Tudo que Eu Precisava Era Você
O COMEÇO DA VIOLÊNCIA
Quando Camila conheceu Matias, ele era encantador. Um homem que sabia o que dizer para fazê-la se sentir especial, que lhe trazia flores nos primeiros encontros e ouvia seus sonhos com genuíno interesse.
Ou, pelo menos, era o que parecia. O primeiro ano juntos foi tranquilo, até que surgiram os pequenos sinais:
Uma crítica aqui, um comentário depreciativo ali. Ele começou a controlar suas roupas, dizendo que " certas coisas não eram apropriadas".
Em seguida, vieram os questionamentos sobre suas amizades, alegando que " essas pessoas não querem seu bem".
Camila ignorou os alertas de Clara, sua amiga de infância, que a avisava sobre o comportamento possessivo de Matias.
A primeira agressão física aconteceu dois anos após o início do relacionamento, uma noite após um jantar com amigos.
Matias havia bebido demais e, no carro, começou a discutir porque Camila sorriu para um colega de trabalho durante a conversa.
Matias
VOCÊ ACHA QUE EU SOU IDIOTA?
Matias
ACHA QUE NÃO VI COMO VOCÊ OLHOU PARA ELE?
Camila tentou argumentar, explicar que era apenas uma conversa inofensiva, mas ele perdeu o controle.
No estacionamento de casa, Matias a empurrou contra a porta do carro, segurando-a pelo braço com tanta força que deixou marcas.
Matias
Nunca mais me desrespeite assim, Camila
ele disse, antes de soltá-la e sair do carro.
Ele ficou ali por alguns minutos, em choque. Naquela noite, ele se desculpou. Disse que estava estressado, que não sabia o que havia dado nele.
Prometeu que nunca mais faria aquilo. Camila quis acreditar.
No início, era apenas empurrões ou apertos de braço, mas logo ele começou a bater de verdade. Uma vez, ao voltar tarde do trabalho, ele a acusou de estar mentindo sobre onde estava.
Camila tentou explicar, mas Matias a atingiu com um tapa no rosto, tão forte que ela caiu no chão.
Matias
VOCÊ ACHA QUE PODE BRINCAR COMIGO?
ele gritou, enquanto ela se encolhia no chão, chorando.
Com o tempo, as desculpas e promessas pararam. Ele não precisava mais fingir arrependimento, porque sabia que ela estava com medo demais para ir embora.
Camila começou a usar roupas de mangas longas para esconder as marcas e evitava sair de casa sem a permissão de Matias.
Camila aguentou três anos de abusos, vivendo em um ciclo interminável de violência, medo e esperança de que ele mudasse.
Durante esse tempo, ela tentou encontrar formas de escapar, mas sempre hesitava. O Medo de ser pega, de não ter para onde ir, ou de Matias cumprir suas ameaças de machucar Clara ou sua própria família, a mantinham presa.
Uma noite, porém, algo mudou. Matias chegou bêbado em casa e, sem motivo aparente, começou a gritar com Camila, acusando-a de escondê-lo algo.
Ele jogou um prato na parede e a segurou pelo cabelo, forçando-a a olhar para ele enquanto vociferava insultos.
Matias
VOCÊ NÃO É NADA SEM MIM!
Matias
SE TENTAR ME DEIXAR, EU VOU TE ENCONTRAR, SEMPRE!
Quando ele finalmente a soltou, Camila ficou encolhida no chão da cozinha. Mas, naquela noite, algo dentro dela quebrou.
Ela percebeu que se ficasse, ele acabaria matando-a. Foi então que começou a planejar a fuga.
Ela passou semanas juntando coragem e escondendo pequenas quantias de dinheiro. Pediu ajuda a Clara, que arriscou sua própria segurança para ajudá-la a escapar.
[ Santana do Livramento ]
Camila estava no pequeno quarto do abrigo, dobrando as roupas recém-lavadas, quando o telefone vibrou em cima da cama. Era uma mensagem de Clara.
clara
*Preciso falar com você. É URGENTE.*
Seu coração disparou. Clara sabia que não devia enviar mensagens alarmantes sem motivo. Ligou imediatamente.
Camila
Clara, o que aconteceu?
perguntou, a voz baixa, mas urgente.
Do outro lado da linha, Clara suspirou, tensa.
clara
É o Matias. Ele está em na cidade.
clara
tenho quase certeza.
Camila apertou o telefone com mais força, como se aquilo pudesse conter o pânico que ameaçava surgir.
clara
Ele esteve aqui em Rivera, perguntando sobre você.
clara
Não disse nada diretamente, mas ouvi ele mencionando a cidade para um dos taxistas.
clara
você precisa ser cuidadosa.
Camila respirou fundo, Tentando manter a calma.
Camila
Ele sabe onde eu estou?
clara
Mas é só questão de tempo até ele descobrir o abrigo.
clara
Ele é persistente, Camila. Você precisa sair daí.
Camila fechou os olhos por um instante. Fugir de novo? Não. Ela tinha prometido a si mesma que não viveria mais com medo.
Camila
Não posso fugir toda vez que ele chegar perto
Camila
Dessa vez, vou ser mais esperta que ele.
Nos dias seguintes, Camila mudou completamente sua rotina. Parou de frequentar os lugares que costumava ir, evitou horários previsíveis e começou a observar tudo ao seu redor com atenção dobrada.
Teresa percebeu sua inquietação e ofereceu ajuda, mas Camila preferiu não contar tudo.
Sabia que, se Matias aparecesse, ela teria que agir sozinha.
Uma tarde, enquanto voltava do trabalho na fábrica de confecção, Camila viu algo que congelou seu sangue.
No outro Da rua, O Homem Alto hede de ombros largos, com o Mesmo andar pesado que ela Conhecia tão bem, Estava parado perto de o mercado, olhando ao redor. Era Matias.
Camila não hesitou. em vez de correr ou Demonstrar qualquer sinal de Reconhecimento, Virou à direita, entrando casualmente em uma rua Lateral.
Passou por uma loja de roupas, fugindo olhar a vitrine, e usou o reflexo do vidro para acompanhar os movimentos dele.
Matias parecia confuso, olhando ao redor como se estivesse à procura de alguém.
Ela sabia que não podia ir diretamente ao abrigo. Seria o primeiro lugar que ele investigaria se a visse.
Então, Camila pegou seu telefone e mandou uma mensagem rápida para Teresa:
Camila
* Preciso de um lugar seguro por algumas horas.*
Camila
* Me avise quando puder. *
Sem resposta imediata, ela continuou andando, entrando em um café pequeno e se sentando em um canto discreto, de onde podia observar a rua.
Pediu um chá, embora não estivesse com fome ou sede, e esperou.
Camila sabia que precisava confundir Matias, fazê-lo acreditar que ela não estava mais na cidade.
Após se certificar de que ele havia saído da rua principal, foi até uma lan house próxima e enviou uma mensagem para o número de Clara, mas de um e-mail anônimo:
Camila
* Vi Camila indo para porto alegre. Ela estava perguntando sobre ônibus para lá *
Era arriscado, mas Camila sabia que Matias cairia na armadilha. Ele confiava em pistas que achava que podia manipular, Porto Alegre era uma cidade grande o suficiente para que ele acreditasse que ela tentaria Desaparecer lá.
Depois de enviar a mensagem, ela voltou ao abrigo, onde Teresa a esperava com preocupação.
Teresa
•Matias está aqui, não é?•
perguntou, com o rosto fechado.
Camila
• Está, mas ele não vai me encontrar.•
Camila
• Preciso que ninguém comente nada sobre mim, nem mesmo que estou aqui•
Camila
Vou sair por uns dias, só até ter certeza de que ele foi embora.
Teresa
•Temos uma casa no interior que usamos para emergências.•
Teresa
• É isolada, ninguém vai te achar lá. •
Naquela noite, Camila foi levada por Teresa para a casa no interior. O lugar era simples, com paredes brancas e uma pequena varanda que dava para um campo aberto.
ali, Camila sentiu-se segura pela primeira vez em dias.
Enquanto isso, Matias, seguindo a falsa pista para Porto Alegre, deixe Santana do Livramento, convencido de que estava no caminho certo.
Camila sabia que a vitória era apenas temporária, mas cada passo dado era uma prova de sua força e inteligência.
Ela não era mais a mulher assustada que ele havia controlado por anos.
Agora, Camila tinha um plano: reconstruir sua vida, longe de Matias, e nunca mais deixar que ele a encontrasse.
Comments