A noite estava silenciosa na mansão Vasconcellos. Victoria caminhava pelos corredores em direção ao seu quarto quando parou diante do escritório de Christopher. A porta estava entreaberta, e uma luz suave escapava do interior.
Curiosa, ela espiou discretamente. Christopher estava sentado atrás da mesa de mogno, os cotovelos apoiados e as mãos entrelaçadas na testa. Diante dele, um copo de uísque intocado.
Ele parecia... cansado. Não fisicamente, mas emocionalmente.
Era raro vê-lo tão vulnerável, tão despido daquela rigidez que costumava carregar consigo. Por um momento, Victoria sentiu um impulso de entrar e perguntar se ele estava bem. Mas, antes que pudesse decidir, Christopher soltou um suspiro profundo e se levantou, passando a mão pelo cabelo.
Ela deu um passo para trás, afastando-se antes que ele a visse.
Naquela noite, enquanto tentava dormir, Victoria não conseguia tirar a imagem dele da cabeça.
A Garota do Lago
Na manhã seguinte, Liz apareceu no quarto de Victoria antes mesmo do café da manhã.
— Victoria, posso te pedir uma coisa?
— Claro, meu bem. O que foi?
Liz se sentou na cama, abraçando um travesseiro.
— Você pode me contar mais histórias sobre sua infância?
Victoria sorriu.
— Tem alguma história específica que quer ouvir?
A menina pensou por um momento e, então, disse:
— Algo sobre quando você era pequena e se sentia sozinha.
Victoria ficou ligeiramente surpresa com o pedido, mas assentiu.
— Bem… quando eu era pequena, costumava ir para um lago perto da casa da minha avó. Sempre que eu me sentia triste ou sozinha, sentava na beira da água e jogava pedrinhas, fingindo que estava conversando com os peixes.
Liz arregalou os olhos.
— Você falava com os peixes?
— Sim. Dizia a eles tudo o que estava sentindo, como se fossem meus amigos.
— Eles respondiam?
Victoria riu.
— Não com palavras. Mas, de vez em quando, um deles pulava na água bem na minha frente, como se quisesse dizer "estou te ouvindo".
Liz ficou pensativa.
— Você ainda faz isso?
Victoria balançou a cabeça.
— Não. Mas, às vezes, quando estou triste, ainda gosto de olhar para a água.
Liz sorriu e, para a surpresa de Victoria, segurou sua mão.
— Se você ficar triste aqui, pode falar comigo.
O coração de Victoria se aqueceu.
— Obrigada, minha pequena.
A Tempestade
O dia passou tranquilo, mas, à noite, uma tempestade caiu sobre a cidade. Relâmpagos cortavam o céu, e trovões faziam as janelas vibrarem.
Victoria estava terminando de organizar seu quarto quando ouviu um choro baixinho.
Preocupada, saiu pelo corredor e encontrou Liz encolhida no chão, abraçando um ursinho de pelúcia.
— Oh, meu amor… o que foi? — Victoria se ajoelhou ao lado dela.
— Eu odeio trovões. — A menina sussurrou, os olhos cheios de lágrimas.
Victoria a pegou no colo e a abraçou.
— Está tudo bem. Eu estou aqui.
Foi nesse momento que Christopher apareceu no corredor. Seus olhos se arregalaram ao ver Liz chorando nos braços de Victoria.
— Liz…
Ela virou o rosto para ele, os olhos ainda brilhando de medo.
— Pai…
Christopher hesitou. Ele sempre tentava ser forte para Liz, mas, naquele momento, parecia incerto sobre como confortá-la.
Victoria olhou para ele, percebendo o conflito em seus olhos.
— Venha. — Ela disse suavemente.
Christopher se aproximou e, lentamente, se abaixou ao lado delas. Liz segurou sua mão, e ele apertou os dedos dela com carinho.
— Está tudo bem, querida. É só uma tempestade.
— Mas é muito barulhento… — Liz murmurou.
Victoria sorriu.
— Sabe o que minha avó dizia quando eu tinha medo de trovões?
Liz e Christopher a encararam.
— Que os trovões são apenas nuvens brincando de corrida no céu.
Liz piscou.
— Elas brincam?
— Sim. Correm e fazem barulho porque estão se divertindo.
A menina pareceu considerar aquilo por um momento. Então, respirou fundo e assentiu.
— Acho que vou tentar pensar assim.
Victoria sorriu, e Christopher lançou-lhe um olhar discreto.
Havia algo diferente nele naquele instante. Como se estivesse vendo Victoria de uma forma que nunca tinha visto antes.
Uma Confissão Silenciosa
Christopher e Victoria ficaram um tempo em silêncio, observando a chuva pela janela do corredor.
Então, ele quebrou o silêncio.
— Você tem jeito com ela.
Victoria sorriu.
— Eu a amo.
Christopher virou o rosto para ela, como se suas palavras o tivessem surpreendido.
— Você ama minha filha?
Ela o encarou, sem medo de sua intensidade.
— Sim.
Ele ficou em silêncio por um momento, depois soltou um suspiro profundo.
— Eu não sou um homem fácil, Victoria.
— Não. Não é mesmo.
Ele riu, um som rouco e baixo, como se não estivesse acostumado a rir.
— Mas Liz está feliz. E eu não sei quando foi a última vez que a vi assim.
Victoria sentiu o coração acelerar.
— Ela está feliz porque tem alguém que realmente se importa.
Os olhos de Christopher escureceram por um momento, como se quisesse dizer algo, mas não soubesse como.
E então, sem aviso, ele se aproximou um pouco mais.
Por um instante, Victoria prendeu a respiração.
Mas, antes que qualquer coisa acontecesse, Christopher desviou o olhar e se afastou.
— Boa noite, Victoria.
Ela piscou, sentindo-se tonta.
— Boa noite, Christopher.
E quando ele se virou e desapareceu no corredor, Victoria percebeu que algo entre eles havia mudado.
E não havia mais como voltar atrás.
A noite envolvia a mansão Vasconcellos com um silêncio denso, interrompido apenas pelo vento lá fora. Victoria caminhava lentamente pelo corredor após colocar Liz para dormir. A menina tinha pedido que ela ficasse até que seus olhos se fechassem completamente, e Victoria não teve coragem de negar.
Quando passou pelo escritório de Christopher, a porta estava entreaberta, e uma luz amarela e suave escapava pelo vão.
Ela hesitou.
Deveria continuar? Fingir que não viu nada e seguir para seu quarto?
Mas algo a impediu de ignorar. Talvez fosse a curiosidade. Talvez fosse a imagem dele, sozinho ali dentro, a queimar na mente dela.
Antes que pudesse se questionar demais, deu um passo à frente e empurrou a porta.
Christopher estava sentado atrás da mesa de mogno, a gravata ligeiramente afrouxada e a camisa branca aberta no primeiro botão. Os óculos de leitura repousavam ao lado de um copo de uísque intocado.
Ele não percebeu sua presença imediatamente.
Estava com os cotovelos apoiados na mesa e os dedos pressionados contra a testa, como se tentasse afastar pensamentos insistentes.
— Não imaginei que você fosse do tipo que bebe sozinho. — A voz de Victoria quebrou o silêncio.
Christopher ergueu o olhar, surpreso.
— Eu não bebo. — Ele indicou o copo. — Está aí só por hábito.
Victoria arqueou uma sobrancelha e se encostou no batente da porta.
— E qual é o hábito? Sentar-se aqui todas as noites e remoer o passado?
Christopher soltou um riso baixo e irônico.
— Você acha que me conhece tão bem assim?
— Acho que você não é tão difícil de ler quanto imagina.
Ele a encarou por um longo momento.
— Está me chamando de previsível?
— Estou chamando você de teimoso.
Os olhos dele brilharam levemente, um misto de divertimento e exasperação.
— E o que exatamente você faz aqui a essa hora?
— Liz estava com medo de dormir sozinha.
Christopher assentiu lentamente, e seu olhar se suavizou por um instante.
— Ela tem dormido melhor desde que você chegou.
Victoria sorriu.
— Eu sei.
Eles ficaram em silêncio por alguns segundos, apenas se encarando.
E então, Christopher se levantou da cadeira.
Ele caminhou até ela sem pressa, parando perto o suficiente para que Victoria sentisse seu perfume amadeirado.
— Você está desafiando meus limites, Victoria.
A forma como ele disse aquilo fez a espinha dela arrepiar.
— Não sabia que existiam limites.
Ele soltou um riso baixo.
— Existem.
Victoria ergueu o rosto para encará-lo.
— E o que acontece quando eles são ultrapassados?
Christopher estreitou os olhos.
— Você quer descobrir?
Ela não respondeu. Apenas sustentou o olhar dele, o ar entre os dois carregado de algo espesso, elétrico.
Christopher respirou fundo e, então, ergueu uma mão.
Por um instante, Victoria achou que ele fosse tocá-la.
Mas ele hesitou.
Seu olhar caiu para os lábios dela.
E foi nesse momento que Victoria sentiu seu próprio coração disparar.
— Diga que pare. — A voz dele saiu baixa, quase um sussurro.
Ela não disse.
E isso pareceu ser um problema para ele.
O maxilar de Christopher se contraiu, como se estivesse travando uma luta interna.
E então, com um suspiro pesado, ele deu um passo para trás.
— Boa noite, Victoria.
Ela piscou, sentindo-se tonta.
Por um momento, quase esqueceu como respirar.
Mas, quando Christopher se afastou e voltou para sua mesa, ela entendeu algo com clareza absoluta:
Ele a queria.
E isso o aterrorizava.
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Atualizado até capítulo 26
Comments
victoria
acho que justamente o contrário
2025-02-17
1