Descendo Elliott do paredão

“Elliot”

Estou vindo pela trilha e percebi que alguém passou primeiro que eu, tem mais alguém aqui, será que me viu no rio?

 Nãaaaao, se for alguém fazendo trilha, não chegou ao rio.

Quando chego na campina, vejo uma toalha vermelha e tem uma pessoa deitada nela, será que está ferida? Cheguei mais perto para dar uma olhada, nossa, é ela… Cheguei mais perto e dorme feito um anjo, então era esta a viagem que você estava planejando?

Ela está linda, deitada de lado com os cabelos esparramados, aquela toalha vermelha destacando as flores-do-campo por todos os lados, tão relaxada, olho de lado e lá está a foto do namorado. Por que será que ela leva a foto dele para todo lado? Fiz um gesto de estar de olho para a foto e segui meu caminho, senão vou acabar tocando nos cabelos dela.

 E mais uma vez fui embora sem conseguir falar com você.

“Su”

Acordei assustada, com uma gota de chuva caindo no meu rosto, o tempo fechou e vem chegando um temporal. Corri de volta para casa, sei que vou chegar molhada, mas não sei como as chuvas são aqui e é melhor estar num lugar protegido.

Passei pelo carro, ele continua aqui! Cheguei na casa ensopada, tirei a roupa, tomei um banho, coloquei uma roupa seca e a chuva que Deus manda. 

“Será que ele conseguiu se proteger? Em Nathan, o que você acha? Ele tem cara de saber se virar em uma tempestade? Espero que conheça bem a região, senão pode se perder ou cair em algum barranco”.

Fiz uma sopa de fubá com legumes, comi para me aquecer.

Choveu o resto do dia e a noite toda, olhei para fora da cabana e tem uma enxurrada passando beirando a porta, parece um rio. Espero que Elliot esteja bem. Olho para a foto de Nathan.

“Não é nada do que você está pensando, só estou preocupada, como você ficaria se estivesse aqui?”

“Su”

Amanheceu e a chuva parou, resolvi ir ver se o carro continua no mesmo lugar.

Quando cheguei, o carro tem lama até a metade, sinal de que a água subiu até aquela altura, e nem sinal do dono. Voltei para casa e tentei avisar as autoridades que pode ter alguém ferido na região, mas estou sem sinal.

Conversei com Nathan.

“Nathan, vamos ter que ir atrás do cara, peguei o equipamento e o kit de primeiros socorros, tomara que não tenha acontecido nada grave com ele, para de ser ciumento, eu só estou preocupada porque nós sabemos bem como é perigoso ser pego desprevenido por uma tempestade”

Fiz mais uns sanduíches e coloquei a garrafa de água, a de café na mochila, olhei para a foto do Nathan:

“Eu sei que te prometi uma refeição decente, mas vai ter que esperar, a sopa de fubá vale como refeição para você?”

Peguei a trilha e fui seguindo, fui observando se vejo algum sinal dele ter passado, mas nada, já é quase hora do almoço e nem sinal de Elliot, será que ele foi arrastado pela correnteza?

 Cheguei na beira do paredão, vi um objeto no chão, cheguei perto, é um celular, tem que ter caído depois da chuva, senão havia sido arrastado pelas águas, tentei abrir, mas não abre, deve ter quebrado na queda.

 Se foi isso, caiu lá de cima, peguei meu binóculo e fui me afastando olhando o paredão, e lá está ele, uns 50 metros do chão, amarrado na corda do rapel, de ponta cabeça, parece desmaiado.

Gritei o nome dele, mas não se mexeu, gritei de novo, mas nenhum movimento, será que morreu? 

Falei com Nathan:

“Nossa, Nathan, nunca escalei sem você, mas não posso largar ele lá daquele jeito, me deseja sorte, fizemos vários treinamentos de resgate, mas sempre foi você quem desceu comigo, sempre me disse que era difícil e que eu iria aprender com o tempo, agora vou testar o que aprendi, e vamos ver no que dá, se não der certo vou te encontrar mais rápido do que imaginei”

Dei um beijo na foto, coloquei-a apoiada como se ele estivesse me observando e me preparei para começar a escalar o paredão.

Fui subindo, colocando meus pinos e testando os dele, porque precisarei de apoio para descer com ele de lá.

Cheguei até ele, me posicionei um pouco mais para baixo, toquei no rosto e está frio, subi a mão no pescoço procurando o pulso, ele se mexeu e gemeu.

 — Está vivo, agora é ver como te desço.

Chamei de novo, preciso avaliar qual o estado de saúde dele.

 — Elliot, me escuta?

“Elliot”

Estou escutando alguém falar, mas não consigo me mexer, abri os olhos e tem dois olhos a centímetros dos meus, mas está diferente. Aí eu me lembro da tromba d'água me jogando no paredão. Acho que estou de ponta cabeça, não consigo falar, a garganta está seca.

Elliot desmaiou.

— Calma, vou te tirar, não sei como você é muito grande, não sei se aguento seu peso, mas vou por partes, primeiro preciso ver se não tem quebraduras.

— Vou apalpar seu corpo, nossa! Que músculos, você tem o corpo todo definido, deve mesmo gostar de esportes radicais. O único lugar que parece quebrado é seu braço direito. Por isso, você não desceu, deve ser seu braço de apoio.

Peguei uma tala nos primeiros socorros, imobilizei o braço quebrado, amarrei o outro braço perto do corpo e virei ele, quase como o ponteiro de um relógio, segurei em pé e amarrei a corda no peito dele para não voltar a ficar de cabeça para baixo.

— Vamos, Elliot, precisa acordar!

 Bati no rosto dele de leve, para ver se volta a si.

“Elliot”

Sinto uma mão batendo no meu rosto, está difícil abrir os olhos, mas tento, agora estou de frente com ela, me fala alguma coisa, não consigo me concentrar, me sinto preso, tento me soltar, ela me segura no lugar e me acalma.

Parei de me debater não por entender o que falou, mas porque sua voz de anjo me fez parar.

 — Para quieto, senão ambos cairemos, bebe água. Vou te dar uma injeção que fará você acordar. Vou te descer, mas preciso que você fique acordado e me ajude.

Falei para ela:

 — Tenho medo de injeção.

 — Não tem outro jeito.

Nossa, acho que agora morrerei, que injeção doida, sinto meu coração acelerando e minha mente clareando.

Escuto ela me mandando beber água, não parece água, mas eu bebo. Ela soca a garrafa na minha boca e vai virando.

Falei:

— Diferente.

 — Sim, tem um remédio no meio para te manter acordado, logo fará efeito.

Acabei de acordar, agora consigo ver exatamente onde estou, e não é nada bom.

 — O que você me deu?

 — É um remédio que ativa a adrenalina, conversaremos lá embaixo, combinado? Já imobilizei seu braço direito, vou prender você no meu equipamento e vamos descer. Tenta se equilibrar e não balançar muito porque só tenho o freio oito aqui, e vai ter que dar certo, me entendeu?

 — Sim, mas você vai ter que aguentar o meu peso e o seu todo na sua mão de apoio? Me diz que você já fez isso alguma vez!

 Só fiz em treinamento, e Natan sempre estava comigo e quem descia pendurada era eu, mas não posso falar isso para Elliot.

— Fique tranquilo, já fiz isso várias vezes.

— Agora fiquei mais tranquilo.

Prendi o equipamento dele no meu, preparei o freio oito com as voltas dobradas para dar mais atrito e me ajudar com a força, soltei Elliot da parede e vamos ver se tenho força o suficiente para nos levar em segurança até o chão.

Falei:

 — Começaremos a descer, você está pronto?

 — Não, mas vamos assim mesmo, eu não tenho muita escolha, tenho?

 — Falo, e você obedece, combinado? Não podemos cometer nenhum erro senão vamos ver os anjos ainda hoje.

 — Combinado, darei o meu melhor. 

— Vou soltar seu braço, aí vamos começar a descer.

Soltei o braço esquerdo dele e começamos. Falei para ele:

 — Enrola a mão na corda, vou soltar a trava. Você vai ficar como em um balanço pendurado em mim.

— Você tem certeza disso?

— Só faça o que mando e se mantenha acordado, porque se você desmaiar, seu corpo desgoverna e fica mais difícil para mim. Vou parar de falar para poupar energia, quando chegarmos no chão conversamos.

Uma hora depois, chegamos ao chão. Me desamarrei dele e ajudei a sentar, comecei a esfregar meus braços, minha mão parece que nunca mais vai voltar ao normal, mas estamos no chão.

 — Su, você me salvou a vida.

 — Ainda não, estamos a um quilômetro de casa, descansaremos e comeremos, depois começaremos a segunda etapa.

 — Mesmo assim, obrigado.

 — Sou bombeira, acha mesmo que ia te deixar lá?

Ele me olha e sorri, mas sei que não está bem, logo virá a febre e preciso chegar em casa antes que ele desmaie. Se voltar a chover, ele vai morrer de hipotermia e, se não conseguirmos chegar na casa, ele morre da febre da infecção do braço quebrado.

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Comments

AndressaAutora

AndressaAutora

Eu não sei, acho que se ele estivesse aí poderia se questionar o porquê de você está preocupada com alguém que nem conhece direito, só acho kkk

2025-03-14

1

AndressaAutora

AndressaAutora

É, mas está afastada das atividades né, mas em um lugar como esse não tem muito o que fazer além de se arriscar mesmo.

2025-03-14

1

AndressaAutora

AndressaAutora

Não é melhor ir atrás do cara logo? kkk tu tá atraída por ele né, só não que admitir isso ainda.

2025-03-14

1

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