A manhã trouxe um vento cortante que varria o pátio da fortaleza, levantando poeira e folhas secas. Kofi carregava uma braçada de madeira para o fogo da cozinha, os músculos definidos sob a túnica simples que os servos lhe deram. Ele já se acostumara ao peso das tarefas diárias, mas não aos olhares furtivos que o perseguiam. Desde o incidente com Joon, os outros servos o evitavam, mas a tensão pairava como uma nuvem pronta para desabar.
Enquanto ele empilhava a madeira perto da fogueira, Kang Dae-sung apareceu, caminhando com passos lentos e deliberados. Seus cabelos negros estavam presos em um coque alto, e a armadura leve refletia o sol fraco. Ele parou a poucos metros de Kofi, cruzando os braços, um sorriso frio nos lábios.
"Ei, estrangeiro," chamou Dae-sung, a voz carregada de provocação. "Você acha que é alguém agora, não é? Andando por aí com Min-ho como se fosse um cãozinho treinado."
Kofi virou-se, reconhecendo o tom hostil, mas sem entender as palavras. Ele ficou em silêncio, segurando um pedaço de madeira, os olhos fixos em Dae-sung. O oficial riu, dando um passo à frente.
"Não entende, hein? Que pena." Dae-sung pegou uma vara do chão e a jogou aos pés de Kofi, apontando para ela. "Pegue. Vamos ver se você é útil pra alguma coisa além de carregar lenha."
Kofi hesitou, mas abaixou-se para pegar a vara. Antes que pudesse se levantar, Dae-sung chutou a pilha de madeira, derrubando-a com estrondo. Os servos próximos pararam para olhar, alguns rindo baixinho.
"Ops," disse Dae-sung, fingindo surpresa. "Você é lento demais, selvagem. Talvez devesse voltar pro mar."
Kofi apertou a vara com força, o sangue subindo às têmporas. Ele não precisava entender a língua para saber que estava sendo humilhado. Levantou-se, encarando Dae-sung, o corpo tenso como um arco prestes a disparar.
"Problema?" perguntou Kofi, a palavra que Min-ho lhe ensinara ecoando com firmeza
Dae-sung estreitou os olhos, surpreso. "Olha só, o animal fala!" Ele deu um passo mais perto, quase nariz com nariz. "Sim, você é um problema. E eu não gosto de problemas."
Antes que a situação escalasse, uma voz cortou o ar. "Dae-sung, o que você está fazendo?" Sohn Min-ho apareceu, atravessando o pátio com passos rápidos. Ele se colocou entre Kofi e o oficial, os olhos faiscando de raiva.
"Relaxa, Min-ho," respondeu Dae-sung, erguendo as mãos em falso rendição. "Só estava testando seu bichinho de estimação."
"Ele não é um bicho," retrucou Min-ho, a voz baixa mas cortante. "E você não tem nenhum direito de tratá-lo assim."
Dae-sung riu, mas havia um brilho sombrio em seus olhos. "Você sempre protegeu os fracos, Min-ho. Um dia, isso vai te custar caro." Ele virou-se, jogando a adaga no ar e pegando-a com destreza antes de se afastar.
Min-ho virou-se para Kofi, o rosto suavizando. "Você está bem?" perguntou, apontando para ele.
Kofi assentiu, soltando a vara. "Sim. Obrigado, Min-ho."
Min-ho sorriu, aliviado. "Venha. Vamos sair daqui."
Os dois caminharam até um canto mais calmo da fortaleza, perto de um riacho que corria ao lado do muro. Min-ho sentou-se em uma pedra, gesticulando para Kofi fazer o mesmo. Ele pegou um graveto e começou a desenhar na terra — uma casa simples, com um telhado curvo.
"Casa," disse Min-ho, apontando para o desenho. "Onde você morava… antes?"
Kofi olhou o desenho, os olhos distantes. Ele pegou o graveto e desenhou algo diferente — um rio largo, com árvores altas ao redor. "Casa," disse, a voz carregada de saudade. "Lá… longe."
Min-ho observou em silêncio, tentando imaginar o lugar que Kofi descrevia. "Bonito," disse, apontando para o desenho. Depois, hesitante, colocou a mão no ombro de Kofi. "Você… aqui agora. Comigo."
Kofi olhou para ele, sentindo o calor daquele toque. "Comigo," repetiu, um leve sorriso surgindo. Algo estava mudando entre eles, uma ponte invisível sendo construída palavra por palavra, gesto por gesto.
Enquanto isso, Hye-jin trabalhava em seu pequeno quarto, moendo ervas com um pilão. Ela ouvira os rumores sobre o confronto no pátio e viu Min-ho e Kofi saírem juntos. Quando terminou, foi até o riacho, carregando um pano com bolinhos de arroz.
"Encontrei vocês," disse ela, aproximando-se com um sorriso. "Trouxe algo pra comer. Vocês dois parecem famintos."
"Obrigado, Hye-jin," disse Min-ho, pegando um bolinho e oferecendo outro a Kofi. "Comida," explicou, apontando.
"Co-mi-da," repetiu Kofi, mordendo o bolinho. Ele assentiu para Hye-jin, grato.
Ela sentou-se com eles, observando-os em silêncio por um momento. "Vocês estão se dando bem," disse, os olhos brilhando com ternura. "Mas tome cuidado, Min-ho. Nem todos gostam de ver isso."
Min-ho franziu a testa. "Você quer dizer Dae-sung?"
Hye-jin assentiu, o tom sério. "Ele sempre quis sua atenção, desde pequeno. Agora, vê Kofi como um rival. Ciúmes é uma chama perigosa, menino."
"Ele não tem motivo pra isso," respondeu Min-ho, mas sua voz carregava incerteza.
Hye-jin riu baixinho. "O coração não precisa de motivos. Só de sentir." Ela olhou para Kofi, que comia em silêncio. "E você, rapaz, mantenha a cabeça erguida. Não deixe eles te dobrarem."
Kofi não entendeu tudo, mas assentiu. "Forte," disse, batendo no peito.
"Isso mesmo," respondeu Hye-jin, dando um tapinha em sua mão.
Naquela noite, Dae-sung reuniu-se com Tae-woo nos alojamentos, a luz de uma lamparina tremendo entre eles. "Ele não recuou hoje," disse Dae-sung, a voz tensa. "E Min-ho o defendeu de novo."
"Quer que eu faça algo, senhor?" perguntou Tae-woo, afiando sua espada.
"Ainda não," respondeu Dae-sung, os olhos frios. "Mas espalhe entre os soldados que o estrangeiro é uma ameaça. Vamos ver como ele se sai quando todos o odiarem."
Fim do Capítulo 4
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Atualizado até capítulo 28
Comments
Yami CB
Adorei cada página, não conseguia parar de ler.
2025-02-23
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