Capítulo 3: Sobreviva.

 Embaixo da terra, em uma grande caverna com muitos caminhos ramificados, como um grande formigueiro, um pequeno ser se destaca em meio ao cenário de rochas e terra.

 Uma pequena raposa, cujo os pelos da cauda até as orelhas são completamente brancos, se encontra em frente a um pequeno lago dentro da caverna, uma grande possa formada pela água que respinga.

 A raposa fica ali, parada de forma estática olhando para o seu próprio reflexo. Em certo momento, ela começa a se mover lentamente, enquanto continua a encarar a si mesma na água, ela anda para um lado e depois para outro, para no fim, apenas se jogar no chão do nada:

 - (Ok, vamos rever os fatos. Eu tive um sonho misterioso com uma mostro esquisito, sofri um acidente de carro e provavelmente morri, e agora estou no meio de uma caverna escura na forma de uma raposa... Eu ainda não consigo acreditar).

 Após alguns segundos jogado no chão, a raposa se levanta, bebe um pouco de água e depois começa a andar calmamente a beira do lago:

 - (Supondo que nada daquilo foi um sonho, eu posso supor que isso aqui tem relação com a tarefa que aquela coisa me deu, ao menos é a conclusão mais lógica nessa situação).

 Nesse instante, a mente dele se preenche com lembranças da criatura estranha que ele conheceu:

 - (Aquela coisa falou sobre a dor do acidente, ela sabia que aquilo ia acontecer, então foi ela que causou aquilo?... Eu não me lembro de ter entrado no carro, ela também disse que aquilo estava acontecendo dentro de mim, mas não na minha mente... Na alma? Talvez).

 De repente, um som vindo ao fundo da caverna chama a atenção a raposa. Ele olha ao redor, mesmo no escuro, ele percebe que sua visão é muito boa, mas nem tanto. Ao focar um pouco, ele vê uma coisa se mexer em uma passagem na parede, um vulto.

 Instintivamente, ele começa a correr em direção a uma outra passagem estreita na parede. Um som de algo se movendo vem do fundo da caverna, como se algo tivesse começado a correr também. A raposa acelera seu passo, enquanto o som logo atrás vai ficando cada vez mais intenso:

 - (Mais rápido! Vamos!)

 O som já está quase em cima dele, mas então ele salta e entra direto na passagem. Ele se vira e olha para trás, logo um focinho de um animal entra dentro da estreita passagem, rugindo mordendo para todos os lados tentando pegá-lo, mas ele apenas vai um pouco mais para trás para sair do alcance da fera:

 - (Essa foi por pouco. Caramba, essa coisa enorme, ele só consegue colocar o focinho aqui... Agora eu vou ver se encontro uma saída que não seja essa aí) - ele diz em sua mente, se virando e andando para mais fundo na passagem.

 .

 - (Parando pra pensar, essa passagem é bem estreita, mas eu consigo andar normalmente com uma raposa aqui, ou seja, eu sou uma raposa muito pequena...).

 Esse pensamento faz com que ele se sinta instantaneamente desmotivado, ele decide descansar um pouco, afinal ele já estava caminhando a alguns minutos. Ele se encolhe e se deita, deixando apenas a sua mente trabalhar agora:

 - (Por que eu estou aqui?... Claramente foi aquela coisa, mas não acho que foi ela que me matou. Baseado nos meus últimos segundos, sofremos um acidente de carro, mas eu não me lembro de entrar no carro. Talvez enquanto estava jogando com ela, o meu corpo deve ter se movido sozinho, ou ela deve ter o controlado, aí me fez assumir o corpo nos últimos segundos, mas isso foi de propósito, afinal o tempo não parecia passar quando eu estava com ela, então ela controlou isso também).

 Os pensamentos do rapaz continuam a voar, até que ele ouve um som bem baixo a sua frente. Imediatamente ele se levanta e assume uma postura defensiva, ao menos é o que ele tenta, afinal esse corpo ainda é estranho para ele.

 Com a sua visão aguçada, ele acaba vendo que são apenas insetos, formigas, besouros, baratas. Ele as encara com seriedade, enquanto elas vão até ele, mas então, em um ato completamente inesperado, ele se abaixa e come uma formiga.

 Ele a mastiga sem ter nojo, parecendo não se importar com nada. Depois ele a engole e olha para os outros insetos:

 - (Hum, é amargo, muito amargo, mas não é ruim, eu também sou uma raposa agora, acho que não vou ter problemas de saúde por isso).

 A raposa se abaixa novamente e come mais uma:

 - (Isso pode ser nojento, mas na minha situação atual, recusar comida tá fora de questão).

 .

 Passados alguns minutos, ele já avia acabado com todos os insetos que tinha visto em sua frente, agora ele volta a se deitar enquanto usava suas garras para tentar tirar algumas pernas de barata do dente:

 - (Curioso, o gosto é péssimo, mesmo assim eu comi com bastante gosto, em uma situação normal, acho que eu vomitaria. Talvez isso tenha a ver com esse corpo e como ele sente o sabor. Eu já percebi as diferenças, minha visão, audição, tudo tá diferente, melhor na verdade, embora que parece váriar um pouco, tem horas que melhora e outras que piora).

 A pequena raposa se encolhe novamente, cobrindo seu corpo com sua calda:

 - (Estamos no fundo da terra, mesmo assim eu não sinto frio, provavelmente é outro benefício desse corpo).

 Ele para e começa a olhar para o nada em silêncio:

 - (Eu fui reencarnado... Por isso aquela coisa disse que se eu recusasse o favor ia morrer, porque eu já tava morrendo no mundo real, essa outra vida é só um jeito de continuar vivo dentro dos limites do acordo).

 - “Hum, é difícil dizer, podemos dizer que seus talentos e capacidades de agora serão irrelevantes para realizar a minha tarefa, exceto por aquele dentro do seu celebro, logo, sua inteligência, somado com mais alguns fatores” - outra das falas da criatura que vem à mente dele.

 - (Todos os talentos não relacionados a minha mente não importam? Isso porque eu ia acabar perdendo todos ao trocar de corpo, agora faz sentido... Que droga, o pior é que eu nem tenho tempo pra pensar nesse tipo de coisa, tenho que começar a me mexer se quiser sobreviver).

 Logo ele se levanta e volta a caminhar para mais fundo no túnel, seguindo sem parar dessa vez.

 Em mais alguns minutos, ele consegue literalmente ver o fim do túnel. Ele segue em direção e depara com uma saída de túnel, embora ele ainda esteja dentro da caverna, mas o importante é que ele conseguiu sair:

 - (Hum, e agora... Bom, essa é uma caverna, não sei ao certo se é uma abaixo da terra ou dentro de uma montanha, mas seguindo a lógica, o melhor jeito de sair é subindo).

 (Sons vindos da caverna) - alguns barulhos como sons de asas, passos e goteiras podem ser ouvidos pela raposa:

 - (Mesmo assim, eu sou só um filhotinho abandonado, como que eu vou sair andando por aí sem acabar sendo morto, isso se eu não morrer de fome ou desidratação antes) - a cada pensamento, ele começa a ficar ainda mais pessimista.

 De repente, ele ouve um som perto dele. Novamente ele fica em uma posição armada, mas assim que a criatura chega mais perto, ele repara que é apenas um tipo rato. Ele encara o animal passando, movendo uma ideia perigosa em sua mente:

 - (Bem, eu já comi barata, não é um rato que vai fazer eu voltar atrás agora. Estamos no fundo de uma caverna, então ele não deve ter nenhuma doença).

 Ele pensa em sair do buraco enquanto continua a olhar para a criatura, mas de repente a vista dele fica esquisita, como se um brilho estivesse saindo do rato. Logo ele recua um pouco e esfrega seus olhos com as patas:

 - (Os meus estão estranhos, parecia um borrado, ou eu tô imaginando coisas).

 Agora ele olha para o rato de novo e mais uma vez ele vê uma luz na pequena criatura, mas não como se fosse um tipo de vaga lume, é como se fosse uma espécie de energia dentro do animal. Tal visão o deixa pasmo:

 - (Que coisa é essa? São como veias, mas...de luz? É assim que as raposas veem o mundo, ou isso é algo que só eu tenho?... Não, foco, eu não posso me atrasar, tenho que matá-lo antes que...)

 Em um instante, uma criatura surge das sombras e abocanha o rato, o matando instantaneamente. Essa visão deixa o rapaz parado com uma cara de taxo:

 - (Dei mole...).

 Ele fica ali parado vendo a cena, mas algo acaba chamando a atenção dele. O rato, que agora está morto e sendo comido pela criatura não tem mais aquele brilho de antes:

 - (Assim que ele morreu, a luz dele sumiu, talvez esteja ligado com a vida dos seres. Já aquela coisa comendo-o, tem uma luz muito forte, não sei o porquê, mas chega a dar medo, mas que animal é esse?)

 Com curiosidade, ele começa a focar sua visão na criatura devorando o rato, ele ainda não se acostumou bem com essa coisa de enxergar no escuro, por isso não consegue ver tão bem, mas assim que ele finalmente consegue ver, ele fica duas vezes mais pasmo do que antes:

 - (Aquilo... é uma aranha gigante!... Ela é duas ou três vezes maior que eu... Mesmo que eu seja um filhote, não faz sentido uma coisa dessas!).

 Ele assiste com atenção aquela aranha de talvez um metro e meio devorar de forma frenética o animal, até não restar nada, além do sangue do rato que respingou no chão. O jovem assistia isso com uma expressão de surpresa:

 - (Mais que lugar é esse onde vim parar?)

 (Som).

 Um pequeno barulho de cascalho faz a aranha voltar sua atenção para os lados, fazendo com que o rapaz ficasse parado para não fazer barulho. A aranha parece olhar ao redor por tempo, mas em pouco tempo, ela volta a andar lentamente com suas oito patas enormes cobertas de sangue de rato.

 A raposa assistia essa cena segurando até mesmo a respiração, mas assim que ele viu que a criatura tinha sumido, ele voltou a respirar normalmente:

 - (Acho melhor eu procurar outra passagem, tinha algumas ramificações dentro do túnel, vou procurar uma que de em um lugar mais seguro).

 Sem nem mesmo ter saído do túnel, ele se vira e volta a andar por dentro dele, seguindo a fundo novamente, mas dessa vez, ele não anda com calma, o rapaz anda de forma apressada, parecendo inquieto.

 .

 - (Fala sério! Fala sério! Aranhas daquele tamanho não existem! É simplesmente absurdo, não importa onde no mundo, é impossível um inseto daquele tamanho existir, a menos que estivéssemos na pré-história, mas isso também não faria sentindo, visto que eu sou uma raposa comum da atualidade).

 Conforme os pensamentos passam pela mente dele, de certa forma, ele sente que está recuperando o controle da situação através de sua compreensão, mas isso ainda não muda o sentimento de incerteza que está o corroendo nesse momento:

 - (Hum, eu estou em um lugar hostil, aparentemente sem nenhum tipo de intervenção humana. Posso supor que os animais daqui são naturais, o que me leva a crer... que eu não estou na terra, talvez seja outro planeta, ou dimensão. A coisa que me trouxe aqui parece ser um tipo deus capaz de controlar o destino da minha alma, então até que faz sentindo pensar nisso).

 Após sua recente conclusão, ele se retira de sua própria mente, voltando seu foco para o mundo sombrio que agora o cerca. Pensamentos podem trazer a ele conforto, mas não a sobrevivência, essa é uma verdade difícil que ele finalmente está podendo perceber:

 - (Não, chega disso, chega de ficar tentando entender as coisas, agora eu sou um animal, sobreviver é tudo, o resto não importa, o importante é sobreviver! Lutar para sobreviver... Lutar? E pensar que eu dia eu realmente chegaria a esse ponto) - ao proclamar um objetivo em sua mente com confiança, ele começa a correr.

 Seguindo a lógica de que mais para cima deve ter uma saída, ele começa correr pelos túneis, fazendo o possível para passar por aqueles que o levam para o mais alto.

 A corrida durou muito tempo, tempo o bastante para ele começar a sentir sede, reforçando ainda mais a urgência da sobrevivência em seu coração. Quanto mais sobe, mais parece não ter fim, mas ele, sendo a pessoa lógica que é, entende que voltar não é uma opção:

 - (Mais um pouco, mais um pouco...) - ele repetia para si mesmo, enquanto ficava matando constantemente a incerteza dentro dele.

 .

 A corrida se seguiu por muito tempo, mas logo ele viu:

 - (Uma luz!) - literalmente uma luz.

 A toda velocidade, ele correu na direção da luz no fim do túnel, até que, já bem cansado de sua longa corrida, ele chega perto da beira da abertura, mas ao invés de já pular para fora, ele decide ser consciente, e se espreitar um pouco, para primeiro ver o que tem ali:

 - (Estranho, essa luz é intensa, muito intensa, talvez seja o lado de fora).

 Com cuidado, ele se espreita até a borda da passagem, assim ficando na beira para ver o que tem ali, mas a visão acabando roubando as palavras dele por alguns instantes. O que ele vê ainda é uma caverna, mas por toda a parte dela tem minérios semelhantes a cristais, todos de tamanhos variados e que brilham como lâmpadas intensas, iluminando todo o lugar.

 A pequena raposa olha para essas padras que emitem as mais diferenciadas cores, um lugar belo e iluminado, gerando um contraste enorme com aquele inferno sombrio logo abaixo:

 - (Eu definitivamente não estou na terra).

 Continua...

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Comments

kitsune kumara

kitsune kumara

comparado com a shiro que já reencarnou na adrenalina isso é fichinha

2025-01-12

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