O sol mal havia nascido quando Kofi foi acordado por um chute leve na perna. Ele abriu os olhos, confuso, e viu um servo magro, de nariz torto, apontando para uma pilha de lenha no canto do depósito onde os servos dormiam. O homem gesticulou com impaciência, claramente ordenando que Kofi começasse a trabalhar. Ainda zonzo, Kofi se levantou, o corpo dolorido do naufrágio e da noite mal dormida sobre o chão de terra batida.
A fortaleza do General Sohn Baek era uma estrutura imponente, com muros de pedra e telhados curvos que pareciam tocar as nuvens. Para Kofi, tudo era estranho — as roupas leves das pessoas, os cheiros de ervas e peixe seco, os sons de uma língua cheia de tons que subiam e desciam como música. Ele carregou a lenha até o pátio, onde outros servos o ignoravam ou lançavam olhares de canto, sussurrando entre si.
"Ele não parece humano," disse uma jovem criada, torcendo o nariz enquanto passava com uma cesta de grãos.
"Deixe-o em paz," respondeu uma voz firme. Era Hye-jin, a curandeira, que apareceu carregando um balde de água e um pano limpo. Ela se aproximou de Kofi, que havia parado para recuperar o fôlego, e apontou para os cortes em seus braços. "Sente-se aí, rapaz. Esses ferimentos vão infeccionar se não cuidarmos deles."
Kofi hesitou, mas o tom dela era suave, quase como o de sua mãe em memórias distantes. Ele se sentou em um banco de madeira, e Hye-jin começou a limpar os cortes com movimentos cuidadosos. "Você não entende uma palavra do que digo, não é?" ela perguntou, rindo baixinho. "Tudo bem. Não precisa falar para saber que está perdido."
Enquanto Hye-jin trabalhava, Sohn Min-ho apareceu no pátio, vestindo uma túnica azul simples, sem a armadura de guerra.
Ele viu Kofi e a curandeira e caminhou até eles, ignorando os olhares curiosos dos soldados que treinavam ali perto.
"Bom dia, Hye-jin," disse Min-ho, inclinando a cabeça em respeito. "Como ele está?"
"Melhor do que ontem, mas ainda parece um peixe fora d’água," respondeu ela, apertando uma bandagem improvisada no braço de Kofi. "Você trouxe esse menino para cá, Min-ho. Vai cuidar dele ou deixar os outros o tratarem como bicho?"
Min-ho sorriu, um pouco envergonhado. "Eu cuido dele." Ele olhou para Kofi e apontou para si mesmo. "Min-ho," disse lentamente, batendo no peito. Depois apontou para Kofi, esperando.
Kofi franziu a testa, entendendo aos poucos. Ele bateu no próprio peito e disse, com voz rouca: "Kofi."
"Kofi?" repetiu Min-ho, testando o som. "Kofi… É assim que você se chama?"
Kofi assentiu, e Min-ho riu, satisfeito. "Bom. Vamos começar por aí." Ele pegou um pedaço de madeira da pilha e o entregou a Kofi, apontando para o fogo que ardia no centro do pátio. "Fogo," disse, articulando bem. "Fogo."
"Fo-go," repetiu Kofi, hesitante. A palavra soava estranha em sua língua, mas ele tentou, e Min-ho bateu palmas, animado.
"Isso! Fogo!" Min-ho apontou para o céu. "Sol."
"Sol," ecoou Kofi, olhando para cima. Pela primeira vez desde que chegara, ele sentiu algo além de medo — uma faísca de conexão.
Hye-jin observava os dois, um sorriso discreto nos lábios. "Você tem paciência, Min-ho. Ele vai precisar disso aqui."
A lição improvisada foi interrompida por passos pesados. Kang Dae-sung, o jovem oficial, atravessou o pátio com sua armadura leve tilintando. Ele era alto, com ombros largos e um olhar afiado que parecia cortar o ar. Dae-sung parou ao ver Min-ho e Kofi juntos, as sobrancelhas franzidas.
"Min-ho, o que está fazendo?" perguntou Dae-sung, a voz carregada de um tom que misturava curiosidade e desaprovação. "Ensinando truques a esse selvagem?"
"Ele não é selvagem," respondeu Min-ho, levantando-se. "É um homem, como você ou eu. Só não conhece nossa língua."
Dae-sung deu um passo à frente, examinando Kofi de cima a baixo. "Um homem, hein? Parece mais um animal que o mar cuspiu." Ele riu, mas seus olhos não acompanharam o humor. "Seu pai sabe que você está brincando de professor com ele?"
"Meu pai disse que eu respondo por ele," retrucou Min-ho, firme. "E é o que estou fazendo."
Dae-sung cruzou os braços, o sorriso desaparecendo. "Você sempre foi mole demais, Min-ho. Um dia, isso vai te custar caro." Ele lançou um último olhar para Kofi, como se o desafiasse, antes de se afastar em direção aos alojamentos dos soldados.
Kofi não entendeu as palavras, mas sentiu a hostilidade no ar. Ele olhou para Min-ho, que balançou a cabeça. "Não ligue para ele," disse Min-ho, apontando para Dae-sung. "Problema."
"Pro-ble-ma," repetiu Kofi, e Min-ho riu novamente.
Mais tarde, enquanto Kofi carregava água para a cozinha, Hye-jin o chamou para um canto. Ela segurava uma tigela de sopa de arroz quente e a entregou a ele. "Coma," disse, apontando para a boca. "Você precisa de força."
Kofi pegou a tigela, o cheiro estranho mas reconfortante. Ele tomou um gole, e o calor espalhou-se por seu corpo. "Obrigado," tentou dizer na língua dele, mas Hye-jin apenas sorriu, entendendo o gesto.
"Você é um bom menino," disse ela, bagunçando o cabelo curto e cacheado de Kofi como faria com um filho. "Não sei o que te trouxe até aqui, mas vou te ajudar a ficar de pé."
Enquanto Kofi comia, Min-ho apareceu novamente, trazendo um rolo de pergaminho e uma pena. "Vamos aprender mais," disse, sentando-se ao lado dele. "Água." Ele apontou para o balde.
"Á-gua," repetiu Kofi, e assim passaram a tarde — palavra por palavra, riso por riso.
No entanto, do outro lado da fortaleza, Dae-sung conversava com um grupo de soldados, sua voz baixa. "O filho do general está muito apegado àquele estrangeiro," disse ele, girando uma adaga entre os dedos. "Se ele quer brincar de herói, que seja. Mas esse tal de Kofi… Ele não vai ficar no meu caminho."
Um dos soldados riu. "Está com ciúmes, Dae-sung? Do selvagem?"
"Ciúmes?" Dae-sung lançou um olhar cortante. "Não. Só não gosto de ver Min-ho perder tempo com alguém que não merece."
Mas, no fundo, ele sabia que era mais do que isso. Desde crianças, Dae-sung admirava Min-ho, queria estar ao seu lado — talvez até ser mais do que um amigo. E agora, aquele estranho de pele negra ameaçava roubar o que ele nunca tivera coragem de reivindicar.
Fim do Capítulo 2
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Atualizado até capítulo 28
Comments
Dani M04 <3
Fiquei presa nessa história! Preciso saber o que acontece! 😍
2025-02-24
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