Marcos abriu os olhos lentamente. Sua cabeça latejava, e seu corpo estava pesado. Ele tentou se mover, mas percebeu que estava em uma cela fria e úmida, com paredes de pedra e barras de ferro enferrujadas. A única luz vinha de uma pequena fresta no alto da parede, iluminando o chão de pedra áspera.
Ele olhou ao redor, tentando se situar, mas não teve muito tempo para pensar. Um dos guardas notou que ele havia acordado e se aproximou, batendo a ponta da bota contra as grades.
— Levante-se. O chefe quer falar com você.
Marcos hesitou, mas percebeu que não tinha muita escolha. Ele se levantou devagar, seus músculos ainda doloridos da luta. O guarda abriu a cela e o puxou bruscamente pelo braço, guiando-o por um longo corredor sombrio até uma porta pesada de metal.
Ao entrarem, Marcos foi empurrado para dentro de uma sala iluminada apenas por algumas lâmpadas penduradas no teto. Atrás de uma mesa de madeira robusta, um homem estava sentado, observando-o com um olhar afiado e calculista. Ele vestia um longo casaco verde escuro, tinha cabelos grisalhos bem cortados e um rosto marcado por cicatrizes, que pareciam contar histórias de inúmeras batalhas.
— Então você é o garoto esperto que conseguiu nos enganar com um truque barato? — O homem inclinou a cabeça, analisando Marcos.
Marcos reconheceu imediatamente aquele olhar. Era o mesmo homem que havia destruído suas câmeras na floresta, que havia nocauteado William com facilidade. Ele não era apenas um caçador qualquer. Era alguém perigoso.
— Marcos, certo? — O homem sorriu de canto, pegando um canivete da mesa e girando entre os dedos. — Mas garotos como você sempre têm apelidos, não é? Um nome que representa quem são de verdade.
Marcos ficou em silêncio, apenas observando.
— Inteligente, engenhoso, rápido com planos... — O homem deu um pequeno sorriso. — Acho que vou te chamar de Espectro. Sempre um passo à frente, escondido nas sombras, mas impossível de ignorar.
Ele se levantou e caminhou lentamente até Marcos.
— Eu esperava que um garoto tão esperto entendesse a situação em que se meteu. Você tem talento, garoto. E talento não deve ser desperdiçado. Então, me diga... está pronto para uma proposta que pode salvar sua vida?
Marcos engoliu em seco, sentindo o peso das palavras do homem. Ele sabia que qualquer resposta errada poderia custar caro.
Marcos sentiu seu corpo tenso, mas manteve a postura firme enquanto encarava o homem à sua frente. Antes que qualquer negociação começasse, ele precisava de respostas.
— Cadê a Rita e o William? — Sua voz saiu firme, mas carregada de preocupação. — E a Luna? O que fizeram com ela?
O homem girou o canivete nos dedos e sorriu de canto, como se estivesse se divertindo com a situação.
— Suas prioridades são interessantes, garoto — ele disse, dando um passo à frente. — A garota humana e o outro moleque foram deixados para trás. Não tínhamos interesse neles. Mas a vampira...
Ele parou por um momento, observando Marcos com atenção.
— Digamos que ela está conosco, e ainda viva. Por enquanto.
Marcos sentiu um aperto no peito, mas escondeu qualquer traço de preocupação. Ele não podia demonstrar fraqueza.
— Agora que já esclarecemos isso... — O homem continuou, voltando a se sentar. — Vamos falar sobre você, Espectro
O homem se encostou na mesa de metal, cruzando os braços enquanto analisava Marcos com um olhar frio e calculista.
— Meu nome é Levi III — ele disse com um tom casual, como se estivesse conversando com um velho conhecido. — Eu herdei essa posição do meu pai, que foi morto pelo irmão da sua amiguinha vampira.
Ele abriu um sorriso amarelo, sem qualquer vestígio de humor. Marcos manteve a expressão neutra, mas sua mente trabalhava rápido.
— Pois é — Levi continuou. — Eu poderia simplesmente me vingar e acabar com ela agora, mas eu sou um homem prático.
Ele fez um gesto com a mão e um dos guardas ao lado jogou um tablet na mesa. A tela mostrou imagens da casa de Marcos, sua família, seus pais e até Rita ainda desacordada.
— Já deixei três dos meus soldados de olho neles. A questão é... O que você vai fazer a respeito?
Marcos sentiu o sangue gelar, mas seu rosto continuava impassível.
— Tô ouvindo.
Levi sorriu satisfeito.
— Eu te proponho um acordo. Você é inteligente, já percebi isso. E inteligência é algo que me interessa. Se trabalhar pra mim, eu garanto que sua família fica segura.
Ele fez uma pausa antes de finalizar:
— E quem sabe... a vampirinha também.
Levi III manteve o sorriso enquanto observava Marcos.
— Então, temos um acordo — ele disse, satisfeito. — Você vai bolar armadilhas para exterminar a família real dos vampiros. Em troca, eu deixo a sua amiguinha aos cuidados de vocês.
Marcos respirou fundo, fingindo estar mais tranquilo do que realmente estava.
— Fechado.
Levi fez um sinal com a mão, e um dos guardas se aproximou.
— Tire as algemas dele e leve-o para o quarto que eu reservei. Quero ele descansado.
O guarda assentiu e puxou Marcos pelo braço, conduzindo-o para fora. Assim que a porta se fechou, outro homem entrou na sala, segurando um tablet. Ele se aproximou de Levi e entregou um relatório.
— Senhor, os espiões confirmaram — disse o soldado. — Em breve, os vampiros vão iniciar uma guerra contra os humanos.
Levi leu as informações com uma expressão séria.
— E quanto às nossas opções?
O soldado deslizou a tela do tablet, revelando três imagens.
A primeira mostrava uma mulher alta com um sorriso assustador, o rosto coberto de sangue. Seu nome e idade estavam borrados — informações desconhecidas.
A segunda mostrava um homem de óculos, sentado calmamente lendo um livro. Ele tinha acesso a todas as informações possíveis, um verdadeiro gênio tático.
A terceira imagem exibia uma figura encapuzada de branco, cercado por neve. Ao lado dele, um imenso lobo branco de olhos frios. Nenhum nome, idade ou nacionalidade constava no relatório. Apenas um apelido:
"Morte Branca".
— Esse último... — o soldado comentou com um tom de receio. — O número de vampiros que ele já matou chega a 800.
Levi olhou fixamente para o tablet e suspirou.
— Então, talvez seja hora de chamar os melhores.
Do outro lado, na fazenda, William e Vicent estavam conversando sob a luz fraca da lua. O clima entre eles era tenso, mas, de certa forma, havia um entendimento mútuo: ambos queriam recuperar Marcos e Luna.
William encostou-se na cerca do galinheiro, cruzando os braços.
— Então, quer dizer que o "príncipe dos vampiros" veio pedir ajuda para um humano? — ele disse, com um tom provocativo.
Vicent riu de leve, balançando a cabeça.
— Eu diria que vim propor uma aliança temporária. Você quer seu amigo de volta, eu quero minha irmã. Acho que nossos objetivos se alinham... por enquanto.
William olhou para ele com desconfiança, mas antes que pudesse responder, uma voz feminina interrompeu a conversa.
— O que diabos está acontecendo aqui?!
Os dois se viraram e viram Rita parada ali, ofegante. Ela tinha acabado de sair de casa e se assustou ao ver Vicent ali, no meio da fazenda.
Seus olhos arregalaram ao reconhecer quem ele era.
— Vicent?! O que ele tá fazendo aqui, William?!
Vicent lançou um olhar divertido para ela.
— Bom, parece que sua amiga não tem tanta paciência quanto você.
William suspirou.
— Calma, Rita. Ele quer ajudar a resgatar Marcos e Luna.
Rita ainda estava hesitante, mas a preocupação com seus amigos falou mais alto.
— E por que eu deveria confiar em um vampiro?!
Vicent se aproximou um pouco, mantendo as mãos nos bolsos.
— Porque, goste ou não, temos um inimigo em comum. E se quisermos vencer, vamos precisar um do outro.
O silêncio pairou no ar por alguns segundos. Rita mordeu o lábio, claramente dividida.
— Isso parece loucura... — murmurou.
William olhou para ela com firmeza.
— Se for pra trazer Marcos e Luna de volta, então essa loucura vale a pena.
Rita cruzou os braços e lançou um olhar sarcástico para Vicent.
— Certo, príncipe sombrio, qual é o plano?
Vicent sorriu de canto, sem se abalar pelo tom debochado dela.
— Primeiro, vocês precisam entender com quem estamos lidando. Os Green Hunters não são caçadores comuns. Eles são uma organização altamente treinada para exterminar vampiros e outras criaturas como eu. E o líder deles, Levi III, tem um motivo pessoal para estar atrás da minha família.
Rita e William se entreolharam, atentos.
— Motivo pessoal? — William perguntou.
Vicent suspirou e passou a mão pelos cabelos.
— Eu matei o irmão dele.
O silêncio tomou conta do lugar. Rita arregalou os olhos, enquanto William franziu o cenho.
— Você o quê?! — Rita quase gritou.
— Foi para proteger Luna — Vicent disse, firme. — Ele tinha descoberto o que ela era e queria matá-la. Eu não tive escolha.
Rita respirou fundo, tentando processar tudo.
— Então é por isso que esse tal de Levi quer vingança... e agora ele pegou Marcos e Luna.
— Exatamente — Vicent confirmou. — Ele sabe que Luna é diferente, e isso o intriga. Mas Marcos... ele não teria sido levado à toa. Levi viu algo nele.
William cerrou os punhos.
— Marcos é inteligente. Provavelmente querem usar isso contra os vampiros.
Vicent assentiu.
— E é por isso que precisamos agir rápido. Quanto mais tempo deixarmos, mais difícil será tirá-los de lá vivos.
Rita ainda parecia hesitante, mas suspirou.
— Certo, Vicent. Estamos dentro. Mas se você tentar nos ferrar...
— Eu não vou — ele garantiu. — Afinal, estamos no mesmo time... por enquanto.
Os três caminharam em silêncio pela fazenda, com Vicent ligeiramente à frente. Quando chegaram à casa de William, ele parou e fechou os olhos por um instante. Um brilho vermelho atravessou suas íris, e ele murmurou algumas palavras em um tom baixo e hipnótico.
A família de William, que estava na sala, pareceu relaxar de repente, seus olhos ficando vagos.
— Eles vão esquecer que você existiu por alguns dias — Vicent explicou, voltando a caminhar. — Quando voltarmos, eu desfaço o efeito.
William observou sua mãe e sua irmã sentadas no sofá, completamente alheias ao que acontecia. Engoliu em seco e seguiu Vicent e Rita para fora, sem dizer nada.
Após um tempo caminhando pela estrada deserta, os três chegaram até a casa de Rita. O lugar era simples, mas acolhedor. Assim que entraram, Vicent cruzou os braços e olhou para os dois humanos à sua frente.
— Se vocês querem realmente salvar o amigo de vocês, precisam treinar.
William estalou o pescoço, já se preparando mentalmente para o que estava por vir. Rita, por outro lado, arqueou uma sobrancelha.
— Treinar? O que exatamente você acha que podemos fazer contra um exército de caçadores treinados e vampiros sanguinários?
Vicent sorriu de canto.
— Por isso eu chamei alguém para ajudar.
Ele virou levemente a cabeça em direção à porta.
— Pode entrar, Ruby.
A porta se abriu, e uma garota de cabelos vermelhos como sangue entrou com um sorriso empolgado. Ela usava roupas escuras e um casaco de couro, e seus olhos brilhavam com uma mistura de diversão e malícia.
— Finalmente! — disse ela, olhando para Rita e William. — Nunca vi humanos tão calmos perto de vampiros. Isso vai ser interessante.
Rita bufou e cruzou os braços.
— Acredite, querida, depois de tudo que passamos, você não é tão assustadora assim.
Ruby abriu um sorriso ainda maior.
— Vamos ver até onde essa confiança vai, humana.
Vicent suspirou e passou a mão pelos cabelos.
— Sem provocações por enquanto. Temos trabalho a fazer.
Ruby girou os ombros, se alongando como se estivesse prestes a se divertir muito.
— Beleza, Vicent. Mas espero que eles aguentem o tranco... porque eu não pego leve.
Durante essas três semanas, Vicent treinou William e Rita com brutalidade e disciplina.
William: Focado em resistência e combate físico, já que seu maior problema era a falta de técnica. Vicent o forçou a lutar contra ele repetidamente até que seus reflexos melhorassem. Ele aprendeu a antecipar ataques, usar o ambiente ao seu favor e a lidar com oponentes mais rápidos e fortes que ele.
Rita: Como sua força física não era comparável à de William, Ruby assumiu parte de seu treinamento. Ensinaram Rita a usar armas de curto e médio alcance, como facas e bestas. Ruby era impiedosa, jogando Rita no chão toda vez que errava, até que ela finalmente começasse a reagir de forma instintiva.
Vicent e Ruby também testaram os limites dos dois, deixando-os exaustos, quebrados, mas mais preparados.
Marcos – Quartel dos Hunters Green
Enquanto isso, Marcos passava seus dias elaborando armadilhas e estudando os caçadores.
Armadilhas: Ele construiu diversas armadilhas inteligentes para pegar vampiros e até mesmo caçadores inimigos. Criou sistemas de dardos envenenados, minas improvisadas e dispositivos de distração para emboscadas.
Contato com Luna: Sempre que podia, ele a visitava. Mesmo presa, Luna parecia mais preocupada com ele do que consigo mesma. Eles trocavam informações e tentavam bolar algum plano, mas com soldados observando, era difícil.
Marcos ganhou certa confiança de Levi III, mas sabia que estava pisando em gelo fino. Se fizesse algo errado, poderia ser descartado a qualquer momento.
Agora, depois de três semanas, todos estavam mais preparados. Mas a guerra estava cada vez mais próxima.
Rita bebia água, exausta depois de mais um dia de treino. Seus músculos doíam, suas roupas estavam suadas, mas, pela primeira vez, ela sentia que estava ficando mais forte.
Vicent apareceu silenciosamente atrás dela, os olhos afiados como sempre.
— Você está melhorando — disse ele, cruzando os braços. — Mas ainda hesita na hora de atacar.
Rita suspirou, olhando para a garrafa em sua mão.
— Sei disso. Mas não é fácil quando você sabe que pode morrer de verdade.
Vicent deu um sorriso frio.
— Se você não aprender a agir sem medo, vai morrer mesmo.
Ela revirou os olhos, mas no fundo sabia que ele estava certo.
No quartel dos Hunters Green, Marcos finalizava mais uma de suas armadilhas quando uma ideia começou a tomar forma em sua mente: e se ele pudesse criar uma arma capaz de exterminar vampiros de uma vez só?
Ele sabia que era um plano arriscado, mas se funcionasse… poderia acabar com tudo de uma vez.
Levi havia lhe dado acesso a uma biblioteca enorme, cheia de livros sobre engenharia, alquimia e táticas de guerra. Ele começou a folhear páginas, buscando qualquer informação que o ajudasse a tornar sua ideia realidade.
Levi estava sentado em seu escritório, analisando relatórios sobre o avanço dos vampiros na guerra que se aproximava. Ele sentiu uma leve mudança no ar, mas não conseguiu reagir a tempo.
Quando olhou para trás, um homem já estava ali.
Ele usava óculos e tinha um olhar sarcástico.
— Soube que você precisa de ajuda, senhor Levi.
Levi franziu a testa, mas manteve a compostura.
— Quem é você?
O homem sorriu.
— Vamos apenas dizer que eu sou… um solucionador de problemas.
A atmosfera ficou pesada. Levi sabia que estava lidando com alguém perigoso, mas também que talvez precisasse dessa ajuda.
A noite estava fria e silenciosa quando uma figura elegante saiu discretamente do castelo. Leviana caminhava lentamente, sentindo o vento gelado tocar seu rosto enquanto um sorriso malicioso surgia em seus lábios.
Ela parou ao lado de uma árvore, observando a escuridão da floresta. Então, soltou uma risada baixa, quase como se estivesse se divertindo com um segredo que só ela conhecia.
— Então, minha querida Ruby… — disse ela, sem olhar para trás. — Como anda o treinamento dos idiotas?
Das sombras, Ruby emergiu com um sorriso perverso, os olhos vermelhos brilhando na escuridão.
— Melhor do que eu esperava — respondeu ela, cruzando os braços. — Mas não o suficiente para impedir o que está por vir.
Leviana sorriu ainda mais.
— Ótimo. Então continuemos com o plano.
A cena escurece, deixando apenas o som da risada de Leviana ecoando na noite
Leviana andava apressada pelos corredores do castelo, sua expressão tomada por um falso desespero. Seus olhos brilhavam com lágrimas fingidas, e sua respiração era entrecortada como se tivesse corrido por toda a fortaleza.
Quando finalmente chegou ao grande salão, onde seu pai, o rei dos vampiros, estava sentado em seu trono imponente, ela caiu de joelhos diante dele.
— Pai… — sua voz tremia, cheia de angústia. — Eu… eu não sei o que fazer!
O rei estreitou os olhos, franzindo a testa ao ver a filha naquele estado.
— O que houve, minha filha? — sua voz grave ecoou pelo salão.
Leviana mordeu o lábio, como se estivesse hesitante, antes de finalmente soltar a bomba.
— É sobre Vicent… — ela soluçou, escondendo o rosto nas mãos. — Ele… ele está traindo nossa família! Ele se aliou aos humanos… ele está treinando eles para lutar contra nós!
O silêncio na sala foi cortante. O rei ficou imóvel por alguns segundos, absorvendo aquelas palavras. Então, seus olhos se tornaram duas fendas vermelhas de puro ódio.
— O quê? — ele rugiu, sua voz fazendo as paredes tremerem.
Leviana continuou, aumentando seu tom de desespero:
— Ele está reunindo forças… e quer salvar Luna dos Green Hunters! Ele pretende destruir tudo o que construímos!
O rei se levantou, sua fúria palpável. As chamas das tochas vacilaram com a energia sombria que emanava dele.
— Vicent… me desafiando? Traindo sua própria família por causa daquela garota?!
Ele apertou os punhos, seu olhar tomado por fúria absoluta.
— Se ele quer lutar contra nós… então que enfrente toda a ira do nosso clã.
Leviana, ainda ajoelhada, baixou a cabeça, ocultando um sorriso satisfeito. Seu plano estava dando certo.
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Atualizado até capítulo 20
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