Tudo que Eu Precisava Era Você
novo começo em Santana da do livramento
O céu estava tingido de dourado e rosa quando Camila chegou à periferia de Santana do livramento. A cidade, que compartilhava uma linha invisível com Rivera, no Uruguai, parecia pacata à primeira vista.
Ela sabia que aqui as línguas e culturas se misturavam, e isso a ajudava a se camuflar.
Camila puxou o casaco contra o corpo enquanto caminhava por uma rua estreita. O peso da mala na sua mão esquerda a lembrava de que tudo o que restava da sua antiga vida estava ali.
Com passos hesitantes, ela encontrou um pequeno café que começava a abrir as portas.
Camila
• posso usar o banheiro? •
Perguntou à atendente, uma senhora de cabelos grisalhos que limpava as mesas.
A mulher olho-a por um instante, avaliando-a com curiosidade, mas fez um gesto para o fundo do local. Camila entrou, trancando-se No pequeno espaço.
Ela olhou para o próprio reflexo no espelho: Os olhos estavam fundos, os cabelos bagunçados. O corte no dedo da noite anterior Ainda latejava.
Camila
{ você está aqui. você conseguiu. }
No entanto, ela sabia que há fuga era apenas o começo. Precisava deu um plano. Clara Havia mencionado um Abrigo na cidade que ajudava mulheres em situações Difíceis, mas não tinha dado detalhes.
Camila decidiu enviar uma mensagem rápida:
Camila
* cheguei. Preciso de um endereço. *
Camila
* obrigada por tudo. *
Camila
Enquanto aguardava a resposta, voltou ao salão do café. A mesma senhora Estava no balcão. Preparando um bule de café.
Luna
Perguntou, casualmente, com o sotaque português carregando um leve tom de espanhol.
Camila hesitou, mas sorriu com nervosismo.
Camila
• sim, só de passagem. •
Luna
• hum.Parecee cansada.Quer um café? •
Camila assentiu. Agradecendo baixinho. Enquanto a bebida quente aquecia as suas mãos, o telefone vibrou. Era Clara.
clara
* rua Osvaldo aranha, número 37.
clara
* pergunte por dona Teresa. Boa sorte *
O nome parecia familiar. Clara Já havia mencionado Teresa antes. Uma mulher que administrava uma casa de apoio para mulheres Em situações vulneráveis.
Camila sentiu uma faísca de esperança enquanto digitava o endereço no GPS do celular.
Ficava há alguns Quilómetros dali.
Quando Camila chegou ao endereço, encontrou uma casa simples. Mais acolhedora, com paredes amarelas e um pequeno jardim na frente.
Havia crianças brincando no quintal e uma jovem mulher Estendendo roupas no varal.
Ela hesitou antes debater na porta. Quando esta se abriu, Foi recebida pôr uma mulher robusta, com cabelos curtos e olhos que pareciam enxergar além das Aparências.
Teresa
• Você deve ser Camila •
Disse a mulher com um leve sorriso.
Teresa
• Eu sou Teresa. Pode entrar. •
Camila assentiu, surpresa, e seguiu a mulher para dentro.
Teresa não fez perguntas imediatas. Deixou Camila sentar-se em uma protona surrada Enquanto trazia o copo de água.
Apenas quando Camila começou a relaxar, Teresa puxou uma cadeira e Sentou-se a sua frente.
Teresa
• Clara Me avisou que você precisava de ajuda. •
Teresa
• Quer me contar a sua história? •
Por um momento, Camila sentiu-se congelada. As palavras pareciam pesadas demais para serem ditas.
Mas quando começou, a confissão fluiu como uma represa rompida. Contou sobre Matias, as ameaças, a violência, a fuga.
Teresa ouviu em silêncio, os olhos fixos, mas gentis.
Teresa
• você fez bem em sair •
Teresa
• Mas saiba que começar de novo não será fácil. •
Teresa
• Matias pode tentar te encontrar. •
Teresa
• você está pronta para lutar por sua liberdade? •
Camila engoliu em seco. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu que havia alguém ao seu lado.
Camila
• Estou pronta. Só não sei como •
Teresa
• Vamos te ajudar. •
Teresa
• Aqui, você pode ficar segura. •
Teresa
• Mas precisamos planejar seus próximos passos. •
Nos dias seguintes. Camila começou a se adaptar ao abrigo. Participava das tarefas diárias, ajudava outras mulheres e, gradualmente, começava a recuperar o senso de controle sobre a sua vida.
Teresa apresentou-a a um advogado local que trabalhava com casos de violência doméstica, ajudando-a entender os seus direitos no Brasil e o que poderia ser feito para protegê-la.
Apesar disso, o medo de Matias ainda pairava. Camila sabia que, se ele descobrisse onde ela estava, não desistiria facilmente.
Teresa
• Você precisa pensar num trabalho. •
Teresa
• algo que lhe dê independência. •
sugeriu Teresa uma tarde.
Teresa
• conheço uma fábrica de confeção que está a contratar. •
Teresa
• Pode ser um bom começo. •
Camila aceitou a sugestão. O trabalho era simples, costurando roupas, mas deu a ela uma sensação de normalidade que há muito não sentia.
Certa manhã, ao sair da fábrica, sentiu o coração disparar ao ver um carro estacionado do outro lado da rua.
Não era o de Matias, mas o susto a fez perceber que, apesar de estar no Brasil, sua liberdade ainda era frágil.
No entanto, Camila decidiu algo importante naquele momento:
não seria mais vítima de seu
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A garrafa de vinho rolou pelo chão, batendo contra a perna do sofá antes de parar.
Matias olhava para o teto, os olhos semicerrados e enevoados pelo álcool.
O cheiro do frango assado ainda estava na sala, mas o silêncio na casa parecia diferente naquela manhã.
Ele levantou a cabeça, o desconforto crescente se transformando em irritação.
Chamou, com a voz rouca. Não houve resposta.
Cambaleou até o quarto, chutando a porta aberta. Estava vazio. A cama arrumada, o armário entreaberto. Ele notou a falta de algo:
A mala pequena que Camila sempre guardava no canto inferior do guarda-roupa.
O vazio da casa se tornou pesado. Ela tinha ido embora.
Matias respirou fundo, Tentando controlar o Turbilhão em sua cabeça. No início, riu amargamente, como se fosse uma piada de mau gosto. Mas então a raiva começou a crescer, queimando seu peito.
Matias
Você acha que pode simplesmente me deixar?
murmurou, os punhos cerrados.
Ele pegou o celular na mesa da cabeceira e começou a ligar para ela. Nenhuma resposta. Tentou de novo, e de novo, até a voz monótona da secretária eletrônica ser tudo o que ouvia.
Matias
É isso que você quer, Camila? me provocar?
Matias dirigiu até a casa de Clara naquela tarde. Ele sabia que a mulher era a única pessoa que Camila confiava o suficiente para pedir ajuda.
Bateu na porta com força, os nós dos dedos quase rasgando a madeira.
Quando Clara abriu, o seu rosto endureceu ao vê-lo.
clara
O que você quer, Matias?
Ele perguntou, direto, os olhos ardendo.
clara
Não faço ideia do que você está a falar.
Matias deu um passo à frente, obrigando-a a recuar.
Matias
Não minta para mim.
Matias
Sei que você ajudou.
Matias
Camila não teria coragem de fugir sozinha.
Clara tentou manter a compostura, mas ele notou a tensão no seu rosto.
clara
Mesmo que eu soubesse onde ela está, não diria.
clara
Chega de controlar a Vida dela, Matias.
Ele riu, mas era um som frio, vazio.
Matias
Não se meta nisso. Clara.
Matias
Se eu descobrir que você ajudou, vai se arrepender.
Antes que ela pudesse responder, Matias girou nos calcanhares e saiu. Não precisava de Clara para saber para onde Camila tinha ido.
Ele conhecia as histórias que ela contava sobre Santana do livramento, sobre o sonho de cruzar a fronteira e Desaparecer.
No dia seguinte, Matias estava estacionado numa rua movimentada de Rivera, observando as pessoas que cruzavam a fronteira a pé.
Era um ponto conhecido por ser menos vigiado, um lugar onde quem queria escapar fazia suas apostas.
Ele ficou ali por horas, mas não viu sinal de Camila. Ligou para alguns conhecidos, incluindo um amigo que trabalhava na alfândega.
Matias
Qualquer mulher cruzando sozinha pela fronteira te chamou a atenção?
perguntou, tentando soar casual.
Eduardo
Nada fora do comum, cara.
Eduardo
Mas se souber de algo, te a aviso.
Mas Matias não era de esperar por informações. Ele começou a circular pela cidade, perguntando discretamente em hotéis baratos e pousadas.
Era como caçar uma sombra; frustrante, mas ele estava determinado. Camila não podia simplesmente evaporar.
Dias depois, Matias conseguiu uma pista. Um funcionário de um posto de gasolina mencionou ter visto uma mulher com as características de Camila entrando num carro de madrugada. O carro combinava com o que Clara dirigia.
Isso o levou até Santana do livramento. Ele começou a visitar pequenos cafés e lojas, perguntando discretamente sobre uma mulher com o sotaque uruguaio.
A resposta era sempre a mesma: ninguém sabia de nada.
Mas Matias não desistiria. Na sua mente, a fuga de Camila não era apenas uma afronta; era uma traição pessoal. Para ele, ela era sua propriedade, alguém que devia obediência e submissão.
Sentado em um banco da praça central, ele observava as pessoas passarem.
Matias
{ Ela está aqui, em algum lugar. }
Matias
{ E quando eu encontrar, vou fazê-la pagar por isso. }
Ele ouviu falar de um abrigo local que ajudava mulheres. Teresa. O nome foi mencionado em uma conversa ao acaso entre dois taxistas. Matias guardou o nome como uma arma pronta para ser usada.
Matias
{ Vamos ver quanto tempo você consegue se esconder, Camila. }
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