Cap. 14

Rafaela se virou para Nicolas tentando manter a compostura, mas era como se todas as lembranças da noite que passaram juntos estivessem à flor da pele. Seus olhos encontraram os dele, vendo surpresa, nostalgia e uma curiosidade intensa.

_Eu mudei... O tempo faz isso com as pessoas… Disse Rafaela. _ Você também mudou…

Nicolas a observava com atenção. Rafaela havia mudado, sim, mas os traços que ele lembrava estavam todos ali, emoldurados por uma maturidade e confiança que o desarmava.

_ Sim, mas… algumas mudanças fazem bem, e são difíceis de ignorar…

Rafaela desviou o olhar, sentindo o calor tomar o seu rosto. Ela não sabia o que dizer, mas antes que a tensão aumentasse, Francesca retornou com o buquê já em um vaso bonito.

_Pronto! Estas flores ficarão lindas na sala. Disse, alheia ao clima carregado entre os dois. _Rafaela, já que está aqui, por que não fica para um café? Fiz bolo, cannoli, e a focaccia acabou de sair do forno, está quentinha. Será um prazer ter a sua companhia. Convidou Francesca.

Rafaela hesitou, sentindo o peso do olhar de Nicolas sobre ela, e ele com um sorriso, afastou-se um pouco, mas ainda incapaz de desviar completamente o olhar de Rafaela. Ela, por sua vez, sentiu como se o chão estivesse menos firme sob seus pés, e tudo o que queria naquele momento era recuperar o controle sobre suas emoções.

_Eu não quero atrapalhar… Rafaela sorriu educadamente, tentando esconder o nervosismo que começava a tomar conta dela.

_Não diga isso, querida! Francesca insistiu, segurando a mão de Rafaela, com a típica ternura que tornava impossível recusar qualquer pedido. _A casa está sempre aberta para você, e eu adoraria que vocês se conhecessem melhor, e se você não gostar de café, podemos abrir uma boa garrafa de vinho tinto.

Rafaela conseguiria dizer não.

_Bem... nesse caso, eu aceito o convite. Obrigada, Francesca.

_Maravilha!  Francesca sorriu começando a organizar a mesa para três.

Nicolas não conseguiu conter um sorriso discreto. Ele sabia que aquela poderia ser a oportunidade de falar com Rafaela sobre o que aconteceu passado.

Rafaela viu o olhar de Nicolas sobre ela intenso e analítico, como se tentasse decifrá-la por completo. Mesmo assim, ela manteve o sorriso, determinada a não deixar que ele percebesse o efeito que ainda tinha sobre ela.

Rafaela seguiu a anfitriã até a sala, sentindo as costas queimarem sob o olhar de Nicolas, que a acompanhava em silêncio. O sorriso educado que ela exibia parecia cada vez mais difícil de sustentar, enquanto sua mente tentava desesperadamente encontrar uma forma de se proteger das emoções que ameaçavam transbordar.

Nicolas observava como Rafaela interagia com a avó. A gentileza em sua voz, o brilho no olhar, tudo nela parecia diferente, mais refinado, mas ainda havia algo que permanecia intacto: a essência que sempre o atraíra de forma inexplicável, mesmo quando ele implicava com ela.

Enquanto Francesca ajustava os últimos detalhes na mesa, Nicolas viu sua chance. Ele se aproximou de Rafaela, que estava de pé, observando a decoração acolhedora do apartamento.

_Rafa... Nicolas chamou, sua voz saindo baixa, quase rouca.

Ela se virou para ele, seus olhos grandes e expressivos encontrando os dele mais uma vez. Ele notou um leve tremor em suas mãos.

_Nicolas… Rafaela respondeu. _Acho que você tem algo para me dizer, não é?

Nicolas arqueou as sobrancelhas, surpreso com a assertividade dela, mas afinal, era Rafaela que sempre conseguia surpreendê-lo, e sempre soube como desarmá-lo, mesmo sem muito esforço.

_Tenho muitas coisas para dizer… Admitiu Nicolas, com um sorriso nervosoe. _Só não sei por onde começar.

Rafaela cruzou os braços, como se tentasse criar uma barreira entre eles. Mas seus olhos a traíam.

_Talvez seja melhor não começar... Rafaela Sugeriu. _Afinal, o que passou, passou, não é?

Nicolas inclinou a cabeça ligeiramente, como se estivesse estudando cada palavra dita por ela.

_Será? Ele deu um passo à frente, reduzindo a distância entre eles. _Porque, sinceramente, eu não acho que tenha passado. Pelo menos não para mim.

Rafaela ficou em silêncio, com o coração batendo tão forte que ela temia que Nicolas pudesse ouvir. Antes que pudesse responder, Francesca surgiu novamente na sala, interrompendo o momento com sua alegria contagiante.

_Vocês dois, sentem-se! O café está servido, e ninguém sai daqui até provar os meus cannoli.

O convite de Francesca trouxe um alívio momentâneo para Rafaela, que rapidamente se sentou, tentando evitar o olhar de Nicolas. Mas, ao sentir a cadeira ao lado ser ocupada por ele, percebeu que aquela conversa estava longe de terminar.

Durante o café, Francesca não escondia o orgulho ao falar sobre Rafaela querendo despertar interesse no neto, sem saber que não precisava.  A conversa fluía animada, e Nicolas mantinha a postura reservada, atento a cada palavra dita.

_A Rafaela é tão determinada, bambino. Elogiava Francesca, servindo mais um pedaço de bolo para eles. _ Você sabia, Nicolas, que ela tem uma empresa de eventos?

_É mesmo? Perguntou Nicolas casualmente, mas algo em sua expressão sugeria que estava prestando mais atenção do que deixava transparecer.

_Sim! Ela e a sócia… Rafaela, qual é o nome da sua amiga? Ela é tão simpática, mas sempre me esqueço como ela se chama. Perguntou Francesca.

_ Ela se chama Ava.

_ Sim, Ava. Elas  fazem um trabalho incrível. Organizam os maiores eventos da cidade. Se você já foi a um lugar bem decorado e bem planejado, é provável que tenha sido obra delas.

Nicolas olhou para ela lembrando-se de Ava, a colega de escola que era amiga de Rafaela. Ele também se lembrou de ter visto Ava no evento que esteve naquela semana, coordenando discretamente a equipe. A memória o atingiu como um raio: se Ava estava lá, era possível que Rafaela também estivesse e que talvez eles tivessem se cruzado.

Ele a olhou de canto de olho. Rafaela, no entanto, parecia alheia à conclusão que ele havia chegado.

_Parece que vocês estão fazendo um ótimo trabalho. Nicolas comentou tentando fazer com que ela falasse com ele.

_Fazemos o que amamos, isso ajuda bastante. Rafaela disse sem olhar para ele.

Nicolas concordou, mas sua mente estava a mil. A imagem de Rafaela passando despercebida em meio à multidão, talvez observando tudo de longe, o deixou inquieto se perguntando como ele não havia percebido a sua presença, havia apenas sentindo o cheiro dela.

Francesca interrompeu seus pensamentos com outro comentário animado, mas Nicolas mal ouvia. O café continuou, mas sua mente estava presa à ideia de que, mesmo sem saber, Rafaela já havia cruzado seu caminho novamente. E isso, de alguma forma, parecia muito mais do que uma coincidência.

Quando Rafaela conseguiu se despedir para ir embora, já era noite.

_Foi uma tarde maravilhosa, Francesca. Obrigada pelo café e pela hospitalidade. Agradeceu com um sorriso caloroso.

Francesca segurou suas mãos com ternura.

_A porta está sempre aberta para você, querida. Espero que volte mais vezes.

Rafaela sorriu, e sabia que precisava se afastar, antes que as emoções a dominassem. Ela Pegou sua bolsa e se dirigiu à porta. Nicolas, que até então mantivera-se em silêncio observando, levantou-se subitamente.

_Eu a acompanho até a porta. Disse mais como uma decisão do que uma oferta.

Francesca sorriu, satisfeita notando o interesse dele.

_Que gentil da sua parte, Nicolas. Cuide bem da nossa Rafaela.

Rafaela engoliu em seco, mas não tinha como recusar sem parecer rude. Apenas acenou, tentando parecer indiferente.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***