O Collège Saint-Laurent era um lugar onde poder e dinheiro ditavam as regras. O prédio de arquitetura clássica, os corredores amplos de mármore e os vitrais coloridos eram um lembrete constante de quem estudava ali: a elite de Paris. O lugar transbordava arrogância, e eu me encaixava perfeitamente nesse mundo.
Era impossível andar pelos corredores sem sentir os olhares sobre mim. Algumas pessoas me admiravam, outras me temiam. Eu sabia o que representava. Meu sobrenome carregava influência, minha postura impunha respeito. Mas nada nesse maldito colégio me irritava mais do que ela .
Joyce Lancaster.
A menina que questão fazia de ser a exceção. Que caminhava de cabeça erguida como se não fosse esse o mínimo para as regras ou expectativas. Que me olhou como se me odiasse, e talvez odiasse mesmo.
Ela nunca tentou se encaixar. Seu uniforme sempre desalinhado, os cabelos bagunçados, os tênis gastos em vez dos sapatos sociais que nossa escola oferece. Uma afronta silenciosa à nossa realidade. E ainda assim, ficamos presos nesse teatro ridículo.
Nossos pais decidiram que seríamos um casal perfeito. Prometidos um ao outro antes mesmo de termos idade para entender o que isso foi feito. Para todos, éramos um conto de fadas moderno. Para nós, era um pesadelo.
Caminhei pelo corredor, ignorando os cochichos e olhares curiosos. Eu já sabia o que vinham depois.
— Casal perfeito, hein? — alguém murmurou.
Você pode sentir ou revirar os olhos dela sem precisar olhar. Isso me diverte. Mais do que deveria.
Sem pensar duas vezes, joguei um braço ao redor dos ombros dela, apertando com firmeza. Uma demonstração pública de afeto. Falsa, claro. Mas necessário.
— Sempre fomos, não é, ma chérie? — minha voz saiu baixa, carregada de provocação.
Ela ficou debaixo do meu toque. Eu adorava ver o quanto isso incomodava.
— Tire a mão de mim, Dom.
O tom dela era puro veneno. Eu sinto muito, porque era exatamente o que eu queria.
Inclinei a cabeça para perto do ouvido dela e sussurrei:
- Relaxa, Lancaster. É só um teatro, lembra?
Ela suspirou, claramente irritada, e se afastou bruscamente, tocando o cabelo para trás. Uma atuação digna de aplausos.
Os corredores estavam cheios de olhares atentos. Joyce e eu éramos um espetáculo para eles. O casal perfeito, sempre na mira da curiosidade alheia.
Ela tentou se afastar, mas eu não deixaria barato.
— Ainda me devo uma dança no evento de gala. — soltei a provocação casualmente, alto o suficiente para que os outros ouvissem.
Ela parou no meio do corredor. Vi seus dedos apertarem as alças da mochila com força.
Ela odiava aquilo tanto quanto eu.
Mas eu jogava para ganhar.
— Não devo nada, Lancaster? – insisti.
As garotas suspiravam, os caras riam, achando que Joyce só fazia charme para mim.
Ela respirava fundo, forçando um sorriso.
— Claro que sim, meu amor. Vai ser uma noite inesquecível.
A doçura forçada da voz dela me fez sorrir. Ela sabia jogar tão bem quanto eu.
Pisquei para ela antes de seguir meu caminho.
Se fosse um jogo, eu faria questão de sair vitorioso.
Mas, por um instante, algo me incomodou.
Ver Joyce fingindo gostar de mim, mesmo que fosse só para manter a farsa, despertava um pensamento irritante.
E se fosse real?
E se, em outra vida, ela realmente gostasse de mim?
O pensamento durou apenas um segundo antes de eu o esmagar. Isso não era a realidade.
A realidade era que eu precisava continuar a irritá-la. Mantê-la afastada. Se eu deixar transparecer o que senti de verdade, tudo desmoronaria.
E eu não poderia permitir que isso acontecesse.
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Atualizado até capítulo 53
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