Em uma noite fria, envolta por uma névoa densa, a mansão da família vampírica erguia-se como uma fortaleza esquecida. Os corredores eram vastos e escuros, decorados com tapeçarias antigas e objetos que pareciam carregados de memórias macabras. Luna, ainda uma adolescente no mundo dos vampiros, sentia-se pequena ali. Ela era a mais jovem de três irmãos, e a única que ainda guardava um resquício de humanidade dentro de si.
Desde criança, Luna passava horas olhando pela única janela que não era completamente bloqueada por madeira. A luz do sol sempre a fascinava, mesmo que sua pele não suportasse tocá-la. Enquanto Vicente e Leviana praticavam lutas e aprimoravam suas habilidades de caça, Luna sonhava com um mundo diferente, longe da escuridão que a rodeava.
— Por que você não se junta a nós, irmã? — perguntou Leviana, certa vez, com seu tom habitual de desdém. — Ainda sonhando com o impossível?
Luna permaneceu em silêncio. Ela sabia que sua irmã era leal ao pai, e qualquer comentário seria reportado imediatamente.
Uma noite fatídica, todos foram convocados ao grande salão da mansão. O pai dos irmãos, um vampiro alto e imponente, conhecido apenas como "O Senhor", esperava por eles. Seus olhos brilhavam com um vermelho intenso, e sua presença fazia o ar da sala parecer pesado.
— Luna, sua iniciação é hoje — declarou ele com frieza. — Está na hora de provar que você é digna do sangue que corre em suas veias.
Vicente, sempre o irmão mais obediente, manteve-se em posição de respeito, mas seus olhos traíam uma leve preocupação. Leviana, por outro lado, sorriu de maneira cruel.
— Você irá caçar esta noite — continuou o pai. — E trará sua primeira vítima.
O coração de Luna acelerou. Tudo dentro dela gritava contra aquilo. Ela já tinha visto as caçadas de seus irmãos e sabia o que acontecia com as vítimas. Não poderia se tornar aquilo.
— Eu não vou fazer isso — respondeu Luna, com uma voz firme, mas cheia de medo.
O silêncio caiu sobre a sala como uma sentença de morte.
O pai de Luna deu um passo à frente, seus olhos brilhando de raiva.
— Você ousa me desobedecer?
Antes que qualquer um pudesse reagir, Luna correu. Usou toda a sua velocidade e força para atravessar os corredores da mansão, derrubando tudo em seu caminho. Vicente e Leviana saíram em perseguição imediatamente.
— Não a deixe escapar! — gritou o pai deles.
Luna correu pela floresta, seus pés descalços machucando-se nas pedras e galhos. O som dos passos de seus irmãos ficava mais próximo a cada segundo.
Em um ponto, Vicente conseguiu alcançá-la e a empurrou contra uma árvore.
— Luna, pare com isso! Você sabe que não há escapatória! — disse ele, com uma voz que misturava raiva e preocupação.
— Eu não quero ser como vocês! — Luna gritou, com lágrimas nos olhos. — Eu não quero me tornar um monstro!
Por um breve momento, Vicente hesitou. Aquelas palavras mexeram com algo dentro dele. Mas Leviana logo apareceu, furiosa.
— Pare com a piedade, Vicente. Se ela não quer ser uma de nós, então é uma inimiga!
Luna aproveitou o momento de distração para escapar novamente. Correu até suas forças se esgotarem e, finalmente, desabou à beira de um riacho.
A primeira coisa que Luna ouviu foi o som de passos e vozes humanas. Ela abriu os olhos lentamente e viu dois rapazes se aproximando.
— Ei, você está bem? — perguntou William, cauteloso.
Luna tentou levantar-se, mas não tinha forças. Tudo o que conseguiu fazer foi olhar para eles, com uma mistura de medo e esperança.
Marcos, sempre desconfiado, manteve-se à distância com a câmera em mãos.
— Quem é você? O que aconteceu? — perguntou ele.
Luna não tinha respostas. Só sabia que, pela primeira vez, havia encontrado pessoas que não a tratavam como uma aberração.
E, naquele momento, decidiu que nunca mais voltaria para casa.
Vicente retornou à mansão naquela mesma noite, após Luna ter escapado. Seus passos ecoavam pelos corredores frios e silenciosos enquanto seguia para o grande salão central. Lá estava seu pai, sentado em um trono de pedra negra, envolto por uma escuridão quase palpável. Os olhos vermelhos do "Senhor" brilhavam sob a luz das tochas.
— Onde está sua irmã? — perguntou ele, com uma voz seca e ameaçadora.
Vicente respirou fundo, o peito subindo e descendo com o peso da confissão.
— Fugiu. Dois humanos a ajudaram a escapar. Mas vou trazê-la de volta.
O "Senhor" se levantou lentamente, seu olhar gelado perfurando Vicente.
— Dois humanos? — Ele deu um passo à frente. — Você permitiu que mortais atrapalhassem nossa família?
Vicente manteve a cabeça baixa, o orgulho ferido.
— Havia algo estranho naquele lugar onde eles estavam. O nível de magia era alto. Não eram humanos comuns.
O pai ficou em silêncio, refletindo por um momento. Depois, andou lentamente até a lareira do salão, onde as chamas ardiam em uma dança violenta.
— Primeiro, aquele lugar repleto de magia... Agora sua irmã fugindo. Essas coincidências me irritam. — Ele se virou de repente, os olhos brilhando de frustração. — Você tem uma última chance para trazê-la de volta. Não me decepcione, Vicente.
Ele fez um gesto brusco com a mão, e as portas atrás de Vicente se abriram sozinhas, rangendo pesadamente.
Vicente saiu apressado, respirando fundo para controlar sua raiva e frustração. Ao atravessar o corredor, Leviana estava esperando por ele. Ela estava encostada em uma coluna de pedra, os braços cruzados e um sorriso malicioso nos lábios.
— Está com problemas, irmãozinho? — provocou, seus olhos faiscando de diversão.
— Não estou com paciência para isso, Leviana. — Vicente tentou passar direto, mas ela o seguiu de perto.
— Você deveria ter deixado Luna fugir. Sempre foi uma fraca, desde o começo.
Vicente parou e virou-se para ela.
— Você não sabe de nada.
— Talvez não. — Leviana riu suavemente. — Mas agora, temos que trazê-la de volta. E eu vou me divertir muito fazendo isso.
Vicente apertou os punhos e voltou a andar, Leviana o seguindo, rindo baixinho enquanto desapareciam na noite.
Na manhã seguinte, Vicente e Leviana estavam na floresta, os primeiros raios de sol filtrando-se pelas árvores densas. Vicente caminhava em silêncio, com os olhos fixos no chão, até parar ao ver uma mochila largada perto de algumas folhas amassadas. Ele a pegou e examinou rapidamente.
— Um dos humanos deixou isso — murmurou ele.
Leviana se aproximou, observando a mochila com desinteresse antes de soltar uma risada irônica.
— Você sabe que é o mais forte dos jovens vampiros, o "durão". Mas seu ponto fraco sempre foi Luna. — Seus olhos estreitaram. — Se você a tivesse capturado, teria coragem de machucá-la?
Vicente ignorou a provocação, mas suas mãos apertaram a mochila com mais força. Ele vasculhou o interior até encontrar um pedaço de papel dobrado com um endereço anotado. Ele jogou o papel para Leviana sem sequer olhar para ela.
— Cala a boca e faça algo útil.
Leviana pegou o papel no ar com um sorriso afiado e começou a se preparar. Sua forma mudou lentamente, os braços e pernas encolhendo, até que um grande morcego de asas negras se ergueu onde antes estava a vampira. Com um último olhar zombeteiro para Vicente, ela alçou voo, partindo em direção à casa de Marcos.
Leviana pousou suavemente em uma rua deserta perto da casa de Marcos, retornando à sua forma humana. Carregava um guarda-chuva negro, protegendo-se dos poucos raios de sol que atravessavam as nuvens matinais. Aproximou-se da porta da casa e tocou a campainha com um ar sereno.
O pai de Marcos abriu a porta, com uma expressão cansada e ligeiramente desconfiada.
— Sim?
Leviana sorriu gentilmente, um sorriso cuidadosamente ensaiado para parecer inocente.
— Oi, senhor. Desculpe aparecer sem avisar. Meu nome é... Lívia. — Ela hesitou propositalmente para soar mais convincente. — Sou namorada do Marcos. Eu estou preocupada porque não vejo ele há dois dias. Ele não responde às minhas mensagens.
O pai de Marcos franziu o cenho. — Namorada? Ele nunca mencionou você.
— Ah, ele é meio reservado, não é? — Leviana deu uma risadinha nervosa, baixando os olhos. — Entendo se não acreditar em mim, mas realmente estou preocupada. Eu só queria saber se ele está bem ou se posso esperar por ele no quarto até que volte.
O pai de Marcos suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— Ele chegou tarde ontem e saiu cedo hoje de novo, como sempre. Eu não sei o que está acontecendo com ele ultimamente. — Ele hesitou por um momento, mas acabou abrindo mais a porta. — Tá, entre. Pode esperar lá no quarto dele.
Leviana entrou com passos leves, o sorriso se mantendo enquanto subia as escadas para o quarto de Marcos. Por trás dos olhos calmos, porém, havia uma determinação fria e calculista.
Leviana entrou no quarto de Marcos e fechou a porta atrás de si com um clique suave. Ela começou a vasculhar tudo — gavetas, prateleiras, até debaixo da cama. Ao encontrar um caderno com desenhos e anotações, deu uma risadinha baixa.
— Humanos são tão... fofos, com suas preocupações e sonhos pequenos. — Seus dedos delicados passaram pelas páginas antes de fechar o caderno com um estalo.
Duas horas depois, a porta do quarto se abriu bruscamente. Marcos entrou com a testa franzida, parando ao vê-la sentada calmamente em sua cama.
— Quem é você? E o que está fazendo no meu quarto?
Leviana se levantou, seu olhar fixo nos olhos dele. Seu tom era suave, mas com um toque de autoridade.
— Eu sou Leviana. Estava esperando por você. Achei que poderíamos conversar sobre... Luna.
Marcos ficou tenso. — Luna? Como você sabe sobre ela?
Leviana se aproximou lentamente, os olhos começando a brilhar com um vermelho suave.
— Você e seus amigos interferiram onde não deviam, mas eu não estou aqui para brigar. — Ela colocou uma mão gelada no ombro dele e, com um movimento rápido, agarrou seu pescoço. Marcos tentou se soltar, mas ela era muito mais forte.
Antes que ele pudesse reagir, Leviana inclinou-se e deu um beijo em sua bochecha.
— Agora olhe nos meus olhos.
Marcos, confuso, sentiu o peso do olhar dela. Seus olhos brilharam intensamente, e de repente sua mente ficou nublada.
— Você é meu agora — disse Leviana, com um tom suave e hipnótico. — Me leve até minha irmã.
Sem resistência, Marcos assentiu lentamente. Os dois saíram da casa juntos, sem dizer uma palavra ao pai de Marcos, que nem percebeu.
Ao chegarem na floresta, Vicente estava esperando por eles, os braços cruzados e o olhar frio. O céu estava tingido de laranja, e as sombras das árvores começavam a se alongar com o anoitecer.
— Finalmente — disse Vicente, sem emoção. — Vamos. Já está quase anoitecendo.
Leviana e Marcos se colocaram ao lado de Vicente, e os três partiram rapidamente em direção à casa de Rita.
NO PRESENTE
Vicente saiu do quarto de seu pai com o olhar abatido e um olho roxo que ainda pulsava de dor. Ele não dizia nada, mantendo a postura rígida enquanto caminhava pelo longo corredor do castelo. Atrás da porta, Leviana estava encostada na parede, os braços cruzados. Ela tinha ouvido tudo.
Quando Vicente passou por ela, ela não disse nada, mas o olhou de um jeito diferente, um olhar quase... compreensivo. Pela primeira vez, ela parecia ver algo além da fachada durona do irmão. No entanto, Vicente evitou encará-la. Ele apenas virou-se e, em um piscar de olhos, assumiu sua forma de morcego, batendo as asas rapidamente enquanto desaparecia pelo corredor sombrio.
Leviana ficou parada por um momento, absorvendo o que tinha acabado de presenciar. Com um suspiro profundo, virou-se para caminhar até seu quarto, seus passos ecoando suavemente pelas pedras do chão.
Antes que pudesse chegar à porta, uma figura alta e imponente bloqueou seu caminho. Seu pai, o rei dos vampiros, estava ali, olhando para ela com olhos frios e severos. Sua presença era avassaladora, cada movimento calculado.
— Minha filha do meio — ele começou, com uma voz calma, mas carregada de autoridade. — Seu irmão... fracassou. Ele não é mais digno de ser meu sucessor.
Leviana ergueu o queixo, tentando esconder qualquer reação, mas por dentro sentia o peso das palavras dele.
— Portanto, a responsabilidade agora recai sobre você — continuou o rei, inclinando-se levemente para ficar na altura de seus olhos. — Traga sua irmã de volta. Prove que você é digna. Faça o que for necessário.
Ele se endireitou, a luz fraca das tochas revelando sua expressão dura.
— Se você cumprir essa tarefa, será a nova sucessora ao trono. Não me decepcione, Leviana.
Ela respirou fundo, engolindo em seco antes de responder com uma leve reverência.
— Sim, meu pai.
Sem mais palavras, ele deu meia-volta e desapareceu na escuridão do corredor. Leviana permaneceu ali por alguns segundos, imóvel, antes de apertar os punhos com força. Por fora, sua expressão parecia calma, mas seus olhos traiam algo mais profundo: um misto de ambição, conflito e... talvez até tristeza.
Ela seguiu para seu quarto, fechando a porta atrás de si. Sozinha, sentou-se na beirada da cama, encarando o chão.
— Não é só uma questão de trazer Luna de volta... — murmurou para si mesma, pensativa. — É uma questão de sobreviver neste maldito jogo.
Do lado de fora do castelo, Vicente observava as torres de longe, ainda em sua forma de morcego. Ele não voltaria até ter algo que valesse a pena mostrar ao pai. E, no fundo, talvez isso fosse mais difícil do que ele queria admitir.
O sol brilhava forte pela janela da casa de Rita, anunciando o início de mais um dia. Os raios atravessavam as cortinas finas, iluminando suavemente o ambiente. Marcos despertou lentamente, os olhos ajustando-se à luz. Ele ainda se sentia exausto e confuso pelos eventos da noite anterior, mas estava de pé rapidamente, olhando ao redor.
William estava sentado à mesa, com ambas as mãos completamente enfaixadas. Os nós de seus dedos ainda doíam pelo confronto com Vicente, mas ele tentava esconder o desconforto. Mesmo assim, seus olhos mostravam orgulho pelo que havia conseguido fazer.
Luna, que estava encostada em uma das paredes, aproximou-se lentamente. Ela parecia mais tranquila sob o sol, embora ainda estivesse claramente desconfortável com a luz direta. Sua pele pálida refletia o brilho do sol, mas sua expressão era séria.
— Deixa eu ver suas mãos — disse ela suavemente, estendendo as próprias mãos em direção a William.
William hesitou por um momento, mas acabou estendendo os braços para que ela pudesse ver. Luna delicadamente tocou as bandagens.
— Isso vai doer um pouco, mas vai ajudar — ela murmurou, fechando os olhos.
Ela começou a entoar palavras baixas, uma linguagem antiga e quase melódica que fez o ar ao redor deles parecer vibrar. As palmas de suas mãos começaram a brilhar levemente com uma luz azulada, e o calor suave envolveu os punhos de William.
Ele sentiu uma leve queimação, mas logo a dor diminuiu, sendo substituída por uma sensação de alívio. Quando Luna retirou as mãos, William olhou para suas bandagens. Ele as removeu cuidadosamente e ficou surpreso ao ver que os hematomas haviam desaparecido quase completamente.
— Como... você fez isso? — perguntou ele, incrédulo.
— Magia de cura — respondeu Luna, sem emoção. — Algo que aprendi há muito tempo.
Marcos observava tudo em silêncio, seus olhos estreitando-se enquanto absorvia cada detalhe.
— Parece que você sabe muito mais do que está dizendo, Luna — comentou Marcos, com um tom levemente desconfiado.
Luna encontrou o olhar dele, mas não respondeu. Em vez disso, apenas virou-se e foi até a janela, onde o sol brilhava com força.
— Temos pouco tempo antes que meus irmãos voltem. Eles não vão desistir facilmente.
O clima na casa ficou tenso novamente, mas agora havia algo diferente. Eles sabiam que não podiam mais ignorar o que estava acontecendo. E, mesmo com as incertezas, o vínculo entre eles começava a se formar de maneira sutil.
Luna sentou-se em uma das cadeiras da cozinha, com uma caneca de sangue nas mãos. Seus dedos finos envolviam o copo, mas ela não parecia realmente interessada no conteúdo. Seu olhar estava perdido em algum ponto distante da parede.
— Eu aprendi com a minha mãe... — começou ela, sua voz baixa e um pouco rouca. — Ela era... diferente.
Marcos e William se entreolharam, curiosos e cautelosos.
— Enquanto outros vampiros destruíam tudo ao seu redor, ela curava. Ela ajudava humanos e vampiros... Não tinha medo de se arriscar por ninguém. Acho que foi isso que fez meu pai se interessar por ela.
Ela deu um pequeno sorriso melancólico ao lembrar-se da figura que provavelmente nunca chegou a conhecer plenamente.
— Bem... resumindo, a história não teve um final feliz. — Seus olhos começaram a tremer, e os dedos apertaram a caneca com força. — Ela morreu no meu parto.
O silêncio preencheu o ambiente. William parou o que estava fazendo, os olhos arregalados. Marcos ficou sem reação, suas mãos agora cruzadas na frente do peito, em um gesto inconsciente de proteção.
— Meus irmãos e meu pai nunca me perdoaram por isso — Luna continuou, sua voz falhando um pouco. — Eles me culpam por tudo. Por eu ser a razão de ela não estar mais aqui.
As lágrimas ameaçaram surgir em seus olhos, mas Luna rapidamente as secou com o dorso da mão. Ela olhou para os dois, tentando recuperar o controle.
— É por isso que eles me odeiam tanto. Vicente tenta esconder, mas ele não consegue deixar o passado para trás. E Leviana... ela apenas gosta de me ver sofrer.
Rita, que ouvia da porta, entrou silenciosamente. Ela colocou uma mão suave no ombro de Luna, um gesto simples, mas cheio de empatia.
— Não é sua culpa — disse Rita suavemente. — Você não tinha escolha.
Luna apenas balançou a cabeça, sem conseguir responder.
Marcos, que geralmente não sabia lidar com momentos emocionais, soltou um suspiro.
— Bom, se eles querem briga, vão ter que passar por nós primeiro.
William assentiu com determinação.
— Isso mesmo. Não importa o que eles acham, você não está sozinha agora.
Luna olhou para eles, surpresa com as palavras. Pela primeira vez em muito tempo, ela não sentiu que estava lutando sozinha.
No castelo sombrio, o quarto de Vicent estava mergulhado na escuridão. A única luz vinha da lua cheia, que penetrava pelas enormes janelas góticas. Ele estava deitado em sua cama, mas seu sono estava longe de ser tranquilo. Seu rosto, geralmente sério e impassível, estava agora contorcido em agonia.
Fragmentos de memórias começavam a se formar em sua mente.
Ele viu sua mãe, deitada em uma cama enorme, sua pele pálida e frágil. Ela o olhava com olhos marejados, mas cheios de amor e urgência.
— Filho... — a voz dela parecia ecoar no vazio. — Protege... sua irmã... deles... por favor... eu imploro.
A cena mudou abruptamente. Agora, ele ouvia gritos. Luna, mais jovem, correndo por um corredor escuro. Suas mãos estendidas para ele, os olhos cheios de medo e desespero.
— Irmão, me ajuda! — O grito dela cortou o ar, e Vicent viu sua irmã ser puxada para longe por sombras que ele não conseguia distinguir.
Tudo ficou preto por um momento antes de um último grito de Luna ecoar em sua mente.
Vicent acordou com um salto, ofegante. Seu corpo estava coberto de suor frio, e seus olhos estavam arregalados, brilhando com uma mistura de raiva e dor.
— Luna! — ele gritou, a voz ecoando pelas paredes de pedra do castelo.
Ele passou a mão pelos cabelos bagunçados, tentando recuperar o fôlego. Mas o sonho... ou memória... não saía de sua cabeça. Algo estava errado. Muito errado.
Vicent saiu da cama, decidido. Havia algo que ele precisava descobrir — e rápido.
Vicent caminhava pelas sombras fora do castelo, o luar iluminando fracamente seu rosto ainda marcado pela preocupação. Ele parou em uma clareira, e logo uma figura esbelta surgiu das árvores: Ruby. Seu cabelo vermelho brilhava sob a luz da lua, e seus olhos tinham o brilho atrevido de quem não seguia regras. Ela cruzou os braços e deu um sorriso provocador.
— E aí, idiota. O que foi agora? — disse com um tom sarcástico.
Vicente ergueu uma sobrancelha, impassível. — Mais respeito, Ruby.
Ela suspirou, mas o sorriso não desapareceu. — Tá bom, tá bom. O grande príncipe dos vampiros quer minha ajuda? O que aconteceu?
Ele olhou ao redor para garantir que ninguém os seguia. — Tenho um problema. E preciso da sua discrição.
Os olhos de Ruby brilharam de curiosidade. — Discrição não é meu forte, mas manda aí.
Enquanto os dois conversavam, Leviana estava em um quarto escuro, iluminado apenas pela tela azulada de um celular. Ela estava sentada na cama de Marcos, com um caderno de capa escura ao lado — seu diário, onde ela anotava suas observações e planos.
Ela passou os dedos pálidos pelo aparelho, ainda tentando entender como funcionava. Depois de algumas tentativas desajeitadas, conseguiu abrir um aplicativo de mensagens e soltou uma risada baixa e zombeteira.
— Humanos são tão engraçados... — murmurou para si mesma.
Seu sorriso malicioso aumentou quando pensou nas informações que poderia extrair dali. — Dois dias... — disse em voz baixa. Ela estava contando o tempo. E, em breve, faria seu próximo movimento.
Na casa de Rita, Marcos olhava ao redor, ainda tenso com os últimos acontecimentos. — Isso aqui não é mais seguro — declarou, sua voz firme. — Precisamos sair antes que anoiteça de novo.
William, com as mãos ainda doloridas, olhou para Luna, que estava fraca depois de tudo o que acontecera. — Conheço um lugar. A casa onde brincávamos quando éramos crianças, lembra, Marcos?
Marcos assentiu. — Sim. Só nós sabemos onde fica. E o melhor: é perto de uma plantação cheia de alho. Isso deve nos proteger à noite.
Rita, embora hesitante, sabia que não tinham outra opção. — Vamos rápido.
William se aproximou de Luna e a pegou cuidadosamente nos braços. Ela tentou protestar, mas não tinha forças para andar sozinha.
— Sempre o cavalheiro... — murmurou Marcos com um sorriso provocador, olhando para William. — Vou fazer o mesmo com Rita.
Rita não pensou duas vezes e deu um tapa nele. — Nem tente.
Com isso, os quatro saíram rapidamente da casa, carregando apenas o essencial. Eles caminharam pela floresta até o antigo esconderijo. A velha casa estava coberta de musgo e parcialmente escondida pelas árvores, mas ainda parecia sólida.
Enquanto a noite começava a cair, eles finalmente chegaram. William colocou Luna para descansar, enquanto Marcos e Rita verificavam o local para garantir que estava seguro.
O grupo sabia que aquela era apenas uma pausa temporária. A guerra contra os vampiros estava longe de terminar
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 20
Comments