A história da minha família sempre foi escrita a uma única caneta: a de meu pai. Charles Montgomery. Ele era a imagem da perfeição. Ou melhor, ele queria ser. Os negócios, o nome, a riqueza... tudo vinha primeiro. Eu, sendo filho único, era o reflexo direto de tudo o que ele desejava: uma continuação de seu legado, uma promessa de que seu nome continuaria vivo e forte. Mas o peso disso era esmagador. Sempre fui visto como uma extensão dele. Eu não era mais do que uma peça no tabuleiro.
E, nesse tabuleiro, havia Joyce Davenport. Não éramos mais do que crianças quando nossos destinos foram entrelaçados. Filhos únicos de famílias poderosas, as expectativas sobre nós eram gigantescas. O casamento entre nossas famílias não era apenas uma formalidade; era uma estratégia, uma maneira de unir forças.
Eu me lembro de Joyce, de quando éramos apenas meninos. Ela sempre teve uma maneira única de olhar o mundo, uma forma de se afastar da levemente do que dominava a sociedade ao nosso redor. Ela nunca se encaixava no molde que todos queriam. Isso a tornava mais interessante, mais real. Algo dentro de mim sempre soube que ela era minha. Mas nunca foi o suficiente para meu pai. Para ele, Joyce não passava de mais uma estratégia. Uma forma de fortalecer o nome da família.
E assim, os anos passaram, e eu continuei vivendo sob o peso de um legado que não escolhi, mas que estava condenado a carregar. As expectativas se tornaram mais pesadas. Meu coração ficou mais distante, minha alma mais cheia de rancor. Não importava o que eu sentisse. O que importava era o que meu pai queria. Ele queria que eu fosse perfeito.
Mas o que ninguém sabia, o que meu pai nunca soubera, era que, à medida que eu crescia, algo dentro de mim começava a se transformar. Algo sobre Joyce começou a mexer comigo de uma maneira que eu não podia ignorar.
E então, naquele dia, quando entrei no escritório de meu pai após um longo dia, a pressão do mundo pareceu dobrar sobre os meus ombros. O silêncio entre nós era pesado, e tudo o que eu queria era conseguir falar algo que realmente importasse. Mas nada do que eu dissesse mudaria a opinião dele.
— O que foi agora, Dom? — Charles perguntou, a voz cortante como sempre. Ele não precisava perguntar. Ele já sabia que eu falhara em algo. Sempre falhava.
A tensão no ar era densa. Eu queria lutar, queria desafiar, mas tudo o que saía era um murmúrio.
— Eu só queria fazer as coisas certas — tentei, mas a dor na minha garganta era forte demais para minhas palavras chegarem com clareza. Eu sabia que não havia "coisas certas" para ele. Para ele, o que importava era que eu seguisse o caminho que ele havia traçado para mim.
Ele me olhou com um olhar frio e distante, como se eu fosse nada mais do que uma distração. Seu olhar me atravessou, fazendo meu peito apertar.
— Você quer ser um homem, Dom? Então pare de ser um garoto. Pare de me fazer perder tempo.
Aquelas palavras foram um golpe direto. Eu sabia que não era o suficiente para ele. Eu sabia que, por mais que tentasse, nunca seria o filho que ele queria. Nunca seria o homem que ele sonhava que eu fosse.
Enquanto ele falava sobre o futuro, sobre o que ele pensava ser o melhor para mim, a raiva começou a crescer dentro de mim. Raiva de ser quem eu era, raiva de ser quem ele queria que eu fosse.
E, então, no meio daquele confronto, enquanto meu pai continuava a me moldar à sua vontade, pensei em Joyce. Ela não sabia o quanto eu precisava dela. Ou talvez soubesse, mas sabia que, assim como eu, era aprisionada por todas as expectativas ao nosso redor. Mas eu não sabia mais o que fazer com os sentimentos que sentia por ela. Sentimentos que eram mais fortes do que qualquer coisa que meu pai pudesse me impor.
E, enquanto a pressão do mundo pesava sobre mim, eu me perguntei: quem eu era, realmente? Eu, que sempre fui visto como apenas a extensão do meu pai, o homem que nunca escolheu seu próprio caminho.
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Atualizado até capítulo 53
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