“Su”
Falei para ele:
— Coma e beba água, precisará de energia.
Obedeci-a, mas meu cérebro está ficando anuviado de novo, acabei de comer e acho que desmaiei.
Acordei porque ela está andando de um lado para o outro, falando com alguém.
“E agora, Natan, ele não acorda, o que faço, você não está me ajudando, logo vai anoitecer. E se não conseguirmos chegar em casa, não adiantou nada o ter descido do paredão. Fala a verdade, você ficou orgulhoso de mim, consegui descer o paredão com perfeição”.
Falei para ela perceber que acordei:
— Estou acordado, sinto a boca seca e muito frio.
Ela vem correndo, põe a mão na minha testa, está preocupada.
— Você está com febre e precisamos ir agora, lá na casa tenho antibiótico para te aplicar.
— Injeção de novo?
— Um homem desse tamanho com medo de uma agulhinha.
— Você sabe quantas pessoas morrem todo ano porque aplicam medicação injetável errada?
— Não tenho ideia, Elliot, mas o antibiótico faz efeito bem mais rápido se aplicado via injetável e você vai ter que tomar.
— Prefiro arriscar, não quero injeção.
— Não fiquei uma hora te descendo do paredão para te deixar morrer de infecção, porque você é teimoso, mas acho melhor discutirmos isso quando chegarmos em casa.
— Eu não sou teimoso, só não gosto de injeção.
Me levantei, quase fui ao chão de novo, ela me abraçou e me segurou. Me fez sentar outra vez.
Ela fala:
— Calma, deixa eu pegar minhas coisas e já vamos.
Ela pegou o essencial e o resto, amarrou em um pacote e escondeu em uma moita.
— Você vai deixar suas coisas aqui?
— Sim, outro dia venho buscar, hoje preciso te levar em casa e te medicar, meu equipamento só seria um peso extra.
Pegou a mochila, me ajudou a levantar, me abraçou e começamos a caminhar.
— Elliot não perde o foco, olha para frente e segue andando, proponho conversarmos.
— Sobre o que você quer falar? Como você sabe meu nome?
— Nos conhecemos em Mirassol, no supermercado. Você não se lembra?
— Não! Parece que estou com algum tipo de amnésia, como posso ter esquecido de você?
“Su”
Não sei por quê, mas me senti mal porque ele me esqueceu, mas não vou deixá-lo perceber, não é como se fossemos amigos.
— Não se esforce tanto para lembrar, não foi tão importante, só compramos maçãs na mesma banca.
— Entendi, maçãs? Eu nem gosto de maçãs.
Achei melhor mudar o assunto.
— Como você se tornou um morcego?
— Como? Não entendi.
— Você passou a noite toda de ponta cabeça.
— Ah, entendi, eu havia chegado no topo do paredão e dei de cara com uma tromba d'água que me jogou.
Tentei sair, mas meu braço quebrou na hora que bati no paredão. Estava todo molhado, muita chuva, minha mão adormeceu e, de algum jeito, soltei a corda e virei. Quando me dei conta e tentei voltar, já não consegui, o braço doía muito e a testa também.
Acho que bati a cabeça também porque sinto doer, aí fiquei ali esperando a morte e rezando por um milagre, e você é meu milagre, meu anjo.
“Su”
Com muito custo, parando várias vezes para Elliot recuperar as forças, chegamos onde o carro dele está.
Tentei ficar falando com ele porque sei que o efeito do remédio que apliquei já está passando o efeito e assim que acabar ele vai desmaiar.
— Estamos quase chegando, aguenta mais um pouco, Elliot.
Me forcei a ficar de pé e chegamos à cabana. Ela me colocou sentado e tirou minhas botas, me levou para dentro.
Eu não consigo ficar acordado e não vejo mais nada.
“Su”
“Consegui Natan, chegamos em casa, ele desmaiou, mas agora estamos protegidos. Sei que tenho que tirar as roupas dele e aplicar a medicação, será que da para você me deixar respirar? Carreguei um homem de 100 quilos por quilômetros?”
Vamos lá, abri a camisa e tirei, e agora levei a mão para abrir o zíper da calça, vou ter um treco, consegui tirar a calça.
“Não adianta me perguntar porque estou com o coração acelerado, você não pode me ajudar, então fica bem quieto na sua”
Peguei um colchonete e virei Elliot de lado, enfiei embaixo e deitei, joguei um cobertor em cima dele e fui ver o antibiótico e antitérmico, coloquei a dose em uma ampola e apliquei no braço.
Fiquei esperando até a febre começar a abaixar, falei para Nathan:
“Nathan, cuida dele, que vou tomar um banho, já volto, e não faz bobagens, ele não tem culpa de você ser ciumento.”
— Ouço ela falando com alguém, abri meus olhos e não tem ninguém, dormi de novo.
Venho do banheiro e ele está do mesmo jeito, coloquei a mão na testa dele e está sem febre.
“Muito bem, Nathan, ele está sem febre, vamos preparar uma sopa para nossa refeição, nada de sanduíche e nem sopa de fubá, vamos fazer uma canja.”
Escuto ela falando e tenho sede:
— Por favor, quero água.
— Espera, já te trago Elliot.
Vim com o copo de água, ele tenta se sentar, mas não consegue, ajoelhei ao lado dele e o segurei sentado, dei o copo na mão e ajudei a beber.
Elliot reclama:
— Nossa, sou um bosta mesmo, não consigo nem beber água sozinho.
— Amanhã você estará melhor, tenha calma.
— Como você se chama?
— Suellen, mas pode me chamar de Su.
— Su, onde estamos?
— Em um chalé de um amigo meu.
— Que bom aqui, não vamos molhar.
Fiquei olhando Elliot, tão frágil e preocupado se vamos molhar.
Deitei-o de novo e dormiu. Em seguida, voltei para a cozinha para fazer nossa canja. Enquanto a sopa esfriava, peguei a chave do carro dele e fui até lá ver se tinha roupas secas. Voltei com a mochila e levei ao quarto, ele continua dormindo.
A sopa está pronta há algum tempo, mas ele continua dormindo, preciso dar outra injeção, preparei e venho, será tranquilo, ele nem acordará. Quando levei a mão para segurar o braço, ele me segura e eu perco o equilíbrio e caio bem em cima dele.
Elliot me olha e pergunta:
— O que você fará com esta seringa?
— Vou te aplicar o remédio, me solta.
— Não gosto de agulha, não tem outro jeito?
— Achei que você não ia acordar, mas já vi que melhorou, vou aplicar mais essa dose, a outra te dou de comprimido.
— Aplica na minha coxa que tem mais carne, meu braço é muito magro.
— Acho melhor no braço e não reclama, eu estou fazendo o melhor que posso.
Ela ficou ríspida como se eu tivesse falado algo que a incomodou, resolvi perguntar com quem ela conversava, porque se for um namorado, deve ter ciúmes dela porque não veio ele aplicar a medicação em mim?
— Com quem você estava conversando agora há pouco?
Vejo ela ficar vermelha e constrangida e pensar no que dizer.
E fala:
— Você está delirando, não falei com ninguém.
— Achei que era no celular.
— Já falei para você que não era ninguém, devido à chuva estamos sem comunicação.
— Então, quem é Nathan?
“Su”
Menti descaradamente, mas como falarei para ele que falo com a foto do meu marido morto?
— Não conheço ninguém com este nome, você ouviu errado.
— Ela não quer me contar, por que será? Vou deixá-la pensando que acreditei.
— Tá bom, e este cheiro? Estou morrendo de fome.
— Fiz uma canja e estava esperando você acordar. Se você não gostar, tem pão.
— Adoro canja, vamos comer porque o cheiro está me matando.
— Acho melhor você tomar um banho, eu só tirei suas roupas molhadas.
Ela ficou vermelha, ergui a coberta e estou só de cueca. Ela tirou minha roupa, que pena que eu estava dormindo.
— Não fique bravo, comigo achei a chave do seu carro no bolso da sua calça. Fui no seu carro e peguei sua mochila com suas roupas limpas, está lá no quarto.
— Como eu poderia ficar bravo com você? Depois de tudo o que andamos, você ainda voltou lá no carro buscar minhas roupas. Vou tomar um banho, então.
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Atualizado até capítulo 31
Comments
AndressaAutora
misericórdia, só piora as coisas, ela precisa de tratamento seriamente, não dá pra superar esse transtorno que ela tem sozinha, nem um militar com trauma de guerra conseguiria sozinho.
2025-03-14
1
Maria Elineuza
autora é uma bela história, agora tá bom dela para de fala com a foto do marido se não ela nunca mais volta pra corporação porque vão achar que ele não se recuperou .
2025-01-29
6
Lilian Santos Ribeiro
tá chato isso dela ficar falando com a foto do marido morto,entendo que ela ficou traumatizada,mas isso já é de mais,beira a loucura
2025-03-30
2