eu… não problema. Trabalho. Min-ho… ajuda. Dae-sung… quer briga."
O general franziu a testa, mas havia algo em seus olhos — talvez curiosidade, talvez dúvida. Ele virou-se para Dae-sung. "Você tem provas do que diz?"
Dae-sung hesitou, então apontou para Tae-woo. "Ele viu! Min-ho e o estrangeiro, juntos ontem à noite, como amantes!"
Tae-woo assentiu, ansioso. "Sim, senhor, eu vi. No poço, de mãos dadas."
O general virou-se lentamente para Min-ho, o rosto impenetrável. "É verdade, meu filho?"
Min-ho engoliu em seco, sentindo o peso daquele olhar. Ele sabia que negar poderia salvar sua reputação, mas também trairia Kofi — e o que sentia por ele. Após um momento de silêncio, ele ergueu o queixo. "Sim, pai. É verdade. Eu… gosto dele."
Um murmúrio percorreu os servos e soldados que começavam a se reunir no pátio. O general permaneceu em silêncio, os olhos fixos em Min-ho. Então, ele falou, a voz baixa mas firme. "Vocês dois, comigo. Agora. Dae-sung, você também. Vamos resolver isso de uma vez."
Ele deu as costas e caminhou em direção ao salão principal, esperando que o seguissem. Min-ho trocou um olhar rápido com Kofi, tentando transmitir força. Kofi assentiu, sua expressão resoluta, mas seus olhos revelavam medo.
Dae-sung embainhou sua adaga, um sorriso sombrio nos lábios. Ele sabia que, independentemente do que acontecesse, tinha plantado uma semente de discórdia que não seria fácil de arrancar.
Fim do Capítulo 5
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 28
Comments