A Babá da Minha Filha
O relógio da mansão Vasconcellos marcava 6h45 da manhã quando Christopher desceu as escadas com o telefone no ouvido e a expressão séria de sempre. Vestia um terno impecável, como se estivesse pronto para uma reunião importante, mesmo dentro de casa. Sua voz era firme, objetiva, e as poucas palavras que dizia indicavam que estava resolvendo mais um problema nos negócios. A governanta, Dona Marta, observava de longe, já acostumada com a rotina inalterável do patrão. Desde a morte de sua esposa, três anos antes, ele havia se fechado completamente. O trabalho era sua única distração, e a única exceção a essa rigidez era sua filha, Liz, de cinco anos.
— O senhor quer que eu leve o café no escritório? — perguntou Marta, com delicadeza.
Christopher negou com um aceno de mão, sem sequer desviar os olhos da tela do celular.
— Eu tomo depois. Liz já acordou?
— Está acordando.
Ele assentiu, desligou o telefone e soltou um suspiro pesado. Os últimos meses haviam sido difíceis. Liz, que sempre fora uma menina doce e falante, estava cada vez mais fechada. Desde que a última babá saiu, recusava-se a interagir com qualquer uma das substitutas. Nenhuma parecia ser boa o suficiente. Ou ela chorava e pedia para que fossem embora, ou simplesmente as ignorava. Christopher não podia culpá-la. Perder a mãe tão cedo não era algo que uma criança deveria enfrentar. Mas ele também não sabia como ajudá-la.
Foi então que Marta pigarreou e disse com cautela:
— A nova babá chega hoje.
Ele olhou para a governanta com expressão cética.
— Quantas foram nos últimos três meses? Cinco? Seis?
— Sete.
Christopher passou a mão no rosto.
— Espero que essa dure pelo menos uma semana.
Às oito da manhã, um táxi amarelo parou em frente aos imensos portões da propriedade Vasconcellos. De dentro dele, desceu Victoria Duarte, carregando uma mala média e uma mochila. Seu olhar subiu pela grandiosa mansão de arquitetura clássica, com colunas imponentes e janelas enormes, e ela respirou fundo.
— Uau… Isso é mesmo uma casa? Parece um palácio.
Victoria não era do tipo que se intimidava facilmente, mas precisava admitir que aquele lugar era intimidador. Ela havia crescido em um bairro simples e nunca imaginou que um dia trabalharia para um dos homens mais ricos do país. Ajeitou os cabelos castanhos, que estavam presos em um coque meio desajeitado, e caminhou até a entrada, onde a governanta a aguardava.
— Bom dia! Você deve ser a senhora Marta.
— Dona Marta, sim. Você é a senhorita Victoria?
— Sim, mas pode me chamar de Vicky.
Marta sorriu de forma discreta. Gostava de pessoas simpáticas, e essa garota parecia ser uma delas. Mas ainda era cedo para ter certeza.
— O senhor Vasconcellos está no escritório. Vou apresentá-la a ele antes de levá-la até Liz.
Victoria assentiu e seguiu a mulher para dentro da mansão. Assim que passou pela enorme porta de madeira trabalhada, ficou encantada com o luxo do lugar. Os corredores eram revestidos de mármore, os móveis tinham um ar sofisticado e tudo parecia impecavelmente organizado.
Foi levada até uma porta entreaberta, de onde vinha o som de teclas sendo pressionadas. Marta bateu de leve antes de entrar.
— Senhor Vasconcellos, a nova babá chegou.
Christopher levantou os olhos da tela do computador e observou Victoria por alguns segundos. Ela vestia calça jeans, uma blusa simples e um tênis confortável. Nada sofisticado, nada exagerado. Mas o que mais chamou sua atenção foi a expressão dela: havia algo confiante e determinado no jeito que o encarava, como se não se deixasse intimidar pela formalidade do ambiente.
— Senhor Vasconcellos, prazer em conhecê-lo. — Ela estendeu a mão.
Ele hesitou por um segundo antes de apertá-la rapidamente.
— Victoria. Seja bem-vinda.
O tom de sua voz era frio, quase impessoal.
— Obrigada. Espero poder ajudar Liz da melhor forma possível.
Christopher cruzou os braços.
— Isso depende dela. Minha filha não tem aceitado bem as babás. Não espero que seja diferente desta vez.
Victoria arqueou uma sobrancelha.
— Entendo. Mas eu não gosto de desistir fácil.
Houve um instante de silêncio. Marta observava a cena com atenção. O patrão não estava acostumado com esse tipo de resposta direta. A maioria das babás ficava nervosa ou tentava agradá-lo logo de cara, mas Victoria parecia genuinamente focada no que viera fazer.
Por fim, Christopher apenas assentiu e olhou para Marta.
— Leve-a até Liz.
Victoria seguiu Marta até o andar de cima, onde ficavam os quartos. Pararam diante de uma porta cor-de-rosa, que tinha um pequeno desenho de estrela pendurado na maçaneta.
— Liz está lá dentro. — Marta avisou.
— Obrigada. Eu entro sozinha.
Marta ergueu uma sobrancelha, surpresa.
— Tem certeza?
— Sim. Quanto menos interferência, melhor.
A governanta deu de ombros e se afastou. Victoria respirou fundo, bateu levemente na porta e abriu devagar. O quarto era espaçoso e iluminado, cheio de bichinhos de pelúcia e livros infantis. No centro, sentada no tapete, estava Liz, brincando distraidamente com um boneco de pano. A garotinha ergueu os olhos assim que percebeu a presença da desconhecida. Não disse nada. Apenas encarou Victoria com uma expressão desconfiada.
Victoria sorriu e entrou no quarto, sentando-se no chão sem invadir o espaço da menina.
— Oi, Liz. Meu nome é Victoria, mas pode me chamar de Vicky.
Liz não respondeu.
Victoria olhou ao redor e viu uma pequena prateleira cheia de livros.
— Uau, você tem muitos livros! Gosta de histórias?
A menina continuou calada, mas seus olhos se desviaram para os livros por um breve segundo. Victoria percebeu a reação e aproveitou a deixa.
— Sabe, eu sou péssima em adivinhação, mas vou tentar um palpite. Seu livro favorito deve estar por aqui… — Ela se levantou e começou a olhar os títulos. — Deixa eu ver… "A Pequena Sereia"? Não? "O Pequeno Príncipe"? Hum, ainda não…
Victoria continuou citando alguns títulos, fingindo estar muito concentrada. Até que Liz murmurou, quase inaudível:
— "O Jardim Secreto".
Victoria sorriu e pegou o livro.
— Ahá! Eu sabia que esse era especial!
Liz a olhou com um misto de curiosidade e cautela.
— Quer que eu leia um pouco para você?
A menina hesitou, mas, depois de alguns segundos, balançou a cabeça em afirmação. Victoria se sentou ao lado dela, abriu o livro e começou a ler com uma voz suave e envolvente. Aos poucos, Liz foi relaxando, encostando-se no travesseiro e ouvindo atentamente. Do lado de fora, Christopher observava pela fresta da porta entreaberta. Algo dentro dele se agitou ao ver a cena.
Pela primeira vez em meses, Liz parecia confortável ao lado de alguém.
E isso o fazia sentir algo que não sabia explicar.
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Atualizado até capítulo 26
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