Capítulo 17

Capítulo 17

Heitor

Duas semanas depois

Completamente sem rumo e desnorteado, vago pela casa quando sou obrigado a voltar para minha gélida residência. Sem a Malu e nosso filho aqui, tudo não passa de um montante de escombros onde minha alma parece estar trancafiada. Não consigo comer, dormir ou trabalhar. Faz dias que não apareço na delegacia, pois sempre que vou, lembro que foi por minha obsessão que  tudo desmoronou. Agora que estou sozinho, consigo enxergar o quão idiota eu fui, em quantas vezes ela respirou fundo depois de uma discussão. Quantas vezes ela recuou, quantas vezes ela aceitou o meu “vai ser só essa vez”. Agora consigo enxergar o quanto ela estava infeliz e eu não percebi, não percebi o quanto ela estava exausta e isso faz meu coração gelar enquanto olho pela janela do nosso antigo quarto com o pensamento distante.

Lembrança:

Malu – Amor, lembra do dia que nos perdemos no parque?

Ela fala enquanto acaricia sua barriga e tem  sua cabeça recostada em meu ombro olhando pro imenso jardim de nossa casa.

Heitor – Sim, aquele dia foi tenebroso pra mim.

Ela sorri lembrando do dia

Malu – Passamos horas procurando um ao outro e quando finalmente te encontrei meu coração bateu tão forte, naquele momento eu sabia que passaríamos o resto da vida juntos

Heitor – Quando olhei nos seus olhos, jurei pra mim, mesmo que não te perderia novamente.

Malu – Promete?

Ela olha pra mim, com animação nos olhos

Heitor – O quê?

Malu – Que nunca vamos nos perder um do outro novamente!

Heitor – Te prometo que nunca vamos nos perder um do outro. Estamos em um barco e remaremos juntos para a eternidade.

Lembrança

Meu peito aperta e deixo as lágrimas rolarem enquanto escuto de longe meu telefone tocar.  Não consigo me mexer, não consigo focar meus pensamentos, não consigo sair do lugar.  Eu fiz uma promessa que não me esforcei pra cumprir e por isso a deixei sozinha.

O telefone para por alguns instantes e depois volta a tocar me obrigando a ir ver quem era. Malu já tinha me ligado cinco vezes e isso me deixou apavorado.

Ligação on

Heitor – Amor? O que aconteceu?

Malu – Por que não atendeu?

Sua voz fria é como uma faca afiada em meu peito.

Heitor – Estava distraído!

Malu – Distraído? Está na delegacia?

Heitor – Não, estou em casa pensando em você.

Posso ouvir sua respiração pesada e ao fundo, meu filho choramingar.

Malu – Ok, não foi pra isso que liguei. Nicolas está choramingando e acredito que ele esteja sentindo sua falta. Normalmente ele se acalma quando você está por perto, pode vir pra cá?

Heitor – Sim, agora mesmo!

Malu – Ok.

Heitor – Malu eu...

Ligação off

Ela não me deixa terminar e sei que existem milhões de pensamentos errôneos em sua mente agora. Troco minha roupa rapidamente, pego as chaves do carro e sigo pra onde os amores da minha vida estão, pro único lugar onde consigo respirar ultimamente.  Assim que cheguei, vejo Malu tentar dar de mamar pro nosso filho, que mamava um pouco e depois voltava a resmungar.

Heitor – Oi!

Seu olhar cansado me alcança e logo é fechado parecendo estar aliviada.

Malu – Veja se consegue acalmar ele um pouco, estou a horas tentando e nada.

Me aproximo rapidamente dela e pego Nicolas no colo.

Heitor – Oi, amor do papai. O que aconteceu, amigão?

Deslizo meus dedos em seu rosto enquanto ando pelo quarto na tentativa de fazer ele se acalmar

Heitor – Papai está aqui, não precisa se preocupar. Vamos deixar a mamãe descansar, agora?

Malu – Ele precisa mamar.

Heitor – Não quer descansar um pouco? Ele está muito agitado e não vai conseguir mamar assim

Malu – Vou tomar um banho e depois tento de novo, faz horas que ele mamou pela última vez.

Concordo e ela foi pro banheiro parecendo estar exausta enquanto eu permaneço olhando pra ela sem conseguir raciocinar direito

Heitor – A mamãe está muito cansada, filho. Quando ela voltar, tenta mamar um pouco pra ela conseguir dormir um pouco, combinado?

Ele se aninha ao meu peito parecendo estar mais calmo arrancando um sorriso dos meus lábios. Aproveitei o breve cochilo dele para arrumar a cama da Malu e trocar os lençóis para que ela possa dormir melhor.

Malu – Ele dormiu?

Ela pergunta saindo do banheiro inundando o quarto com seu perfume maravilhoso.

Heitor – Ah, sim... Ele também estava bem cansado rs.

Malu – Será  que ele mama agora? Pensei até em levá-lo ao hospital, porém, minha mãe disse que não havia necessidade, clinicamente ele está bem.

Heitor – Vocês dois estão exaustos, vem deitar!

Malu – Pode me dar ele? Vou tentar o colocar no peito novamente.

Confirmo e vou pegar o Nicolas com cuidado

Malu – Faz horas que ele não dorme assim, estava mesmo sentindo sua falta.

Ela sorri enquanto pega ele no colo e me sento ao seu lado

Heitor – E eu estava sentindo a de vocês.

Ela respira fundo olhando para mim, e volta sua atenção para o Nicolas.

Malu – Sua mãe me disse que faz dias que não aparece na delegacia.

Heitor – Sim, não consigo!

Malu – Aquele lugar é sua paixão, Heitor.

Heitor – Não, é só um sonho que me destruiu. Por anos ele ocupou um lugar que era e é só seu e agora eu não consigo estar lá sem pensar nisso, então eu não consigo ir.

Um silêncio desconfortável recai sobre nós evidenciando o quanto isso era verdade, uma verdade que doía.

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