Christopher Vasconcellos sempre foi um homem de hábitos rígidos. Desde muito jovem, aprendera que a disciplina e o controle eram a chave para o sucesso. Em sua empresa, cada decisão era tomada com precisão cirúrgica, e na sua vida pessoal, o mesmo princípio se aplicava. Nada era deixado ao acaso. Ele tinha um planejamento para tudo — menos para a imprevisibilidade de sua filha.
Desde a morte de Helena, sua esposa, Liz havia se tornado um enigma. Antes, era uma criança alegre e falante. Agora, era silenciosa e arredia. Ele tentava, de sua maneira, estar presente, mas sentia que sempre falhava.
E então apareceu Victoria.
Aquela mulher de olhar determinado, sorriso fácil e uma paciência que beirava o inexplicável. Em um único dia, conseguira fazer Liz falar mais do que nos últimos três meses. Aquilo deveria ser um alívio para ele, mas ao invés disso, causava-lhe desconforto.
Ele não acreditava em soluções fáceis.
Nem em mudanças rápidas.
Victoria podia até parecer eficiente agora, mas quanto tempo levaria até que ela se cansasse e fosse embora, como todas as outras?
Christopher sabia que não podia permitir que sua filha se apegasse demais.
Mas, ao mesmo tempo, não conseguia ignorar o fato de que, naquela noite, Liz riu no jantar pela primeira vez em muito tempo.
O Jantar em Silêncio
A mansão Vasconcellos sempre foi um lugar silencioso à noite. Quando Helena estava viva, as refeições eram repletas de conversas. Ela tinha o dom de transformar qualquer momento comum em algo especial.
Mas agora, o jantar era apenas mais uma formalidade.
Dessa vez, porém, houve uma pequena diferença. Liz parecia menos retraída do que o normal. Sentada à mesa com o pai e Victoria, olhava discretamente para a babá como se quisesse puxar assunto.
Foi Victoria quem quebrou o gelo.
— Sabe, Liz, eu sou péssima na cozinha. Já tentei fazer um bolo, mas ficou parecendo uma pedra.
A menina olhou para ela com curiosidade.
— De verdade?
— Completamente verdade. Meu talento na cozinha é um desastre.
Liz deu um risinho.
— Uma vez tentei fazer panquecas — Victoria continuou. — Mas grudaram todas na frigideira. Pareciam mais cola do que comida.
A garotinha soltou uma risada baixa. Christopher ergueu os olhos do prato, surpreso.
Fazia tanto tempo que não ouvia a filha rir que quase esquecera como era aquele som.
— Talvez eu possa te ensinar. — Liz disse, baixinho.
Victoria sorriu, animada.
— Eu adoraria! Mas já aviso que sou uma aluna terrível.
Liz riu de novo. Christopher permaneceu calado, observando. Algo dentro dele se revirava com aquela cena. Era bom ver Liz interagindo. Mas, ao mesmo tempo, era perigoso.
Depois do jantar, enquanto Victoria e Liz ajudavam Marta a recolher os pratos, Christopher permaneceu na mesa, perdido em pensamentos.
Se Victoria continuasse desse jeito, sua filha acabaria se apegando a ela.
E, quando ela fosse embora, a queda seria ainda maior.
A Primeira Resistência
Depois de colocar Liz para dormir, Victoria tomou coragem e foi até o escritório de Christopher. Não sabia ao certo o que esperar daquela conversa, mas sentia que precisava deixá-lo ciente de suas intenções.
Bateu levemente na porta e ouviu a voz dele responder:
— Entre.
Ela abriu a porta e encontrou Christopher atrás da enorme mesa de mogno, revisando documentos. A postura era impecável, o olhar firme e focado, como sempre.
— Não quero incomodar, mas achei que seria bom conversarmos um pouco.
Ele pousou a caneta sobre a mesa e a encarou.
— Sobre o quê?
— Liz.
Ele assentiu, indicando que ela continuasse.
— Sei que faz pouco tempo que comecei, mas percebi algumas coisas. Liz tem dificuldades para confiar em novas pessoas, mas quando se sente segura, aos poucos se abre.
— Isso não é novidade para mim.
Victoria não se intimidou pela resposta seca.
— Imagino que não. Mas o que eu quero dizer é que Liz precisa de estabilidade.
Christopher franziu o cenho.
— O que exatamente você quer dizer com isso?
— Quero ficar, senhor Vasconcellos. Quero ter tempo para ajudá-la de verdade.
Ele permaneceu em silêncio por um momento.
— As outras babás também começaram assim. E nenhuma delas ficou.
Victoria sustentou o olhar dele.
— Eu não sou as outras babás.
Christopher sentiu um estranho aperto no peito ao ouvir isso.
Seus olhos se prenderam nos dela por mais tempo do que gostaria. Havia algo na maneira como Victoria o encarava… uma firmeza que ele não via com frequência.
Mas ele já aprendera que confiar demais era um erro.
— Veremos. — Foi tudo o que disse antes de encerrar a conversa.
Victoria não insistiu. Apenas assentiu e saiu da sala.
Christopher ficou ali, sozinho, se perguntando por que, pela primeira vez em muito tempo, sentia que talvez as coisas estivessem prestes a mudar.
Os Sonhos de Liz
Naquela noite, Liz teve um sonho.
Estava em um jardim enorme, cheio de flores coloridas. O sol brilhava suavemente no céu, e o cheiro de jasmim preenchia o ar. Ela correu pelo gramado, sentindo a brisa fresca no rosto. E então viu um balanço pendurado em uma árvore alta.
Foi até ele e sentou-se.
Quando se balançou para trás, ouviu uma risada.
Virou-se e viu sua mãe.
Helena estava ali, linda como sempre, com os cabelos castanhos soltos ao vento.
— Mamãe! — Liz exclamou, correndo para ela.
Helena a segurou em seus braços e a abraçou forte.
— Estou tão orgulhosa de você, meu amor.
— Você vai ficar aqui comigo?
Helena sorriu, mas havia algo triste em seus olhos.
— Sempre estarei com você, Liz. Mesmo que você não me veja.
A menina segurou a mão da mãe com força.
— Não vá embora.
— Eu nunca vou embora — Helena sussurrou.
E então, pouco a pouco, começou a desaparecer.
Liz acordou com os olhos marejados, sentindo um vazio no peito.
Abraçou seu urso de pelúcia e fechou os olhos de novo, tentando segurar a lembrança daquele sonho.
E, pela primeira vez em muito tempo, desejou que alguém estivesse ali para segurá-la.
Uma Decisão Silenciosa
Enquanto isso, em seu quarto, Christopher permanecia acordado.
Olhou para o teto escuro, ouvindo o leve farfalhar das árvores do lado de fora.
Pensava em Liz.
Pensava em Helena.
E, contra sua vontade, pensava em Victoria.
Havia algo nela que o intrigava. Algo que o desafiava.
Ele sempre foi um homem de muros altos, de barreiras bem construídas.
Mas Victoria parecia determinada a derrubá-las.
E isso o assustava mais do que estava disposto a admitir.
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Atualizado até capítulo 26
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victoria
grosso
2025-02-17
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