Dias haviam se passado desde que comecei a usar meu poder para explorar as ruínas. Cada passo era meticulosamente calculado, cada esquina uma possível armadilha. Eu sabia que estava ficando mais forte, mais eficiente. Os Karrash que antes me aterrorizavam agora caíam diante de mim como folhas ao vento.
Mas o mundo não havia desistido de me surpreender.
Enquanto explorava uma área que parecia ter sido um bairro residencial, ouvi um som estranho. Não era o rugido gutural de um Karrash, nem o silêncio melancólico que reinava entre os destroços. Era um choro.
Me aproximei devagar, meus passos leves para não alertar qualquer criatura nas proximidades. O som vinha de uma das casas parcialmente destruídas. Espreitei pela janela quebrada e vi uma garota.
Ela estava encolhida no canto da sala, o rosto sujo de fuligem e lágrimas. Sua aparência era deplorável: roupas rasgadas, marcas de arranhões pelo corpo e olhos que transmitiam puro desespero.
— Que merda é essa? — murmurei para mim mesmo.
Pensei em ir embora. Eu não precisava de companhia. Ela seria apenas um peso morto. Mas algo nela me fez hesitar. Talvez fosse a expressão em seus olhos, aquela mistura de medo e esperança.
Eu entrei.
— Ei. — Minha voz ecoou no pequeno espaço, fazendo-a se encolher ainda mais.
— N-não chegue perto! — ela gritou, segurando um pedaço de vidro como se aquilo fosse suficiente para me deter.
Eu ri. Um riso frio e sem humor.
— Relaxa, se eu quisesse te matar, você já estaria morta.
Ela me olhou, confusa, mas não abaixou sua "arma". Eu me aproximei devagar, mantendo as mãos visíveis.
— Qual é o seu nome? — perguntei, tentando parecer menos ameaçador.
— A-Ayumi... — ela respondeu, a voz mal saindo.
— Ok, Ayumi. Escuta, você vai morrer aqui sozinha. Esses monstros não vão te dar uma segunda chance. Mas eu posso.
Ela franziu a testa, claramente desconfiada.
— Por quê?
Essa pergunta me pegou de surpresa. Por quê? Eu não precisava dela. Ela não tinha nada a oferecer. Então por que eu estava ali? Talvez porque, no fundo, eu soubesse que precisava de alguém.
— Porque eu quero. E meu querer é suficiente.
Houve um silêncio longo e desconfortável antes que ela finalmente soltasse o pedaço de vidro e começasse a chorar novamente. Não sei por que, mas aquela cena me irritou.
— Chega de choro. Levanta.
Ela hesitou, mas obedeceu. Quando ficou de pé, percebi como ela era frágil. Se eu não tivesse aparecido, ela estaria morta em questão de horas.
— Vamos.
— P-para onde? — ela perguntou, a voz ainda trêmula.
— Para onde eu quiser.
Ayumi era uma sobrevivente, mas claramente não sabia o que estava fazendo. Enquanto caminhávamos, ela tropeçava a cada dois passos, seus olhos constantemente procurando algo para se agarrar.
— Você vai precisar melhorar, ou vai ser comida de Karrash antes do próximo pôr do sol.
— Eu... Eu vou tentar.
— Tentar não é suficiente. — Minhas palavras eram frias, mas eu não tinha tempo para sentimentalismos.
Quando um grupo de Karrash apareceu, ela congelou. Eu, por outro lado, movi-me com eficiência. Minha lâmina, agora mais refinada graças ao "Desejo Creator", cortava os monstros com facilidade. Ayumi assistia em silêncio, seus olhos arregalados enquanto eu exterminava cada um deles.
Quando o último caiu, me virei para ela.
— Se você vai andar comigo, vai ter que aprender a lutar.
— Eu... Não sei se consigo.
— Então morra. — Minhas palavras foram duras, mas necessárias. — O mundo não vai esperar você se sentir pronta.
Ela ficou em silêncio, mas pude ver algo mudar em seus olhos. Uma faísca de determinação.
Nos dias seguintes, comecei a treiná-la. Primeiro, coisas simples: como segurar uma arma improvisada, como se esconder, como identificar os sons dos Karrash. Ela era lenta, desajeitada, mas aprendia.
Eu também aprendi algo sobre ela. Apesar de sua aparência frágil, Ayumi tinha uma vontade de ferro. Ela não reclamava, não chorava mais. Cada ordem que eu dava, ela obedecia sem hesitar.
E então, aconteceu.
Estávamos sendo perseguidos por um Karrash maior do que qualquer outro que eu havia enfrentado. Minha lâmina não era suficiente, e eu estava ficando sem energia. Ayumi, que até então só havia observado, fez algo inesperado.
— Ei, monstro! — ela gritou, atraindo a atenção da criatura.
Antes que eu pudesse reagir, ela correu para o lado oposto, distraindo o Karrash tempo suficiente para que eu pudesse recuperar minha energia.
— Criar: Lança Explosiva.
O projétil surgiu em minhas mãos, brilhando com uma energia pulsante. Mirei e joguei com todas as minhas forças. A explosão que se seguiu foi devastadora, reduzindo o Karrash a pedaços.
Quando a poeira baixou, Ayumi estava caída no chão, ofegante, mas viva.
— Você é louca, sabia? — eu disse, ajudando-a a se levantar.
Ela sorriu, um sorriso tímido, mas genuíno.
— Só fiz o que você faria.
Aquela resposta me pegou de surpresa. Por um momento, fiquei sem palavras.
— Bom trabalho, Ayumi.
Naquele momento, percebi que ela não era apenas um peso. Ela era uma aliada.
E, pela primeira vez, eu não estava sozinho.
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Atualizado até capítulo 41
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