capítulo 4: O Lado Oculto

Capítulo 4: O Lado Oculto

A noite estava mais silenciosa do que o normal, mas Emily sentia tudo ao seu redor com uma clareza quase desconcertante. O som distante de passos, o farfalhar das folhas, até mesmo o cheiro de pão fresco da padaria pareciam mais intensos.

Deitada na cama, ela encarava o teto, os pensamentos a mil. As palavras de Sofia e Layla ecoavam em sua mente. "Você nasceu para isso." Como poderia ser verdade? Tudo que ela conhecia sobre si mesma parecia uma mentira.

O calor que a consumira na floresta agora estava mais brando, mas pulsava como uma brasa viva em seu peito. Algo dentro dela despertava, algo que ela não entendia – e temia.

De repente, um som no lado de fora chamou sua atenção. Passos leves, mas determinados, aproximavam-se da janela. Emily levantou-se devagar, o coração disparado.

— Quem está aí? — ela perguntou em um sussurro, espiando pela janela.

No escuro, uma figura alta e magra apareceu. Seus olhos dourados brilharam sob a luz da lua.

— Layla? — Emily abriu a janela com cautela.

— Precisamos conversar — disse a alfa, sua voz baixa, mas séria.

— Agora? — Emily olhou para os lados, temendo que alguém na vila visse.

— Não temos muito tempo — insistiu Layla.

Relutante, Emily se vestiu rapidamente e saiu pela porta dos fundos da padaria. Layla estava esperando na sombra de uma árvore.

— Por que você está aqui? — perguntou Emily, cruzando os braços.

Layla parecia hesitante, o que surpreendeu Emily. A alfa sempre parecia tão confiante.

— Há algo que você precisa saber... algo que Sofia achou melhor esperar, mas eu discordo.

Emily arqueou uma sobrancelha.

— O quê?

Layla respirou fundo antes de responder.

— A razão pela qual você nunca sentiu seu cheiro. Não é porque você é fraca ou defeituosa, como essa vila tentou fazer você acreditar. É porque alguém te privou disso.

Emily sentiu as palavras atingirem como um soco.

— Como assim?

— Existe uma magia antiga, proibida, que pode suprimir a verdadeira essência de alguém — explicou Layla. — Nós acreditamos que isso foi feito com você, quando ainda era uma criança.

Emily deu um passo para trás, balançando a cabeça.

— Isso não faz sentido. Quem faria isso? Por quê?

Layla hesitou, mas sua expressão era firme.

— Para te esconder. Para impedir que você assumisse seu lugar como Suprema Luna.

Emily sentiu as pernas fraquejarem.

— E vocês têm certeza disso?

Layla assentiu.

— Sofia conseguiu rastrear vestígios dessa magia em você. É sutil, mas está lá. E agora que sua verdadeira natureza está emergindo, os efeitos estão enfraquecendo.

Emily queria negar, queria dizer que tudo aquilo era loucura, mas, no fundo, algo fazia sentido. O calor, o cheiro, o vínculo inexplicável com Sofia e Layla...

— Então... o que isso significa?

Layla deu um passo à frente, sua voz suave.

— Significa que sua essência está voltando, mas também que aqueles que fizeram isso com você podem perceber. E eles não vão deixar você tomar seu lugar sem lutar.

Emily sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

— E quem são eles?

— Não sabemos ao certo ainda, mas eles têm olhos e ouvidos em todos os lugares. É por isso que você precisa aprender a se proteger — disse Layla, a intensidade em sua voz aumentando.

Emily olhou para as próprias mãos, tentando processar tudo.

— Como eu faço isso?

Layla sorriu levemente.

— Confie em nós. Vamos te ajudar.

Antes que Emily pudesse responder, um uivo soou ao longe. Seu corpo reagiu instantaneamente, um arrepio percorrendo sua pele.

Layla virou-se na direção do som, o olhar afiado.

— Sofia está nos chamando. Precisamos ir.

Emily hesitou.

— Ir para onde?

Layla estendeu a mão.

— Para a verdade.

Com o coração batendo descontroladamente, Emily pegou a mão de Layla.