O céu estava cinzento naquela manhã, com nuvens pesadas pairando sobre a fortaleza do General Sohn Baek. Kofi carregava um cesto de grãos até o depósito, o peso familiar nos ombros lembrando-o dos campos de sua terra natal. Ele aprendera algumas palavras nos últimos dias — "água", "fogo", "trabalhar" — e isso o ajudava a entender as ordens gritadas pelos servos mais velhos.
Mas a compreensão não tornava os dias mais fáceis. Os olhares de desprezo e os murmúrios o seguiam como sombras.
No caminho para o depósito, ele passou por um grupo de servos reunidos perto da cozinha. Um deles, um homem baixo e musculoso chamado Joon, jogava água suja no chão com um balde. Ao ver Kofi, Joon riu alto, chamando os outros.
"Olhem só o demônio carregador!" disse Joon, cruzando os braços. "Acha que é um de nós agora, hein? Aprendeu a latir como cachorro com o jovem senhor Min-ho?"
Os outros riram, e uma jovem criada, Soo-mi, jogou uma casca de legume na direção de Kofi. "Volte pro mar, seu monstro!" ela gritou, incentivada pelos demais.
Kofi parou, o cesto ainda nas mãos. Ele não entendia todas as palavras, mas o tom era claro — o mesmo que ouvira dos capatazes que o chicoteavam em sua vida passada. Ele baixou os olhos, tentando ignorá-los, mas Joon deu um passo à frente e empurrou o cesto, derrubando os grãos na terra molhada.
"Ops," disse Joon, fingindo surpresa. "Que pena. Agora você vai ter que catar tudo, demônio."
Kofi cerrou os punhos, o sangue pulsando em suas veias. Ele queria reagir, mas sabia que isso só lhe traria mais problemas. Antes que pudesse decidir, uma voz cortou o ar.
"Parem com isso!" Sohn Min-ho apareceu no pátio, o rosto vermelho de raiva. Ele caminhou até Joon, encarando-o sem piscar. "Quem você pensa que é para tratar ele assim?"
Joon recuou, surpreso, mas tentou manter a pose. "Senhor Min-ho, ele é só um estrangeiro. Não pertence aqui!"
"Ele está aqui porque eu permiti," retrucou Min-ho, a voz firme como pedra.
"E enquanto estiver sob minha proteção, vocês vão tratá-lo com respeito. Entendido?"
Os servos se entreolharam, murmurando, mas ninguém ousou desafiar o filho do general. Soo-mi baixou a cabeça, envergonhada, e Joon rangeu os dentes, mas assentiu. Min-ho se virou para Kofi e apontou para os grãos no chão. "Deixe isso. Eles vão limpar."
Kofi hesitou, mas assentiu. "Obrigado," disse, a palavra ainda estranha em sua boca, mas carregada de gratidão. Min-ho sorriu, colocando a mão em seu ombro por um breve instante antes de se afastar.
A cena não passou despercebida. Do alto de uma varanda, Kang Dae-sung observava tudo, os dedos tamborilando na madeira. Ele vira como Min-ho protegera Kofi, o toque no ombro, o brilho nos olhos. Algo quente e amargo cresceu em seu peito — ciúmes misturado com desprezo.
"Ele prefere aquele selvagem a mim," murmurou Dae-sung, os olhos estreitados. Ele desceu as escadas e encontrou um de seus soldados de confiança, um homem chamado Tae-woo, que limpava sua espada no pátio.
"Tae-woo," chamou Dae-sung, a voz baixa. "Quero que você fique de olho naquele estrangeiro. O tal de Kofi."
Tae-woo ergueu uma sobrancelha, curioso. "O que ele fez, senhor?
"Nada que eu possa provar… ainda," respondeu Dae-sung, girando a adaga em suas mãos. "Mas ele está muito perto de Min-ho. Se ele tropeçar, quero saber. E se não tropeçar… talvez possamos dar um empurrãozinho."
Tae-woo riu, um som grave. "Entendido, senhor. Vou vigiá-lo como um falcão."
Dae-sung assentiu, satisfeito. Ele não sabia ao certo o que queria — humilhar Kofi, afastá-lo de Min-ho ou algo mais sombrio. Mas uma coisa era clara: ele não deixaria aquele estranho roubar o que ele desejava há anos.
Mais tarde, Kofi estava no canto dos servos, varrendo o chão com uma vassoura de galhos, quando Hye-jin apareceu. Ela trazia uma tigela de mingau de milho quente e um pano úmido. "Você está com cara de quem enfrentou uma tempestade hoje," disse ela, entregando a comida. "O que aconteceu?"
Kofi apontou para o pátio, imitando o gesto de Joon derrubando o cesto. "Problema," disse, usando a palavra que Min-ho lhe ensinara.
Hye-jin suspirou, sentando-se ao seu lado. "Eles têm medo do que não conhecem, menino. Mas você é forte. Não deixe eles te derrubarem." Ela limpou um corte novo em sua mão, resultado de um galho quebrado da vassoura. "Min-ho te ajudou, não foi?
Kofi assentiu, um leve sorriso surgindo. "Min-ho… bom."
"Ele é um bom rapaz," concordou Hye-jin, os olhos distantes por um momento. "Perdeu a mãe cedo, como eu perdi meu filho. Acho que ele vê algo em você… algo que o faz querer proteger."
Kofi não entendeu tudo, mas sentiu o carinho na voz dela. Ele terminou o mingau, e Hye-jin deu um tapinha em sua cabeça. "Fique perto de mim e de Min-ho. Aqui, você tem amigos."
Naquela noite, Min-ho encontrou Kofi perto do poço, onde ele enchia baldes para os cavalos. O jovem trazia um pedaço de pergaminho e uma pena, como fizera antes. "Vamos aprender mais," disse, sentando-se na borda do poço. Ele apontou para a água. "Água, você já sabe. Agora…" Ele apontou para o céu estrelado. "Estrelas."
"Es-tre-las," repetiu Kofi, olhando para cima. As estrelas eram as mesmas que ele via em sua terra natal, um lembrete de casa que o confortava.
"Isso!" Min-ho riu, escrevendo a palavra em coreano no pergaminho. "Você aprende rápido, Kofi."
Kofi apontou para si mesmo. "Kofi… forte?"
Min-ho parou, surpreso com a pergunta. Ele sorriu, assentindo. "Sim. Kofi forte. Muito forte."
Por um momento, os dois ficaram em silêncio, o som da água gotejando como música. Min-ho sentiu algo crescer em seu peito — admiração, talvez mais. Ele não sabia nomear, mas sabia que queria Kofi por perto.
Enquanto isso, Tae-woo espreitava nas sombras, observando a cena. Ele voltou até Dae-sung nos alojamentos, um sorriso torto no rosto. "O estrangeiro e Min-ho estão juntos de novo, senhor. Rindo como amigos."
Dae-sung apertou a adaga com mais força. "Amigos, é? Vamos ver quanto tempo isso dura."
Fim do Capítulo 3
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Atualizado até capítulo 28
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