Eu não suportava Dom. Ele era o reflexo do que todos queriam que eu fosse. Perfeito. Impecável. Mas, principalmente, ele era a personificação do mundo perfeito que eu rejeitava de todas as formas. Cada vez que ele aparecia, com aquele ar de superioridade, meu estômago revirava. O jeito como falava, como me olhava, como se fosse o centro de tudo, como se eu fosse nada além de uma sombra, me fazia sentir um nó na garganta.
Eu me lembrava daquela vez, quando ele entrou na sala de aula com aquele sorriso arrogante, quase como se tivesse acabado de conquistar o mundo. Ele olhou para mim e disse com aquele tom irritante, "minha perfeitinha preferida " Foi como se ele já soubesse a resposta, como se já me tivesse encaixado na caixinha em que todos queriam me colocar, incluindo minha mãe. E eu, naquela hora, só queria sumir dali. Queria desaparecer daquela sala, longe dele, longe das expectativas que todos depositavam sobre mim.
"Você não é o que espero de você, Joyce."A voz da minha mãe soava na minha mente enquanto eu lutava para não gritar. Ela sempre queria que eu fosse o que ela achava ser o ideal. Eu nunca fui o ideal para ela. Nunca fui a garota perfeita, nem a filha que ela sonhava. Eu não queria ser perfeita. Eu queria ser livre. Eu queria ser eu mesma, sem os padrões da sociedade e sem a pressão da minha mãe para me transformar em alguém que eu não era.
Então, eu me revoltei. Me escondi no meu próprio corpo e nas minhas escolhas. Minha rebeldia estava na forma como eu me vestia. Em vez de me encaixar no molde que ela queria, eu usava roupas largas, pesadas, os tecidos pesados que caíam sobre mim e me faziam sentir segura. Era como se, ao vestir aquelas roupas, eu estivesse me protegendo de todo o mundo, de todas as expectativas, principalmente das expectativas dela. Roupas que diziam “não” à sociedade e ao que ela achava ser correto. Eu não precisava ser uma dama, eu não precisava ser feminina ou frágil. Eu era forte, eu era dona de mim mesma, mesmo que ninguém visse isso.
O meu cabelo, sempre solto e bagunçado, era outro ato de rebeldia contra ela. Minha mãe sempre me dizia que eu deveria cuidar mais de mim, que eu deveria me arrumar, me tornar o ideal. Mas eu não queria. Meu cabelo, do jeito que estava, era a prova de que eu estava longe do que ela queria. Quando ela me dizia para prender os cabelos e usá-los de uma forma mais "digna", eu fazia questão de deixá-los soltos, como uma forma de mostrar a ela que eu não me importava. Eu não queria ser o que ela imaginava. Eu não queria ser ninguém além de mim mesma.
E Dom, esse perfeito Dom, estava sempre por perto, com seu ar de superioridade. Às vezes, me parecia que ele era o “filho ideal”, aquele que ela sempre sonhou, enquanto eu era só a filha que ela não entendia. Toda vez que ele aparecia, era como um lembrete de tudo o que eu rejeitava. Ele seguia as regras, fazia o que todos esperavam dele, e ainda assim, se achava no direito de olhar para mim como se fosse melhor. Ele se achava melhor.
Eu me afastava dele cada vez mais. E quanto mais ele se aproximava, mais eu me afastava, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. Eu me refugiava nos meus livros, na música que me falava de um mundo diferente, um mundo em que eu podia ser quem eu quisesse, sem ter que me ajustar a nada. Às vezes, eu me permitia conversar com algumas pessoas fora do círculo social da nossa família, mas até isso era raro. Eu não queria me perder em mais expectativas.
E Dom... o que ele representava para mim? Uma figura distante e irritante, alguém que se encaixava perfeitamente nesse padrão que eu mais odiava. E ele não me entendia. Ele nunca me entendeu. E, pior, nunca tentou. Para ele, eu era só a garota rebelde, a filha problemática. Mas ele não sabia que, no fundo, tudo o que eu queria era ser livre desse mundo perfeito em que ele vivia, um mundo do qual eu queria desesperadamente fugir.
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Atualizado até capítulo 53
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